HiLab: teste da covid-19 está disponível no setor privado e público (HiLab/Divulgação)
Tamires Vitorio
Publicado em 25 de novembro de 2020 às 07h15.
Última atualização em 25 de novembro de 2020 às 10h35.
Apesar dos prejuízos da pandemia do novo coronavírus, o ano de 2020 trouxe diferentes oportunidades para determinados setores continuarem a crescer ou despontarem como novas tendências. No último caso, as startups do setor de saúde (chamadas simplesmente de healthtechs) viram na crise uma oportunidade para ganhar espaço em um mercado competitivo.
Foi esse o caso da HiLab (antes chamada de Hi Technologies) que está perto de faturar seus 200 milhões de reais e, neste ano, alcançou o tão sonhado breakeven --- ou "ponto de equilíbrio", quando uma empresa deixa de dar prejuízo, mas também não tem lucro.
A companhia é conhecida por fabricar testes rápidos para diversas enfermidades, como a covid-19 e nesta semana apresentará ao mercado uma versão própria do teste molecular (mais conhecido como PCR). Os testes são vendidos para farmácias e hospitais públicos e privados.
"Nossa visão e o nosso propósito sempre foi a democratização do acesso à saúde, mas agora isso deixou de ser utópico. Estamos vivendo a realização da visão da nossa empresa. Temos exames nossos sendo feitos na Avenida Paulista, na Faria Lima, nos grandes centros do Brasil, mas, ao mesmo tempo, temos nossos testes sendo feito em presídios, em comunidades, em aldeias indígenas... A mesma tecnologia usada em grandes centros também está sendo usada na Rocinha", afirma Marcus Vinícius Figueredo, presidente da startup, em entrevista exclusiva à EXAME.
Além do faturamento milionário e da missão alcançada, a companhia conseguiu atrair investidores de peso, como a americana Qualcomm, a brasileira Positivo e a gestora de capital de risco Monashees. Agora, após uma terceira rodada de investimentos, a HiLab também tem investimentos da gestora Península, fundada pelo empresário Abilio Diniz, e da Endeavor.
Para Figueredo, cada um dos investidores foi escolhido por um motivo. "Nós usamos os processadores da Qualcomm em nossos equipamentos, então fazia sentido sermos sócios. A Península foi uma escolha focada no fato de a Hi ser hoje uma empresa que tem pacientes e, no final do dia, eles são nossos consumidores --- e precisávamos aprender a atendê-los de uma forma melhor. Por isso, para nós, é muito importante ter o conhecimento da Península. E a Endeavor é por uma questão de redes de contatos", afirma.
O crescimento da empresa também é um grande atrativo para novos investidores. O crescimento mensal da Hi, em 2019, era de 30%. Hoje em dia a empresa atende a 50 vezes mais clientes do que no mesmo período do ano passado. "A gente também duplicou o tamanho da empresa. Tínhamos 100 vagas abertas em julho, e em 90 dias, nós conseguimos fechar todas", diz. A empresa saiu de 90 funcionários para 215. E deve seguir expandindo. "Foi um crescimento super acelerado para atender a demanda da covid-19, mas também para atender às consequências que a pandemia trouxe", afirma.
A Hi Technologies foi fundada como muitas outras startups: quando dois universitários se uniram para inovar na área da saúde. Em 2004, o foco da empresa era um software para monitorar o quadro dos pacientes nos hospitais. O segundo produto, um oxímetro de pulso utilizado para medir a oxigenação, foi lançado em seguida, no mesmo ano, e exportado para 15 países. Desde então a healthtech, que começou com um investimento de 2.500 reais dos fundadores, segue em expansão.
Em 2016, com o investimento da fabricante brasileira Positivo, os empresários fundaram o HiLab, que tem como principal produto os exames de sangue vendidos em farmácia. À época, eles queriam ser "o menor laboratório em todos os lugares" --- o desejo parece ter se concretizado, e a companhia está presente em mais de mil cidades espalhadas pelo Brasil. E, em 2020, mudaram oficialmente o nome da empresa.
A consultoria americana Startup Health estima que, nos primeiros seis meses de 2020, foram feitos 377 aportes em healthtechs no mundo todo, totalizando 9,1 bilhões de dólares. O número é 18% maior do que o valor investido no mesmo período do ano passado.
No Brasil, a situação é parecida. De acordo com os dados da brasileira Distrito, consultoria que faz a ponte entre grandes empresas e startups e promove eventos na área de inovação, os investimentos em healthtechs no país chegaram a 52 milhões de dólares até junho de 2020.
O valor é 37% superior aos investimentos realizados em todo o ano passado (38 milhões de reais).