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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h33.
O comércio eletrônico brasileiro faturou 1,75 bilhão de reais no primeiro semestre. A cifra é 79% maior que os 974 milhões de igual período do ano passado e equivale, também, à receita obtida pelo varejo online durante todo o ano de 2004. O valor não considera a compra de passagens aéreas, sites de leilão e automóveis. "Esperávamos bons números, mas não tão bons quanto os divulgados", afirma Manuel Matos, presidente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net).
O primeiro fator que contribuiu para o resultado foi a expansão do número de pessoas que realizam compras online. O país encerrou junho com 5,75 milhões de consumidores online, ante 4,7 milhões em dezembro de 2005. Essa expansão foi puxada sobretudo pela entrada de um maior número de consumidores da classe C nas transações online. Os compradores com renda familiar de até 3 salários mínimos passaram de 38% do total, em 2001, para 45% em junho de 2006. Enquanto isso, há uma ligeira queda na participação de todas as demais faixas de renda, segundo a pesquisa.
Há vários motivos que explicam a maior presença da classe C no varejo online. "Hoje, é mais fácil comprar um computador popular com acesso à internet, por exemplo", afirma Pedro Guasti, diretor-geral da e-bit. A maior oferta de acesso à web em quiosques públicos, escolas, centros digitais e cibercafés também ajuda. Outra razão é o avanço da internet de alta velocidade no país. Por último, grandes redes varejistas com forte presença na classe C começaram a oferecer vendas pela internet. É o caso da Pernambucanas, que inaugurou o seu site em junho.
O avanço da classe C não reduziu fortemente, porém, o tíquete médio de vendas online. No ano passado, a média gasta por compra era de 300 reais. Neste ano, a faixa ficou entre 273 reais e 297 reais, dependendo do mês considerado. Para Guasti, da e-bit, isso assinala um equilíbrio entre os compradores da classe A que, embora perdendo participação percentual, buscam artigos mais sofisticados, e as classes mais populares.
Apesar dos resultados, ainda há muito espaço para ampliar o número de consumidores online. O número de internautas brasileiros é de 32 milhões de pessoas. Desse total, cerca de 20 milhões utilizam os serviços de internet banking. "Se há uma referência, pode-se dizer que a meta é incorporar todos os usuários de internet banking ao varejo online", afirma Matos, da Camara-e.net.
Fatores sazonais
Duas fortes datas comemorativas também contribuíram para o resultado semestral - o Dia das Mães, considerado pelo comércio em geral como o "Natal" do primeiro semestre - e o Dia dos Namorados. Além disso, a Copa do Mundo também incentivou o consumo de televisores e aparelhos eletrônicos, camisas e artigos esportivos. Com isso, o período de 29 de abril a 30 de junho, que envolve os três eventos, concentrou 39% do faturamento do semestre, ou 690 milhões de reais.
Um indício do peso do torneio mundial de futebol sobre as vendas foi a maior participação de DVDs players, câmeras digitais, televisores e artigos eletrônicos nos negócios dos período. No primeiro semestre do ano passado, essa categoria representou 12,9% das vendas. Neste ano, passou para 14,3%.
Guasti, da e-bit, destaca ainda uma mudança cultural dos consumidores, decorrente das novas tecnologias digitais. "Os consumidores mais jovens não compram CDs, por exemplo, mas faixas de música", diz. Com isso, a categoria de CDs, DVDs e vídeos, que liderava as vendas em 2004, com 27,3% da demanda, recuou para segundo lugar neste semestre, com 15,9%. Livros, jornais e revistas também caíram de 21,5% para 18,4%.
Expectativas
A Camara-e.net e o e-bit estimam que o Brasil encerrará 2006 com cerca de 6,8 milhões de consumidores online. Isso significa que, até o final do ano, mais 1 milhão de pessoas realizarão pelo menos uma compra via internet. A expectativa é que o faturamento do comércio online atinja 4 bilhões de reais até dezembro. Se isso ocorrer, significará uma alta de 60% sobre os 2,5 bilhões de reais movimentados no ano passado.
"O comércio eletrônico continuará crescendo dois dígitos, no mínimo, pelos próximos cinco anos", afirma Matos, da Camara-e.net. O avanço da bancarização da população, que aumenta o número de usuários de internet banking, a maior oferta de computadores e de acesso banda larga, a mudança da cultura de consumo e a chegada da TV digital ao país são algumas das alavancas que impulsionarão as vendas online nos próximos anos, segundo o especialista.