Tecnologia

Falta de integração de dados dificulta prevenção de desastres no Brasil

Para especialistas, do ponto de vista tecnológico, o Brasil não está muito atrás de países desenvolvidos na previsão de desastres naturais

Volume de chuva pode ser previsto por meio de radares meteorológicos, mas dados não são públicos (.)

Volume de chuva pode ser previsto por meio de radares meteorológicos, mas dados não são públicos (.)

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Da Redação

Publicado em 9 de abril de 2010 às 19h39.

São Paulo - O principal obstáculo para o avanço do país na previsão dos desastres naturais está na falta de integração entre órgãos responsáveis pela coleta de dados que influenciam nas tragédias. Pelo menos essa é a opinião de especialistas ouvidos pelo site Exame.

Ao todo, o Brasil tem 20 radares meteorológicos distribuídos em todas as regiões e controlados por universidades, instituições de pesquisa ou pela Aeronáutica. Cada um cobre um raio de cerca de 200 quilômetros e é capaz de calcular a quantidade de chuva que pode cair em determinada região. Apesar de os equipamentos cobrirem praticamente todo o território nacional, o engenheiro Flávio de Carvalho Magina, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Imagens do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), conta que o órgão federal tem acesso a informações de apenas seis - em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Brasília e Minas Gerais.

O problema está no modelo de gestão dos dados obtidos pelos equipamentos. "O INPE só tem acesso aos dados de um radar meteorológico de Bauru (SP), por exemplo, por conta de um convênio. Mas o acordo não nos permite repassar as informações para terceiros com menos de 3 horas de delay", explica o engenheiro Eymar Lopes, da Divisão de Processamento de Imagens do INPE. "Para empresas privadas, como grandes produtores agropecuários, as informações têm de ser compradas".

Além disso, Lopes conta que muitos dados estão simplesmente indisponíveis. O temporal que atingiu o Rio de Janeiro nos últimos dias, por exemplo, era de conhecimento do INPE alguns dias antes. "Mas é impossível prever o risco de um deslizamento de encosta sabendo apenas da possibilidade de chuva intensa", afirma Lopes. "É preciso de outras variáveis, como as condições geológicas da região observada e, principalmente, de ocupação de moradores", explica.

Segundo ele, na maior parte do Brasil, informações como essas são inacessíveis ou estão desatualizadas. O levantamento das áreas de risco e ocupação irregular é responsabilidade dos municípios.


 

Centros regionais

Para Lopes, uma boa solução para resolver o problema seria a implantação de estações descentralizadas de alerta, que funcionem 24 horas por dia, como o Centro Integrado de Alerta de Desastres Naturais (Ciaden), inaugurado em dezembro do ano passado em Cabrália Paulista, na região de Bauru (SP). "Nos Estados Unidos, por exemplo, é assim que funciona. Há órgãos locais, regionais e um órgão federal que monitora as condições climáticas por todo o país", explica.

O custo para implantação do Ciaden foi de aproximadamente R$ 45 milhões, que inclui imóvel, servidores e viaturas. O investimento pode parecer alto, mas não chega à metade dos R$ 100 milhões de prejuízo que a cidade de São Luiz do Paraitinga, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo, teve com os estragos causados pela chuva no início do ano. O município, que tinha dezenas de imóveis tombados, até agora não conseguiu se reerguer por completo, e as perdas culturais e históricas são irreversíveis.

O próprio INPE desenvolveu uma plataforma, em código aberto, voltado para esses tipos de centro, o Sistema de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Sismaden). "A aplicação recebe informações sobre os aspectos geológicos e pluviométricos e pode enviar alertas, automaticamente, por e-mail ou até por SMS para quem estiver cadastrado". Para que o sistema funcione idealmente em centros de alerta por todo o país, basta que os governos estaduais investam na ideia.

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