Tecnologia

Facebook cria pulseira de realidade aumentada ativada por impulso cerebral

Pulseira consegue ler sinais elétricos do corpo e entender comandos e intenções do usuário para interação com computadores

Teclado virtual: com leitura dos impulsos nervosos, inteligência artificial conseguiria adaptar realidade aumentada ao usuário (Facebook Reality Labs/Divulgação)

Teclado virtual: com leitura dos impulsos nervosos, inteligência artificial conseguiria adaptar realidade aumentada ao usuário (Facebook Reality Labs/Divulgação)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 18 de março de 2021 às 11h00.

Última atualização em 18 de março de 2021 às 22h42.

O Facebook apresentou nesta quinta-feira, 18, o que espera ser o futuro da interface entre pessoas e computadores.

A empresa divulgou uma pulseira para interação com realidade aumentada, uma parte das pesquisas que têm sido desenvolvidas pelo Facebook Reality Labs, laboratório de estudos em realidade virtual e aumentada da empresa.

De acordo com Mike Schroepfer, diretor de tecnologia do Facebook, a ideia é substituir os smartphones no longo prazo, já que são ferramentas que causam níveis altos de distração e impedem interação com o ambiente, exigindo concentração e foco do usuário. A substituição seria por uma interface confiável, fácil de usar e privada, que permitisse estar presente no mundo real ao mesmo tempo que lida com soluções de computação apresentadas em tempo real via realidade aumentada.

Mas a equipe de pesquisa admite que essa é uma realidade distante e anuncia o que acredita serem os primeiros dispositivos e soluções rumo à melhora da integração humanos-computadores. 

A ideia da empresa é integrar óculos de realidade aumentada e virtual com ferramentas de controle, como a pulseira. Os primeiros passos rumo a isso foram dados há alguns anos, quando o Facebook começou a investir na Oculus, que fabrica dispositivos de realidade virtual. Como uma maneira de interagir com essa realidade, o Facebook apresentou nesta quinta um sensor no pulso que permite ler sinais elétricos que passam pelos músculos, possibilitando a recolha de informação sobre intenção dos usuários.

A tecnologia recolhe informações e sinais elétricos enviados pelo cérebro para o pulso, permitindo ao computador entender qual comando o usuário estaria dando dentro daquela situação e contexto.

Por exemplo: se você estiver cozinhando, a inteligência artificial poderia entender que precisa de um cronômetro para contar o tempo de um alimento no fogo. Esse relógio surgiria como parte da realidade aumentada e seria acionado com um movimento dos dedos, junto de outros dispositivos visuais.

“Estamos trabalhando no que esperamos se tornar a primeira interface neural para computadores. Por que no pulso? Há muitas partes do cérebro que enviam sinais que passam pelos pulsos. O cérebro cria e envia um comando, seus músculos interagem com o dispositivo e os sinais são interpretados por uma máquina”, explica Thomas Reardon, diretor de interfaces neuromotores do laboratório.

Para os pesquisadores, há ainda adicionais em favor de coleta de informações pelo pulso: é um local fácil de usar dispositivos durante horas, as pessoas já utilizam relógios e está ligado às mãos, uma das principais formas de interação humana.

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Pulseira do Facebook Reality Labs: coleta de informações pelo pulso permite entender interação de usuários com o ambiente (Facebook Reality Labs/Divulgação)

O dispositivo proposto realiza uma eletromiografia, conseguindo entender os sinais enviados pelo sistema nervoso que passam pelo pulso até as mãos e traduz isso como uma informação digital, permitindo o controle de um dispositivo.

Com esse tipo de informação e inteligência artificial, será possível ter aplicações diversas, mas que são adaptadas aos usuários e sua maneira de interação. Durante uma apresentação inicial foi apresentado um modelo de teclado inteligente e “invisível” — o usuário realiza os movimentos de digitação e o algoritmo entende que ele estaria digitando como se estivesse sobre um teclado físico. Eventuais erros seriam entendidos como parte do processo daquele usuário e o algoritmo se adaptaria.

Adaptações da interface

O laboratório também está desenvolvendo pesquisas para que haja adaptatividade dos computadores em um cenário de interação constante e conectada com o mundo real. Por exemplo, o computador entenderia quando o usuário se prepara ou começa uma corrida, apresentando uma playlist favorita.

Isso eliminaria fricções e a necessidade de menus de navegação com muito processo, como pegar o celular, procurar o app de música, clicar, procurar a playlist.

“O princípio central é de mediar o ambiente, não sobrecarregar o usuário ou tirá-lo das questões que importam. Precisa ser claro, dar controle às pessoas, como elas querem que a informação seja apresentada”, afirmou Hrvoje Benko, diretor de pesquisas científicas no laboratório do Facebook.

Reduzir esse tipo de fricção com a tecnologia ganharia alguns segundos dos usuários, mas não é sobre tempo e sim sobre fluxo de pensamento: não remover o usuário do que ele precisa fazer ou se concentrar. “A inteligência artificial sob esse sistema terá algum entendimento do que você gostaria de fazer no futuro”, disse Tanya Jonker, gerente de pesquisa de científica.

Os pesquisadores também trabalham em maneiras de dar retornos táteis aos usuários sobre suas interações com a realidade aumentada: a fim de garantir a certeza de que os comandos foram entendidos e processados. Esse tipo de feedback já existe em smartphones, mas evoluiria das atuais vibrações para pressões e estímulos sensoriais mais precisos.

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Sensores táticos presentes no dispositivo permitem passar sinais mais preciso de interação com a realidade aumentada (Facebook Reality Labs/Divulgação)

Todo o projeto ainda está em fase embrionária, reiteraram os membros do laboratório. A pesquisa ainda precisa aperfeiçoar as maneiras corretas de entender e processar as informações, e também de coletá-las

Schroepfer afirma que os dados que passam pelo dispositivo são informações motoras e que não chegam perto de serem pensamentos ou leitura de mentes. “Não temos acesso aos dados, e quando possível fazemos o processamento no dispositivo”, afirmou. Apesar disso, ele reconheceu que é preciso aperfeiçoar a coleta e interpretação de informações para dar contexto à inteligência artificial — em especial quando há outras pessoas no ambiente.

Para os pesquisadores, apresentar o projeto é uma maneira de levantar essas e outras questões com a comunidade de cientistas e usuários, e pavimentar o caminho para uma nova geração de interação com as máquinas.

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