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Evento discute caminhos da comunicação para o conhecimento

Seminário debate pesquisas no campo da comunicação e destaca confluência de mídias e estudos interdisciplinares


	Durante o encontro foi apresentado um panorama das pesquisas conduzidas em diferentes áreas da comunicação
 (Getty Images/Sean Gallup)

Durante o encontro foi apresentado um panorama das pesquisas conduzidas em diferentes áreas da comunicação (Getty Images/Sean Gallup)

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Da Redação

Publicado em 21 de novembro de 2012 às 14h57.

São Paulo – Discutir as pesquisas no campo da comunicação, com um balanço dos temas mais estudados, e apresentar um panorama dos projetos apoiados pela FAPESP na área nos últimos dez anos.

Com esse propósito, o "Seminário Intercom – FAPESP Caminhos Cruzados: Comunicar para Conhecer" reuniu, no dia 12 de novembro, em São Paulo, alguns dos principais pesquisadores da área no Brasil, que apresentaram ao público um balanço das pesquisas realizadas em diferentes vertentes da comunicação.

O seminário, organizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares em Comunicação (Intercom), fez parte de uma série de encontros que estão sendo realizados pela instituição em 2012, ano em que completa 35 anos. A série homenageia instituições como a FAPESP, que faz 50 anos. Durante o encontro foi apresentado um panorama das pesquisas conduzidas em diferentes áreas da comunicação, das quais 363 contaram com apoio da FAPESP na última década.

O seminário foi aberto por Maria Immacolata Vassallo de Lopes, professora e coordenadora do Centro de Estudos de Telenovela (CETVN) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), que apresentou um balanço das pesquisas desenvolvidas no Centro envolvendo estudos televisivos e o gênero ficcional dentro da TV, com ênfase para a produção de teledramaturgia brasileira, mais especificamente a telenovela, como fenômeno cultural de massa.

A trajetória das pesquisas que deram origem ao CETVN, apresentada por ela, ressalta a dificuldade enfrentada pelos pesquisadores do tema em estabelecer legitimidade à telenovela como objeto de estudo, e faz sobressair o patamar atual das pesquisas na área, que colocam o Brasil em destaque entre os 12 países que compõem o Observatório Ibero-americano de Ficção Televisiva (Obitel) – uma rede virtual de pesquisadores de teledramaturgia, com protocolo de pesquisa unificado, acompanhamento das produções televisivas e publicação periódica de artigos.

Nessa trajetória, Maria Immacolata destacou as primeiras pesquisas de recepção da telenovela, quando ainda se buscava estabelecer uma metodologia de pesquisa para a área, passando pela telenovela como recurso narrativo e como narrativa da própria nação, até os estudos atuais, “em que o fenômeno do conteúdo televisivo e da participação do público nas redes sociais na internet configura a chamada transmidiação, integrando novas possibilidades de estudo, como a ‘netnografia’”.


As pesquisas sobre televisão, que ganharam vulto na última década, também foram destaque na apresentação de Esther Império Hamburger, diretora do Cinusp Paulo Emílio.

De acordo com Hamburger, há atualmente uma diversificação dos meios televisivos e, consequentemente, das pesquisas envolvendo esse meio, visto que os projetos abordam desde aspectos da indústria cultural, passando pela história da televisão, pela pesquisa sobre digitalização de acervos e chega às inovações tecnológicas, que, conforme disse, são antecipadas pela imaginação.

Segundo a pesquisadora – que também coordena o Laboratório de Investigação e Crítica Audiovisual (Laica) da ECA-USP, apoiado pelo Programa Equipamentos Multiusuários da FAPESP –, enquanto inovações tecnológicas como videoteipe, satélite, cor e transmissão por cabo não alteraram conceitualmente a televisão, adventos tecnológicos mais recentes, como a TV digital e a convergência com a internet, vêm transformando significativamente o conceito desse meio, abolindo por completo a ideia unidirecional da informação.

“Entre outros aspectos, essas inovações desconstruiram a noção de grade de programação, permitindo que o telespectador tenha acesso hoje não apenas ao conteúdo exibido, mas seja ele mesmo um agente da programação”, disse Hamburger.

Novas mídias e participação pública

As apresentações da manhã no Simpósio Intercom tiveram como moderadora Mariluce Moura, diretora de redação da revista Pesquisa FAPESP. Na parte da tarde, Maria da Graça Mascarenhas, gerente de comunicação da Fundação, foi responsável pela moderação das conferências, iniciadas por Lúcia Santaella, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).


Os estudos envolvendo as chamadas novas mídias e suas confluências com a televisão foram o mote da exposição de Santaella. Segundo a pesquisadora, essa mescla, que levou à hipermídia, também transformou a internet em “plataformas participativas, nas quais a navegação livre acontece concomitantemente às possibilidades oferecidas pelos novos direcionamentos propostos pelas redes sociais, a partir das quais há uma maior ordenação dos sentidos”.

Santaella também fez uma análise das subáreas apoiadas pela FAPESP no campo da comunicação desde 2002, elencando pesquisas em temas como visualidade na realidade urbana; o universo da imagem (das imagens mentais às fotos e imagens digitais); imagem e arte; relações entre design e arte; publicidade e consumo; cinema e audiovisual; mídia e comunicação; multimídia e hipermídia; cibercultura; redes digitais; ativismo nas redes e inclusão digital; ambientes e plataformas digitais e games.

Um aspecto importante observado por Santaella é que as pesquisas em comunicação, antes restritas a instituições mais tradicionais, foram se espraiando ao longo da última década e, atualmente, estudos são conduzidos nas mais diferentes universidades e instituições de pesquisa, com apoio de agências de fomento, como a FAPESP. O mesmo ocorreu com subáreas antes tidas como irrelevantes, como os games, que hoje são encaradas como um novo aspecto a ser explorado também pelos pesquisadores.

Outra análise, desta vez sobre estudos em comunicação científica, foi apresentada por Carlos Vogt, coordenador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp).

Além de expor um panorama das pesquisas realizadas pelo Labjor sobre comunicação científica, envolvendo percepção pública da ciência e da tecnologia, relações entre técnica e tecnologia e aspectos da cultura científica, Vogt destacou a questão dos modelos de percepção e o combate ao conceito de déficit de compreensão – o qual pressupõe haver certa hierarquia na construção do conhecimento científico e na maneira como essas informações chegam ao público.


“Ao contrário dessa noção de déficit de conhecimento, a cultura científica pode ser compreendida na forma de uma espiral, na qual todos os atores da construção do conhecimento científico tomam parte, inclusive o público”, disse Vogt.

O pesquisador, que também é poeta e linguista, exemplifica a questão por meio de analogia: o fato de uma pessoa não jogar futebol não a impede de amá-lo, de ser amador de sua prática, e de praticá-lo sempre, mesmo que, na maioria das vezes apenas pela admiração aficionada de torcedor. O mesmo ocorreria com o conhecimento e a cultura científica.

Nesse sentido, o conceito de bem estar cultural, resultante das relações da sociedade com as inovações tecnológicas e que envolve valores e atitudes, hábitos e informações, se caracterizaria, segundo Vogt, pelo conforto crítico da inquietude gerada pela provocação sistemática do conhecimento – fator preponderante também para as pesquisas na área da comunicação.

Comunicação básica

Embora complexo, o problema da pesquisa em comunicação, para o professor José Marques de Melo, presidente honorário e um dos fundadores da Intercom, pode ser mais facilmente localizado, hoje, na desigualdade que verifica nas próprias pesquisas desse campo.

Segundo Melo, enquanto as investigações avançam em termos de novas mídias, o conhecimento acerca das questões fundamentais da comunicação tem sido deixado de lado pelos jovens pesquisadores da área.

“As novas tecnologias não alteram significativamente a área da comunicação. Elas são absorvidas pelas sociedades, mas têm capacidade limitada para modificações conceituais. No Brasil, as pesquisas envolvendo novas mídias têm se desenvolvido, mas faltam estudos atuais sobre comunicação básica. Por isso, é preciso equilibrar pesquisas sobre o novo e sobre o convencional”, disse.

Para Marques de Melo, se por um lado houve aumento na quantidade de pesquisas em comunicação na última década, com apoio crescente das agências de fomento, por outro, ainda falta, por parte das instituições, priorizar os estudos comunicacionais, pois o mapa de como a comunicação se insere na sociedade ainda está por ser completado.

Marques de Melo receberá no dia 24 de novembro, em Alagoas, a Medalha Denis Agra, durante a cerimônia de entrega do Prêmio Braskem de Jornalismo.

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