Tecnologia

Europa enfrenta entraves para ampliar produção de chips com apoio da TSMC

Projeto bilionário da TSMC na Alemanha revela obstáculos regulatórios, escassez de mão de obra qualificada e dependência da infraestrutura asiática

As estimativas são de que custa quase o dobro para construir uma fábrica no continente europeu – e que as licenças necessárias podem acrescentar meses ao processo (I-Hwa Cheng/Getty Images)

As estimativas são de que custa quase o dobro para construir uma fábrica no continente europeu – e que as licenças necessárias podem acrescentar meses ao processo (I-Hwa Cheng/Getty Images)

Publicado em 19 de novembro de 2025 às 09h11.

Há décadas, a maior parte dos chips mais avançados do mundo é produzida em Taiwan, especialmente pela Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), fundada em 1987. Hoje, a empresa fabrica, por exemplo, chips projetados por Nvidia e Apple.

Com a pandemia, a intensificação das tensões históricas entre China e Taiwan e disputas comerciais e geopolíticas com o gigante asiático, países europeus e os Estados Unidos passaram a investir na produção doméstica de semicondutores, considerados essenciais para cadeias produtivas estratégicas.

No entanto, enquanto o governo dos EUA se tornou acionista da Intel e pressiona Taiwan para que metade dos chips consumidos no país seja fabricada localmente, a Europa enfrenta mais obstáculos para aumentar sua participação, que hoje é de menos de 10% da produção global de semicondutores avançados.

A aposta da Alemanha, por exemplo, para transformar Dresden em polo europeu de semicondutores esbarra em entraves regulatórios (trabalhistas e ambientais, inclusive), escassez de profissionais e dependência tecnológica da Ásia. Com investimento de €10 bilhões (cerca de US$ 11,5 bilhões), uma nova fábrica da TSMC será construída em parceria com empresas como Bosch, Infineon e NXP, mas só deve entrar em operação em 2027.

Até o final da década, o plano europeu é dobrar sua participação na produção global de chips avançados. O movimento ganhou urgência após recentes tensões comerciais envolvendo uma fabricante de propriedade chinesa nos Países Baixos (região popularmente chamada de Holanda), que afetaram o fornecimento de chips automotivos.

Apesar do otimismo político, a realidade logística é mais complexa. Fornecedoras da TSMC, como a Taiwan Puritic Corporation, enfrentam dificuldades para operar na Alemanha. Segundo seu CEO local, West Tu, barreiras como trâmites de vistos, normas ambientais rigorosas e dificuldade para contratar engenheiros especializados têm atrasado o projeto.

Questões linguísticas e culturais também são entraves. Tu disse ao New York Times que nenhum trabalhador alemão foi contratado até agora, apesar da meta de 20 contratações locais. As exigências de treinamento em Taiwan e a cultura de disponibilidade integral afastam parte dos candidatos europeus, que preferem trabalhar para empresas do continente.

Diferenças estruturais dificultam avanço do modelo asiático

Com histórico de decisões rápidas e construção acelerada em Taiwan, a TSMC enfrenta na Europa um ambiente mais burocrático. As estimativas são de que custa quase o dobro para construir uma fábrica no continente europeu – e que as licenças necessárias podem acrescentar meses ao processo. Na ilha, a empresa construiu cerca de três fábricas por ano durante quase uma década.

Apesar disso, autoridades como o prefeito de Dresden apostam que o projeto impulsione cerca de 10 mil empregos na região. Países vizinhos, como a República Tcheca, tentam atrair fornecedores taiwaneses oferecendo mão de obra mais barata e setores químicos locais.

A expansão internacional da TSMC, impulsionada pela demanda por chips para inteligência artificial, também provoca debates em Taiwan, onde há temor de que o avanço no exterior fragilize a liderança tecnológica da ilha – considerada um escudo frente à China.

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