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Estudo indica que HIV ganha diversidade genética em SP

Grupos da USP e da Unifesp avaliaram amostras sanguíneas de 51 crianças e adolescentes soropositivos e encontraram taxa inesperada de subtipos recombinantes

HIV: mudança no perfil do vírus pode ter implicações tanto na produção de testes de diagnóstico como em pesquisas que visam ao desenvolvimento de vacinas (Getty Images)

HIV: mudança no perfil do vírus pode ter implicações tanto na produção de testes de diagnóstico como em pesquisas que visam ao desenvolvimento de vacinas (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 22 de outubro de 2013 às 10h00.

São Paulo – Ao analisar amostras sanguíneas de 51 crianças e adolescentes soropositivos da cidade de São Paulo, nascidos entre 1992 e 2009, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) observaram uma variabilidade genética do vírus HIV maior que a apontada em estudos anteriores, feitos com adultos.

De acordo com os cientistas, os resultados da investigação – divulgados em artigo publicado na revista PLoS One – sugerem que o perfil da epidemia está mudando no Brasil, o que pode ter implicações tanto na produção de testes de diagnóstico como em pesquisas que visam ao desenvolvimento de vacinas.

“Existem dois tipos de vírus que causam a Aids, o HIV-1 e o HIV-2. O tipo 2 é praticamente restrito ao continente africano. Já o tipo 1, que prevalece no resto do mundo, se divide em vários grupos, sendo os principais M, N, O e P. O grupo M é o que causa a grande epidemia que conhecemos, mas ele também se divide em diferentes subtipos. Há ainda as formas recombinantes do vírus, que é a mistura de dois subtipos”, explicou Esper Kallás, professor da disciplina de Imunologia Clínica e Alergia da Faculdade de Medicina da USP e um dos autores da pesquisa apoiada pela FAPESP.

Segundo Kallás, estudos anteriores mostraram que o subtipo B é o mais prevalente no Brasil e em toda a América e Europa. Em um artigo publicado pelo grupo em 2011, também na revista PLoS One, foram analisadas 113 amostras de homens soropositivos com média de idade de 31 anos e a análise do DNA viral mostrou que mais de 80% dos pacientes estavam infectados com o subtipo B.

Já neste estudo recente feito com pacientes entre 4 e 20 anos acompanhados no Centro de Atendimento da Disciplina de Infectologia Pediátrica da Unifesp, coordenado pela professora Regina Succi, apenas 52,4% apresentaram o subtipo B. Quase 40% dos jovens estavam infectados com o subtipo BF1 mosaico – uma mistura genética dos subtipos B e F1. Outros 9,5% apresentaram o subtipo F1. Todos os casos eram de transmissão vertical do vírus, ou seja, a infecção ocorreu durante a gestação, parto ou amamentação.


“Como essas crianças, em geral, contraíram o vírus há menos tempo que os adultos, há cerca de 11 anos em média, nossa hipótese é de que os vírus circulantes no Brasil estão ganhando diversidade genética. E essa é uma fotografia de uma transmissão que ocorreu há mais de uma década. Hoje a variabilidade pode estar ainda maior”, disse Kallás.

De acordo com Sabri Saeed Mohamed Ahmed Al Sanabani, pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da USP e autor principal do artigo, trabalhos anteriores haviam indicado também uma alta prevalência do subtipo F1 no Brasil, que agora se torna cada vez mais raro.

“Pesquisas anteriores sequenciavam apenas um trecho do vírus, que poderia ser puro. Mas quando fazemos o sequenciamento completo do genoma viral podemos perceber altas taxas de recombinação com o subtipo B. Essa é nossa realidade no Brasil”, disse Sanabani, que também coordena uma pesquisa apoiada pela FAPESP.

Para Sanabani, é importante fazer esse tipo de monitoramento para entender como está ocorrendo a evolução do HIV. “A mudança no perfil da epidemia já foi constatada em outros países. O subtipo B já foi o mais prevalente na África do Sul e hoje é o C, por exemplo. Esse conhecimento é fundamental para a adequação dos testes de diagnóstico molecular da doença. Se o vírus está mudando, é preciso que os testes sejam capazes de detectar também essas misturas virais”, afirmou.

O conhecimento sobre os subtipos prevalentes também é essencial para pesquisas que visam ao desenvolvimento de uma vacina contra Aids. A má notícia, segundo Kallás, é que o aumento na variabilidade genética do HIV-1 deve dificultar ainda mais a criação de um imunizante eficaz.

Recombinação viral

De acordo com os pesquisadores, o aumento na variabilidade genética do HIV pode ser explicado por dois principais fatores. O primeiro é a constante batalha com o sistema imunológico do hospedeiro, que exerce uma pressão para que o vírus se modifique para escapar do ataque.


O segundo fator é a ocorrência de infecções mistas. “Pode acontecer de uma pessoa contrair em uma mesma exposição os subtipos B e F, por exemplo. Mas também é comum que uma pessoa já infectada por um subtipo viral tenha uma nova exposição e contraia um subtipo diferente do vírus e ocorra a recombinação dentro do organismo”, contou Kallás.

O uso de preservativo entre parceiros soropositivos é fundamental para evitar que ocorram infecções mistas e também que um deles contraia uma forma viral mais resistente aos medicamentos hoje utilizados, disse o infectologista.

O artigo Variability of HIV-1 Genomes among Children and Adolescents from São Paulo, Brazil (doi:10.1371/journal.pone.0062552), pode ser lido em http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0062552>

O artigo Characterization of Partial and Near Full-Length Genomes of HIV-1 Strains Sampled from Recently Infected Individuals in São Paulo, Brazil (doi:10.1371/journal.pone.0025869), pode ser lido aqui.

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