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Espionando os drones da Amazon

Mark Scott © 2016 New York Times News Service Worsted Lodge, Inglaterra – Depois de horas de busca, entrei em uma estrada de terra nas montanhas de Cambridgeshire e encontrei um pontinho atravessando o céu azul, flutuando gentilmente sobre a brisa, voando a cerca de 60 metros do chão. Bingo: era um drone da Amazon. […]

DRONE DA AMAZON: de olho nas entregas aéreas, empresa testa aparelho na cidade de Cambridge, Inglaterra / Andrew Testa/ The New York Times

DRONE DA AMAZON: de olho nas entregas aéreas, empresa testa aparelho na cidade de Cambridge, Inglaterra / Andrew Testa/ The New York Times

DR

Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2016 às 11h37.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h13.

Mark Scott © 2016 New York Times News Service

Worsted Lodge, Inglaterra – Depois de horas de busca, entrei em uma estrada de terra nas montanhas de Cambridgeshire e encontrei um pontinho atravessando o céu azul, flutuando gentilmente sobre a brisa, voando a cerca de 60 metros do chão.

Bingo: era um drone da Amazon.

Quase invisível ao olho nu, a aeronave sem marca, do tamanho de um aeromodelo qualquer, voavam sobre um campo a um quilômetro de onde eu estava, com as luzes dos quatro sensores piscando sob o sol da tarde.

A Amazon, gigante do e-commerce, começou os testes secretos de aeronaves não tripuladas neste verão em uma localidade no interior da Inglaterra (seu maior campo de testes, de acordo com um executivo da empresa). Eu queria descobrir onde ficava esse local secreto, esperando ver como todos nós iremos receber um dia as nossas compras em casa.

Em retrospectiva, os sinais dos testes secretos da Amazon estavam escondidos bem embaixo do nosso nariz.

Os pilotos haviam recebido aviso de presença de aeronaves não tripuladas na região, a cerca de uma hora de Londres, até o início de outubro; um sinal de celular extremamente rápido para uma região tão isolada – algo necessário para o processamento de dados de drones; além da abertura de vagas no centro de pesquisa e desenvolvimento da Amazon em Cambridge relacionadas ao Prime Air, o ambicioso plano da empresa de usar drones para entregar produtos.

Contudo, a Amazon não é a única, já que outras empresas fazem testes similares no mundo todo.

Na Nova Zelândia, a Domino’s Pizza está testando drones para entregar pizzas. O Google entrega burritos com a ajuda de drones na Virgínia. A JD.com, a gigante do e-commerce chinês, conta com uma frota de drones autônomos que realizam viagens de 24 quilômetros até comunidades rurais por apenas 20 por cento do custo de entregas por caminhão (embora alguém ainda tenha que fazer o trajeto final da entrega para o cliente).

Na Inglaterra, a Amazon trabalha em parceria com as autoridades locais para testar inúmeros aspectos da tecnologia dos drones, a exemplo de como pilotar as aeronaves acima da linha de visão dos operadores, uma prática que ainda é proibida nos EUA.

Os reguladores autorizaram o uso comercial de drones pela primeira vez no país em 2010 – anos antes da Administração Federal de Aviação dos EUA relaxar as restrições contra aeronaves pilotadas a distância em junho deste ano. A Amazon se instalou na Inglaterra depois que os EUA negaram a aprovação inicial desse tipo de teste.

Nessa região do interior de Cambridge e em uma instalação similar no Canadá, a Amazon provavelmente está ajustando os sensores do drone, além de realizar outras melhorias necessárias para o uso diário.

Uma porta-voz da empresa não quis comentar a respeito da área de testes na Inglaterra.

Com o grande número de concorrentes, não surpreende que a Amazon queira manter segredo e evitar que seus esforços sejam vigiados. Em Fulbourn, o vilarejo mais próximo do local de testes, onde casas com telhado de palha e igrejas antiquíssimas ladeiam a silenciosa rua principal, poucas pessoas sabem que a gigante norte-americana se mudou para a cidade.

“Drones? Aqui?”, perguntou Linda McCarthy, que levava os dois labradores para seu passeio matinal, enquanto eu tentava me encontrar em uma trila pública com um mapa da área em mãos e um par de velhos binóculos. “Nunca ouvi nada a respeito disso”.

Algumas pessoas nessa área rural tiveram reações irritadas. Para Julia Napier, uma das fundadoras da Friends of the Roman Road and Fleam Dyke, uma associação local que cuida das trilhas públicas da região, a chegada da Amazon pode representar uma ameaça à vida selvagem e à área como um todo, algo que a empresa nega.

Durante uma conversa regada a café e cercada de mapas da vida selvagem da região, Julia, de 78 anos, reclamou que a Amazon não consultou as pessoas sobre a realização dos testes. Ela questionou a presença das aeronaves no interior britânico, provavelmente sem a permissão dos proprietários das terras por onde os drones passam, mesmo que essa autorização não seja necessária.

Ela se nega a utilizar os serviços da Amazon, preferindo comprar na livraria local ou em outras concorrentes britânicas.

Sua posição contrária à gigante do e-commerce não passou despercebida. Segundo Julia, um funcionário da empresa ligou, tentando convencê-la de que os testes com drones era seguros e não ofereciam risco à vida selvagem.

Ela continua duvidando.

“Eles estão testando esses drones aqui porque não podem fazer isso nos EUA. Se os americanos não querem, eu também não quero.”

Os rumores sobre aeronaves misteriosas voando baixo no interior me trouxeram para a região. Ainda assim, quando parei o carro em uma manhã estranhamente quente para setembro, tive a impressão de que estava no lugar errado.

Nada parecia estar fora do lugar. Trabalhadores chegavam a um parque de escritórios e passeadores de cachorros aproveitavam o sol do fim do verão. Depois de andar por muitos quilômetros, (acabei percorrendo quase meia maratona) ao longo de uma rota romana construída há cerca de dois mil anos – e que agora não passa de uma trilha de grama – não me sentia mais perto de encontrar as máquinas.

Meus ouvidos chamavam minha atenção para cada barulhinho que rompesse o silêncio, apenas para me desapontar com tratores, carros, ou uma simples abelha. Ao voltar para meu carro depois de percorrer praticamente todas as trilhas públicas, suspeitei que estivesse perdendo meu tempo.

Só faltava mais uma trilha.

Menos de 250 metros depois de entrar na trilha de grama às margens de uma fazenda, um guarda com um walkie-talkie apareceu e mostrou uma placa que dizia: “Propriedade privada. Passagem proibida”.

Quando ele repetiu mais de uma vez que eu estava em uma área privada e que havia chamado o dono das terras para me expulsar, eu soube que estava no caminho certo. Enquanto caminhava pela propriedade com Andrew Testa, fotógrafo do The New York Times, minhas suspeitas aumentavam.

Em uma das entradas da fazenda – apesar da presença da Amazon, as atividades rurais não pararam – um guarda com roupa fluorescente checava a identidade das pessoas que chegavam ao local. Ao longe, fardos de feno estavam empilhados em paredões de seis metros de altura (provavelmente para testar a capacidade dos drones de voar entre prédios). Uma grande plataforma metálica azul em um campo distante dava uma vista panorâmica do campo.

Então o encontramos.

No fim das contas, espionar o drone – que podia ser visto com mais precisão através das longas lentes da câmera do meu colega – foi um anticlímax. Ao invés de realizar uma série de acrobacias aéreas, o aparelho simplesmente se moveu de um lado para o outro por 20 minutos, lentamente atravessando de uma ponta à outra do campo, praticamente sem mudar de posição.

A aposta é claramente alta para a Amazon. No dia seguinte, um policial questionou meu colega, quando ele retornou para tirar outras fotos da área, ainda que o policial tenha negado que tivesse sido chamado pela Amazon.

Em lugares como Worsted Lodge – uma região pouco populosa onde há mais animais de criação do que pessoas – os drones podem preencher um nicho para pessoas com pouco acesso a lojas. Mas em muitas áreas urbanas, a chegada de drones de entrega pode rapidamente se converter em um pesadelo logístico – algo que os testes em Cambridgeshire não serão capazes de resolver.

“Como as aeronaves vão encarar os últimos 100 metros?”, questionou Jay Bregman, fundador da Verifly, startup de seguro para drones, quando liguei para perguntar sobre a possibilidade de realização desses planos. “Em lugares como Nova York, isso vai ser muito difícil.”

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