Dilma Rousseff (Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 5 de setembro de 2013 às 08h58.
Brasília - A visita de Estado que a presidente Dilma Rousseff deve fazer a Washington em 23 de outubro parece estar por um fio após a denúncia de que agências americanas a espionaram.
"Os próximos passos decidirão se essa visita se manterá ou não", mas "até agora não foi cancelada", disse nesta terça-feira à Agência Efe uma fonte oficial.
A resposta que o Brasil dará aos Estados Unidos pela espionagem a Dilma dependerá das "explicações" do governo do presidente Barack Obama, explicou a fonte.
A mesma fonte revelou que a governante "poderia" falar com o presidente americano sobre esse assunto na cidade de São Petersburgo, na Rússia, onde será realizada a partir de quinta-feira a cúpula do G20.
No entanto, esclareceu que "não está prevista uma reunião com Obama" e que nem sequer um encontro foi "pedido".
Apesar disso, a fonte admitiu que a conversa "poderia ocorrer, como sempre se passa nas cúpulas", embora neste momento, com o grave escândalo da espionagem como cenário de fundo, a reunião não seria confortável.
Os documentos que revelam a forma como foram ou são espionados os telefonemas e os e-mails de Dilma, já que não está claro se esta atividade terminou, foram denunciadas neste domingo pelo programa "Fantástico", da Rede Globo.
Os dados sobre a espionagem foram apresentados pelo jornalista Glenn Greenwald, colunista do jornal britânico "The Guardian", que mora no Rio de Janeiro, que por sua vez os obteve diretamente de Edward Snowden, ex-analista da Agência Nacional de Segurança (ANS) dos Estados Unidos, asilado temporariamente na Rússia.
Segundo estes documentos, os sistemas da ANS permitiram aos serviços de inteligência dos Estados Unidos conhecerem o conteúdo da comunicação entre Dilma e dezenas de assessores, embora não esclareçam a que tipo de informação tiveram acesso.
O governo brasileiro reagiu com enorme indignação a essas revelações, convocou o embaixador dos Estados Unidos no país, Thomas Shannon, e exigiu explicações "rápidas e por escrito" ao governo de Obama.
"Transmiti a indignação do governo" e "manifestei que a violação das comunicações da presidente é inadmissível, inaceitável e constitui uma violação da soberania brasileira", disse o chanceler Luiz Alberto Figueiredo sobre sua reunião com Shannon.
Mais de 24 horas após a divulgação dos novos documentos de Snowden, não tinha sido feito nenhum comentário oficial nos Estados Unidos sobre o enorme mal-estar provocado em um país "amigo" e com o qual existe uma "associação estratégica", segundo Figueiredo.
Por essa estreita relação, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, considerou "ainda mais grave" a espionagem, sobre a qual disse que "excedeu claramente o limite da luta contra o terrorismo", argumento usado pelos Estados Unidos para justificar as ações de seu serviço de inteligência.
A visita de Dilma a Washington seria a primeira de um presidente brasileiro à Casa Branca desde 1995, quando Fernando Henrique Cardoso foi recebido pelo então governante dos Estados Unidos Bill Clinton.
Nesta segunda-feira, ao explicar em entrevista coletiva a reação do Brasil às novas denúncias, o chanceler Figueiredo se negou várias vezes a responder se a viagem continua programada. "Não estou aqui para falar dessa visita", respondeu.