Evo Morales (©afp.com / Patrick Domingo)
Da Redação
Publicado em 3 de setembro de 2013 às 13h28.
Madri - A Espanha afirmou que não fechou o espaço aéreo ao avião do presidente boliviano, Evo Morales, e por isso não tem que pedir desculpas ao país, mas apelou nesta sexta-feira para a calma.
"A Espanha disse que em nenhum caso iria restringir o espaço aéreo e que mantinha vigente a autorização para que o avião pousasse e reabastecesse em Las Palmas", nas ilhas Canárias, onde Morales fez escala na quarta-feira depois de passar várias horas retido no aeroporto de Viena, afirmou o ministro de Assuntos Exteriores do país, José Manuel García-Margallo.
E, como a Espanha não fechou seu espaço aéreo ao avião presidencial boliviano, "não tem que pedir desculpas à Bolívia", como exigiram vários presidentes sul-americanos que se reuniram na quinta-feira em Cochabamba (Bolívia), explicou o chanceler.
García-Margallo também pediu calma após o fechamento parcial do espaço aéreo europeu ao avião de Morales, que retornava de Moscou a La Paz.
"Temos que tentar de alguma maneira acalmar os ânimos, baixar os espíritos e voltar a retomar as relações", disse o ministro em uma entrevista à televisão pública espanhola.
O presidente boliviano se viu obrigado a fazer uma escala na terça-feira na capital da Áustria depois que, segundo La Paz, França, Portugal, Itália e Espanha negaram permissão de sobrevoo ante a suspeita de que o avião poderia transportar o fugitivo americano Edward Snowden.
"Nem a Bolívia, nem o presidente Evo cometem crimes (...), somos muito respeitosos com as leis internacionais", afirmou Morales em Viena, classificando o incidente como uma provocação contra "a Bolívia e toda a América Latina".
Margallo admitiu na entrevista que, a princípio, havia recebido dados "claros" de que Snowden estava no avião, mas que depois confiou nas garantias dadas pela Bolívia de que a informação não era correta.
"Acredito na palavra dos países amigos e a Bolívia é", afirmou.
Ainda assim, o ocorrido gerou uma grande crise diplomática entre a Europa e a América Latina, que se solidarizou em bloco com o presidente boliviano, especialmente seu colega venezuelano, Nicolás Maduro.
"Vamos avaliar nossas relações com a Espanha", disse o presidente venezuelano na quinta-feira, afirmando que "o que o governo da Espanha fez é infame".
"Quero acreditar que estas declarações são feitas por um desconhecimento dos fatos no calor de todos estes acontecimentos", respondeu nesta sexta-feira o chanceler espanhol, que pediu que seu embaixador em Caracas "informe as autoridades venezuelanas sobre qual foi o curso dos acontecimentos".
Embora a princípio La Paz tenha acusado Madri de ter negado permissão de sobrevoo e escala a Morales, nem a embaixadora boliviana na Espanha, María del Carmen Almendras, nem a ministra da Transparência, Nardi Suxo, informaram se a suspensão da autorização chegou a ocorrer.
Segundo declarações de Almendras na quarta-feira, a Espanha concedeu num primeiro momento a autorização de escala nas Canárias, mas, quando a aeronave estava em Viena, "entramos em uma negociação mais difícil que o habitual com o Estado espanhol para ter a última autorização de sobrevoo e pouso".
Já Suxo, que participou de uma coletiva de imprensa em Madri nesta sexta-feira, exigiu medidas contra o embaixador espanhol na Áustria que, segundo Morales, pediu para tomar um café no avião com a intenção de inspecionar se Snowden estava a bordo.
Buscado por Washington por espionagem, este ex-consultor da Agência Nacional de Segurança (NSA) revelou detalhes sobre um programa americano secreto de espionagem em grande escala e fugiu primeiro a Hong Kong e depois a Moscou, onde está há quase duas semanas refugiado na zona de trânsito do aeroporto.