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Entenda a provável relação entre o zika e a microcefalia

Há muitas questões relacionadas à maneira como o vírus prejudica o feto

Matheus Lima segura seu bebê, Pietro, que sofre de microcefalia (CHRISTOPHE SIMON/AFP)

Matheus Lima segura seu bebê, Pietro, que sofre de microcefalia (CHRISTOPHE SIMON/AFP)

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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2016 às 21h02.

Paris - Os cientistas estimam que há um vínculo "altamente provável" entre o zika e os casos de microcefalia constatados no Brasil e na Polinésia Francesa, mas há muitas questões relacionadas à maneira como o vírus prejudica o feto.

O zika é responsável pelo aumento expressivo de microcefalia nos recém-nascidos observado no Brasil?

"O vínculo entre o zika e a microcefalia é provável, mas, no momento, não foi provado cientificamente", resume o professor Jean-François Delfraissy, diretor do Instituto Nacional de Saúde e Investigação Médica da França (INSERM).

Os pesquisadores mencionam um vínculo de causa e efeito, por um lado, devido ao aumento significativo de casos de microcefalia em regiões afetadas pela epidemia do zika e, por outro, pela presença do vírus detectada em abortos de mulheres que vivem na zona da epidemia e cujo feto apresentava microcefalia.

"Até agora, não havia nenhuma informação sobre o possível papel do zika como agente provocador de más-formações. Não esperávamos por isso, porque é um vírus próximo a doenças conhecidas, como a dengue e a febre amarela, que provocam problemas de saúde, mas sem causar má formações", explica André Cabié, chefe do serviço de Doenças Infecciosas e Tropicais da ilha de Martinica, nas Antilhas francesas.

O que sabemos sobre a maneira com que o zika atua sobre o feto? Existe um tratamento?

"O que se sabe, de maneira geral, é que infecções virais podem provocar más-formações, especialmente quando ocorrem no primeiro trimestre da gravidez, no momento em que os órgãos vitais estão sendo formados", explica Cabié.

A rubéola, o citomegavírus e a toxoplasmoses estão catalogados já há algum tempo, como causa da má formação nos fetos.

"Os vírus atravessam a placenta e se alojam no feto, às vezes no nível de certas células cerebrais", acrescenta Delfraissy.

Para compreender a infecção dos fetos pelo zika, está sendo estudada, de maneira retrospectiva na Polinésia Francesa, a epidemia que teve fim em 2014. Em Martinica, onde a enfermidade continua sendo propagada, foi organizado um grupo de observação de mulheres grávidas para estabelecer a relação entre o zika e a microcefalia.

A dificuldade está no fato de que a infecção é fundamentalmente assintomática. Uma mulher grávida pode estar infectada e não saber. Há também casos de mulheres grávidas infectadas pelo zika cujo filho não apresenta microcefalia.

Por que o vírus atua somente em certas mulheres? Existem fatores de risco? Doenças associadas? São perguntas que, no momento, os pesquisadores não sabem responder. Por outro lado, a medicina carece, hoje, de tratamento e ferramentas para diagnósticos confiáveis.

O que é uma microcefalia?

"A microcefalia é uma diminuição do tamanho do encéfalo com relação à idade (de gestação ao nascer) e, portanto, do perímetro craniano com maior ou menor quantidade de lesões cerebrais", explica Delfraissy.

As causas são múltiplas, podendo ser infecciosas, virais, tóxicas ou produzidas pela má irrigação da placenta ou devido a problemas genéticos desconhecidos.

Quais são as consequências para a criança?

"Nos casos de más-formações graves, (as crianças) não serão capazes de ter uma vida prolongada. Se o cérebro não for desenvolvido, o corpo não pode funcionar. Na Polinésia, estas más-formações conduziram a interrupções voluntárias da gravidez porque os recém-nascidos não conseguiriam sobreviver por mais de alguns dias", afirma Cabié.

"O primeiro resultado pode ser a morte ainda no útero devido à gravidade do dano cerebral", explica Delfraissy.

"Para as crianças que nascem com microcefalia, o prognóstico varia: o bebê pode ter suas funções cerebrais comprometidas, com uma variedade de níveis de gravidade no âmbito da capacidade motora e do déficit cognitivo", acrescenta.

Outras crianças que apresentam certas zonas do cérebro que não estão afetadas, desenvolvem-se "um pouco melhor no plano da capacidade motora, mas não tão bem no plano psicomotor".

Ainda em casos menos graves, o prognóstico no campo funcional e psicomotor "continua sendo relativamente severo".

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