Tecnologia

Energia solar tem uma pedra no caminho; ou melhor — no ar

A poluição atmosférica, quem diria, fez mais uma vítima, e com prejuízo bilionário

Michael Bergin (à esq.), ao lado do colega indiano Chinmay Ghoroi (à dir.) e os empoeirados  painéis solares da IITGN. (Duke University/Divulgação)

Michael Bergin (à esq.), ao lado do colega indiano Chinmay Ghoroi (à dir.) e os empoeirados painéis solares da IITGN. (Duke University/Divulgação)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 2 de julho de 2017 às 08h17.

Última atualização em 2 de julho de 2017 às 08h17.

São Paulo - Com custos cada vez menores e avanços tecnológicos, a energia solar tem crescido rapidamente em todo o mundo e deve continuar assim. Mas há uma nuvem negra no caminho dessa fonte renovável .

Pesquisadores da Duke University descobriram que a poluição atmosférica - especificamente as partículas de poeira que se acumulam sobre os painéis solares - está reduzindo a produção de energia solar em mais de 25% em certas regiões do mundo, causando bilhões de dólares em perdas.

Segundo a pesquisa, publicada nesta semana na revista Environmental Science & Technology Letters, as regiões mais  atingidas são também as que mais investem em energia solar: China, Índia e a península Arábica.

Ao visitar uma instalação de painéis fotovoltaicos na casa de amigos na Índia, o professor de enegenharia civil e ambiental da Duke University, Michael Bergin, ficou impressionado com a sujeira acumulada nos painéis e suspeitou que toda aquela poeira bloqueando o sol deveria afetar a eficiência da tecnologia.

Como não havia nenhum estudo científico estimando essas perdas,  ele resolveu montar um modelo abrangente para fazer exatamente isso. Com colegas do Indian Institute of Technology-Gandhinagar (IITGN) e da Universidade de Wisconsin, em Madison, Bergin mediu a redução da energia solar captada pelos painéis solares do IITGN à medida que eles se tornavam mais sujos ao longo do tempo.

Eles observaram que em regiões mais áridas, como a península Arábica, o norte da Índia e partes da China, as perdas eram consideráveis ​​- de 17 a 25% ou mais, assumindo que os painéis eram limpos mensalmente. Mas se a limpeza ocorria a cada dois meses, as perdas passavam para 25 ou 35%.

Aí vem a pergunta: por que não fazer uma manutenção mais frequente? Acontece que a limpeza constante dos painéis solares é um processo complexo e, se feita repetidas vezes, aumenta o risco de danificá-los.

Para piorar, existem diferentes tipos de partículas poluentes no ar. Quanto menores em tamanho, como é o caso das micropartículas liberadas pela queima de combustíveis fósseis (petróleo e carvão), mais pegajosas e difíceis de limpar.

Detalhe: os pesquisadores também descobriram que esses poluentes de carbono oriundos de atividades humanas, como transporte e termelétricas a carvão, bloqueiam muito mais a luz solar do que a poeira natural.

"Nós sempre soubemos que esses poluentes eram ruins para a saúde humana e as mudanças climáticas, mas agora mostramos o quão ruim são para a energia solar", disse Bergin em comunicado. Segundo ele, essa nova descoberta representa mais uma razão para os políticos em todo o mundo adotarem controles de emissões, como proposto no Acordo de Paris.

"A China já perde dezenas de bilhões de dólares a cada ano, mais de 80 por cento devido à poluição", afirmou o cientista. "Com a explosão de renováveis ​​no país e seu recente compromisso com a expansão de sua capacidade de energia solar, essas perdas vão aumentar", alertou.

Acompanhe tudo sobre:Energia solarMeio ambientePesquisas científicasPoluição

Mais de Tecnologia

UE multa grupo Meta em US$ 840 milhões por violação de normas de concorrência

Celebrando 25 anos no Brasil, Dell mira em um futuro guiado pela IA

'Mercado do amor': Meta redobra esforços para competir com Tinder e Bumble

Apple se prepara para competir com Amazon e Google no mercado de câmeras inteligentes