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Energia de biomassa tem espaço para crescer

Responsável por 9% da eletricidade consumida no país, a biomassa gera uma energia sustentável que deve receber 26 bilhões de reais em recursos até 2040

Colheita de cana-de-açúcar em São Paulo: planta é uma das biomassas mais usadas para produzir energia no Brasil (Getty Images)

Colheita de cana-de-açúcar em São Paulo: planta é uma das biomassas mais usadas para produzir energia no Brasil (Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 2 de setembro de 2015 às 17h08.

Última atualização em 7 de julho de 2017 às 12h27.

O francês Antoine Lavoisier ficou famoso por cunhar, ainda no século 18, uma das leis mais conhecidas da química moderna: “Na natureza, nada se cria e nada se perde. Tudo se transforma”. Mais de 200 anos depois, seu ensinamento ajuda a entender o mecanismo da terceira fonte de energia mais usada no Brasil – a biomassa.

Responsável por pouco mais de 9% da eletricidade consumida no país, a energia de biomassa é aquela obtida pela queima de materiais orgânicos. Entre os materiais mais usados estão bagaço de cana, casca de arroz, cavaco de madeira e caroço de açaí. Também é possível usar os gases resultantes da decomposição ou incineração de lixo em usinas especializadas.

Em comparação com os combustíveis fósseis, como os derivados de petróleo, esses resíduos geram menos emissões de gases causadores do efeito estufa. Por isso, a biomassa é considerada um tipo de energia sustentável. “A combustão de materiais orgânicos devolve à natureza apenas o carbono que a planta usou para crescer, o que não gera prejuízos ambientais”, diz Manoel Regis Lima Verde Leal, gerente de relações institucionais do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE).

Só as usinas de biomassa cadastradas na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) produziram 17,5% mais eletricidade entre janeiro e maio de 2015 do que no mesmo período do ano passado. Estimativa da Agência Internacional de Energia mostra que a biomassa deve representar 11% da matriz mundial até 2020.

Grande potencial

Há espaço para que a energia de biomassa cresça no Brasil. Segundo o relatório Energy Outlook, produzido pela Bloomberg, o setor deve receber 26 bilhões de dólares em investimentos no Brasil até 2040. Junto com a geração eólica e solar, a biomassa deve ser um dos tipos de energia que mais vai se desenvolver nos próximos anos.

A boa perspectiva também se deve à descoberta desse tipo de energia por parte das indústrias. Grandes empresas que produzem sua própria energia estão substituindo os combustíveis fósseis que moviam suas plantas por fontes alternativas. Entre os principais benefícios está o de alcançar metas de redução de emissão de poluentes.

A biomassa começou a se tornar uma fonte mais atrativa graças ao avanço da tecnologia. Com o aperfeiçoamento dos equipamentos usados na combustão, a eficiência do processo tem aumentado. Um dos principais desafios da indústria é conseguir tirar proveito máximo da biomassa, já que as condições de umidade e conservação dos resíduos impactam diretamente na geração de energia.

Hoje, a biomassa mais utilizada no Brasil é o bagaço de cana-de-açúcar. Segundo os especialistas, ainda há muito espaço para que se aproveite o potencial de outro subproduto da planta – a palha. “A taxa de conversão da cana em energia é de 32% quando utilizamos apenas o bagaço”, afirma Leal, do CTBE. “Com a palha, essa conversão seria da ordem de 37%.”

Outro fator que permite manter uma perspectiva otimista para o futuro da biomassa no Brasil é a disponibilidade de espaço para produzir os resíduos usados nas caldeiras. Atualmente, há 6,5 milhões de hectares sendo utilizados para o cultivo de biomassa de origem florestal. “Ainda existem 200 milhões de hectares de áreas com baixa ocupação econômica que poderiam ser ocupadas com florestas plantadas”, diz Mateus Cerqueira, gerente de combustíveis da Bolt Energias, empresa de geração e comercialização de energia.

A Bolt é um bom exemplo de como esse mercado pode se desenvolver no Brasil. A empresa está construindo em São Desidério, na Bahia, a maior usina térmica movida por biomassa da América Latina. Batizada de Campo Grande BioEletricidade, a usina será abastecida com cavaco de eucalipto proveniente de uma floresta dedicada.

Serão 150 megawatts de capacidade. De acordo com Cerqueira, a previsão de início da operação é janeiro de 2018. “A biomassa é uma fonte de energia que se adapta aos preceitos da economia de baixo carbono. Além disso, o desenvolvimento desse mercado pode ter um impacto importante na geração de empregos e no melhor aproveitamento de nossas áreas verdes”, diz Cerqueira.

Exemplo para o mundo

No cenário internacional, a Dinamarca é uma referência na geração de energia por meio de biomassa. De toda a energia renovável consumida no país, 76% vêm dessa fonte, segundo a Associação Dinamarquesa de Energia.

A biomassa popularizou-se na Dinamarca por causa de um ambicioso plano de redução de emissão de gases derivados do carbono. Até 2035, o objetivo é que 100% da energia usada para aquecimento seja proveniente de biomassa. Hoje, pouco mais da metade do sistema de calefação usa esse combustível.

Para cumprir seu plano de incentivo a essa energia sustentável, a partir de 2016, a Dinamarca deve começar a importar lixo da Polônia e da Alemanha. “Na Europa, a coleta seletiva é um processo avançado, e, por isso, o lixo está se tornando um combustível mais comum para a geração de energia”, diz Manoel Leal, do CTBE.

Para que o Brasil siga os passos da Dinamarca, ainda precisamos avançar. “O lixo seletivo não é facilmente armazenável por períodos longos. Por isso, é preciso estabelecer um processo logístico eficiente para transformar esse material em energia”, diz Leal. Disponibilidade de resíduos não deve ser um problema. Dados do Banco Mundial mostram que, entre 2005 e 2025, a produção de lixo no Brasil deve crescer 50% – ante 25% da média mundial.

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