Tecnologia

Empresas brasileiras não têm cultura de inovação, dizem especialistas

A aprovação da Lei de Inovação Tecnológica, em tramitação no Senado, é bem-vinda, mas especialistas afirmam que, sozinha, ela não será capaz de desenvolver o país

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h36.

O Brasil não pode contar apenas com a Lei de Inovação Tecnológica para dar um salto neste setor. Segundo os especialistas, o principal problema não são as imperfeições do projeto de lei que tramita atualmente no Senado, após ser aprovado na Câmara. "Para ser bem claro, ainda não caiu a ficha das empresas de que inovação é um elemento estratégico de competitividade", diz Flávio Grynszpan, diretor do departamento de Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Segundo Grynszpan, as décadas de turbulência econômica, em que o país sofreu com a hiperinflação, não permitiam aos empresários que planejassem seus negócios a longo prazo - fator essencial para se investir em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos. A ordem era sobreviver até que as coisas acalmassem. Mas, com a abertura econômica, em 1991, a queda da inflação, a partir de 1994, e a desvalorização cambial, em 1999, o ambiente macroeconômico ficou mais calmo e o mundo empresarial tornou-se mais competitivo. Mas, mesmo com a possibilidade de investimentos de maior maturação (como os necessários para inovação tecnológica), os empresários não se animam. "A indústria é um dos principais gargalos da inovação", diz. Algumas empresas, porém, estão encontrando formas criativas de incentivar a inovação, como mostra reportagem de EXAME.

Em julho deste ano, a Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), divulgou uma pesquisa em que traçou o cenário da inovação tecnológica entre as indústrias. De um universo de 72 005 empresas pesquisadas, apenas 22 698 (31,5% do total) realizaram algum tipo de inovação de produto ou processo produtivo entre 1998 e 2000. Deste grupo que se esforçou por criar algo novo, apenas 4% lançaram produtos inéditos no mercado neste período - os demais apenas anexaram ao seu mix produtos que já existiam no país. O que mais chama a atenção é o desprestígio da pesquisa, mesmo entre os que a praticaram. "Das poucas empresas que inovaram, 67% disseram que as novas tecnologias e produtos eram pouco importantes para sua estratégia", diz Francelino Grando, secretário de Política e Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Falta de porte

Para o presidente da Rhodia, Walter Cirillo, um dos problema é a falta de porte das empresas brasileiras, cujo faturamento não é capaz de sustentar uma boa estrutura interna de P&D. "Poucas empresas são capazes de investir 2% de sua receita em inovação", diz Cirillo, que também preside o Instituto Uniemp, uma organização não-governamental dedicada a aproximar empresas, universidades e institutos de pesquisa.

Conforme Cirillo, um dos problemas é que a grande maioria do setor empresarial, no Brasil, é composta por micro, pequenas e médias empresas que não contam com políticas públicas específicas para fomentar seu desenvolvimento tecnológico. Neste sentido, sua crítica ao projeto de lei que tramita no Senado é a ausência de incentivos específicos aos clusters industriais. "Uma empresa não será competitiva se estiver numa cadeia produtiva ineficiente", afirma.

Alternativas

O apoio público, por meio de linhas de financiamento, bolsas para pesquisa e outros mecanismos, é apontado como uma forma de contornar a incapacidade das empresas investirem individualmente. Mas, mesmo neste aspecto, a responsabilidade para fazer as coisas andarem cabe mais à iniciativa privada que ao governo. "Hoje, de um modo geral, os estímulos públicos à inovação já são suficientes. Acho que existe mais uma crise de demanda destes recursos do que de disponibilidade", diz Ozires Silva, presidente da Pelenova, empresa especializada em biotecnologia. "No fundo, a inovação vem das empresas", diz.

Neste ano, o governo federal reservou 30 milhões de reais para aplicar em tecnologia industrial. O orçamento total do MCT para 2005, proposto no Orçamento apresentado ao Congresso, é de 2,6 bilhões de reais, contra 2,1 bilhões neste ano. Os recursos dos fundos setoriais devem subir de 600 milhões para 800 milhões. "É um pequeno avanço, mas é preciso haver demanda por estes recursos", diz Grando, do MCT. "Mas eu gostaria de ser pressionado para poder brigar por mais recursos", afirma.

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