Repórter
Publicado em 17 de novembro de 2025 às 10h31.
Última atualização em 17 de novembro de 2025 às 10h33.
Berkshire Hathaway comprou 17,85 milhões de ações da Alphabet, dona do Google, numa operação avaliada em US$ 4,93 bilhões até o fim de setembro. O movimento, revelado por meio de um relatório à SEC, órgão regulador do mercado nos EUA, impulsionou as ações da Alphabet, que subiram 5,2% na segunda-feira (11).
A transação marca uma das últimas grandes apostas do conglomerado sob a liderança de Warren Buffett, que deve deixar o cargo de CEO da Berkshire em 2025, após seis décadas à frente da empresa. Ele será sucedido por Greg Abel, atual vice-presidente responsável por operações não relacionadas a seguros.
Sundar Pichai, CEO da Alphabet, e Warren Buffett, presidente da Berkshire Hathaway; conglomerado investiu quase US$ 5 bilhões na dona do Google em uma de suas raras apostas no setor de tecnologia
Embora ainda não esteja claro se a decisão partiu de Buffett, de seus gestores de portfólio Todd Combs e Ted Weschler, ou do próprio Abel, o bilionário costuma supervisionar os aportes de maior valor. A compra também é simbólica: durante reunião anual da empresa em 2019, Buffett e Charlie Munger, então vice-presidente, lamentaram publicamente não terem investido antes no Google.
O investimento ocorre em um momento de forte desconfiança do mercado em relação aos gastos elevados de grandes empresas de tecnologia com inteligência artificial, a IA. As companhias têm alocado bilhões de dólares na construção de centros de dados e na aquisição de chips especializados, como os da Nvidia, para sustentar essa nova fase de desenvolvimento computacional.
Apesar das preocupações com a sustentabilidade desse ciclo de investimentos em IA, o movimento da Berkshire sinaliza uma leitura mais seletiva do setor. O preço das ações da Alphabet, com múltiplo de 25 vezes o lucro estimado para os próximos 12 meses, ainda é considerado moderado frente a pares como Nvidia (30x) e Microsoft (29,3x), segundo dados da LSEG.
A aposta em Alphabet vem na esteira de uma redução da posição em outras gigantes: a empresa cortou sua participação na Apple, embora esta continue sendo o maior investimento individual da carteira de ações da Berkshire, avaliado em US$ 64,9 bilhões. A fatia no Bank of America também foi reduzida, dando continuidade a um movimento iniciado no ano passado.
Por outro lado, a Berkshire tem mantido seu caixa em níveis recordes, o que preocupa parte dos investidores que enxergam isso como um sinal de cautela diante de possíveis sobrevalorizações no mercado americano. O investimento em Alphabet pode indicar um reposicionamento mais oportunista, priorizando empresas resilientes em meio a um cenário incerto.
As ações da Alphabet acumulam alta de 46% no ano, desempenho superior ao índice S&P 500, referência da bolsa americana. Ainda assim, a maior parte do portfólio de ações da Berkshire segue concentrada em serviços financeiros, que representam 36,6% dos ativos de capital listados até setembro, segundo levantamento da Morningstar.