Luis Felipe Dau: mudança cultural na empresa para promover a criação de novos produtos (André Kopsch/Divulgação)
Rafael Kato
Publicado em 25 de agosto de 2017 às 13h05.
Última atualização em 25 de agosto de 2017 às 15h32.
Depois de chegar a robôs industriais e carros inteligentes, a internet das coisas entrou numa fria. O sistema, que conecta dispositivos eletrônicos de equipamentos usados no dia-a-dia, virou a maior aposta da fabricante de compressores Embraco, de Santa Catarina. Para reduzir custos e aumentar vendas, a companhia levou o sistema para geladeiras comerciais. Chamado de diili, o sistema coleta informações de refrigeradores — abastecidos com alimentos ou bebidas — como temperatura, abertura de portas, quantidade de produtos armazenados e consumo de energia.
“Com esse sistema de Internet das Coisas, nós já estamos observando em nossos clientes um aumento de até 15% das vendas e reduções de 5% no consumo de energia e de 10% no custo de manutenção dos refrigerados”, afirma Luis Felipe Dau, presidente da Embraco.
A Embraco, que faz parte do grupo Whirlpool — dono das marcas Consul e Brastemp —, fabrica compressores para refrigeradores domésticos e comerciais. O diili está disponível apenas para os aparelhos utilizados pelos seus clientes corporativos, que colocam suas geladeiras personalizadas em estabelecimentos como mercados, lanchonetes e restaurantes. As informações captadas pelas geladeiras inteligentes são enviadas para um serviço na nuvem. As marcas que gerenciam os aparelhos podem consultar todos os dados por meio de um aplicativo disponível para dispositivos com o sistema operacional Android. São consultadas informações como temperatura, necessidade de manutenção preventiva do equipamento e até o comportamento dos consumidores na frente do refrigerador.
“Conseguimos saber o número de abertura de portas, se a eventual promoção de produtos está indo bem e até fornecer dados para a cadeia de suprimentos da marcas para uma eventual reposição de produtos”, diz Dau.
O desenvolvimento desse sistema começou em meados de 2016 e ganhou um reforço em março deste ano depois da Embraco adquirir a startup UpPoints, startup de Florianópolis, especializada na captura e análise de imagens do comportamento dos consumidores em pontos de venda. Por meio do grande volume de dados armazenado e do uso de algoritmos, a startup consegue sugerir mudanças na disposição dos produtos para que as vendas aumentem.
Segundo estudo da Business Software Alliance (BSA), entidade global representa a indústria de software, atualmente apenas 1% das coisas que poderiam estar conectadas realmente estão plugadas na rede. A previsão é de que até 2020, 50 bilhões de aparelhos estarão conectados. Segundo a consultoria McKinsey, até 2025, o IoT (Internet of Things, em inglês) poderá gerar até 11,1 trilhões de dólares anualmente em melhorias de eficiência e geração de novos negócios.
Um das grandes expectativas do IoT é que ela possa reduzir o consumo de energia elétrica e contribuir para a redução de gases do efeito estufa. De acordo com a BSA, 10% do consumo de energia pode ser reduzido nas casas com a ampla adoção de IoT na próxima década. Nas fábricas, essa redução é prevista para algo entre 20% e 30%. Esse tem sido, justamente, um apelo importante no uso do diili. Ao capturar informações de uso e de abertura de portas, ele pode controlar melhor o ciclo de funcionamento da geladeira. Isso acaba tendo um impacto direto na conta de energia, um dos insumos mais importantes — e caros — dos varejistas.
A Internet das Coisas também é tida como uma das catalisadoras de mudanças dentro das empresas. De acordo com o Brookings Institution, um think tank americano, as empresas precisam repensar cada vez mais o que fazem e como fazem os seus produtos. Para geladeiras, por exemplo, é significativo que alguns aparelhos já tenham hoje mais linhas de código de programação do que computadores desktop do início dos anos 1990.
Para uma empresa como a Embraco, fundado nos anos 1970, isso significa ter que sair da sua zona de conforto e se arriscar em novos segmentos. A cada cinco refrigeradores no mundo, um utiliza um compressor fabricado pela empresa. O diili é o início de uma transição de uma fábrica para uma empresa que oferece serviços e informações contínuas. “Temos um DNA de inovação, mas precisamos ir além do compressor, que continuará sendo uma área importante e nossa vocação. Mas essa mudança é necessária para o nosso futuro”, diz Dau.