Great Firewall é o nome informal do mecanismo projetado para bloquear acessos e controlar o fluxo de informações na China (Thomas Peter/Reuters)
Redator
Publicado em 12 de setembro de 2025 às 08h40.
Um vazamento de mais de 100 mil documentos revela que uma empresa chinesa pouco conhecida, a Geedge Networks, tem vendido discretamente sistemas de censura inspirados no "Great Firewall" – nome informal do mecanismo projetado para bloquear acessos e controlar o fluxo de informações na China – para governos ao redor do mundo.
Fundada em 2018, a Geedge se posiciona como fornecedora de ferramentas de monitoramento de redes, oferecendo soluções de cibersegurança para "garantir visibilidade abrangente e minimizar riscos de segurança" para seus clientes. No entanto, a análise dos documentos vazados revela que a empresa opera um sistema sofisticado que permite monitorar informações online, bloquear sites específicos e redes privadas virtuais (VPNs), além de espionar indivíduos.
Os documentos mostram que Geedge comercializa um sistema de vigilância avançado, que pode ser visto como uma versão comercial do mecanismo oficial chinês. Ele inclui hardware que pode ser instalado em qualquer data center de telecomunicações e software capaz de ser operado por funcionários locais do governo.
Segundo o material vazado, a empresa já está operando em países como Cazaquistão, Etiópia, Paquistão e Myanmar, com planos de expansão para outras localidades. A Wired encontrou vagas de emprego da Geedge que procuravam engenheiros dispostos a trabalharem em vários países além dos mencionados nos documentos, como Malásia, Bahrein, Argélia e Índia. A empresa também já procurou tradutores especializados em francês e espanhol para apoiar seus negócios internacionais.Além disso, os documentos revelam recursos adicionais nos quais a empresa está trabalhando, como ataques cibernéticos sob demanda e geofencing (restrição de acesso a certos usuários com base na localização).
O sistema de censura da Geedge oferece ao governo um controle abrangente sobre o tráfego de internet, permitindo filtrar e interromper pacotes de dados, interceptar informações sensíveis e monitorar usuários específicos, baseando-se em suas atividades online.
Em Myanmar, por exemplo, os documentos mostram que, em fevereiro de 2024, a Geedge havia instalado seu sistema em 26 data centers, com capacidade para monitorar até 81 milhões de conexões simultaneamente.
Em outros países, a empresa tem sido acusada de atuar como facilitadora de censura digital em larga escala, possibilitando o monitoramento e bloqueio de ferramentas de evasão como VPNs.