Tecnologia

É insano que Musk possa desestabilizar países inteiros, diz Bill Gates

Em sua autobiografia, o cofundador da Microsoft revisita sua infância, a amizade perdida e os desafios da tecnologia moderna

Publicado em 29 de janeiro de 2025 às 06h48.

Última atualização em 29 de janeiro de 2025 às 06h49.

Os embates entre Bill Gates e Elon Musk vêm se acumulando há anos, envolvendo temas como vacinas da covid-19, inteligência artificial e a transformação do Twitter (agora X).

Mas o que realmente fez o sangue de Musk ferver foi a revelação de que Gates havia apostado contra as ações da Tesla, um golpe que o magnata da SpaceX jamais perdoou.

Agora, Gates atacou novamente.

Em entrevista ao The Times of London, o cofundador da Microsoft (MSFT) acusou Musk de usar sua fortuna e sua influência digital para "desestabilizar politicamente países inteiros". Musk, o homem mais rico do mundo, tem se envolvido cada vez mais na política europeia, provocando líderes eleitos e flertando abertamente com figuras extremistas e partidos de ultradireita no Reino Unido e na Alemanha.

"É insano que Musk possa desestabilizar países inteiros", afirmou Gates. Para ele, o dono da Tesla e da SpaceX exerce uma influência desmedida sobre a política global, algo que deveria ser mais regulado.

Recentemente, em entrevista ao Wall Street Journal, Gates elogiou os esforços de Musk em reduzir os gastos públicos dos Estados Unidos à frente do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês). No entanto, o bilionário alertou para riscos em cortes de programas essenciais."Os EUA estão mantendo dezenas de milhões de pessoas vivas com medicamentos contra o HIV. Cortar isso agora não só resultaria em mortes iminentes, mas também afetaria negativamente a reputação do país, especialmente na África", disse Gates.

O cofundador da Microsoft, em entrevista ao The Times, também criticou a decisão de Mark Zuckerberg, da Meta (META), de recuar no combate à desinformação no Facebook, especialmente com o retorno de Donald Trump à presidência.

Para Gates, o problema da desinformação está “fora de controle” e o impacto das redes sociais pode ser catastrófico, principalmente em questões como vacinação e saúde pública. Segundo ele, nem governos, nem empresas parecem dispostos a "consertar ou melhorar" esse cenário, o que pode custar vidas, criando uma situação "preocupante".

Apesar das críticas, Gates continua otimista sobre o futuro da inovação e acredita que a tecnologia ainda pode ser um vetor de progresso — desde que usada com responsabilidade.

O que moldou Gates

Se hoje ele é um dos homens mais ricos do mundo, com um patrimônio estimado em US$ 100 bilhões, sua jornada começou de maneira bem diferente. Em Source Code, Gates fala sobre sua infância e revela um trauma que o marcou profundamente: a morte de Kent Evans, seu melhor amigo e parceiro nos primeiros passos na programação.

Kent, que sonhava em ser um grande CEO com Gates, morreu tragicamente em um acidente de escalada aos 17 anos. “Ele me ajudou a ter direção. E, de repente, ele se foi. Pensei: ‘Estou sozinho agora’”, lembra Gates. O luto moldou seu caráter competitivo e o impulsionou ainda mais a se destacar.

“Nós líamos biografias de CEOs e imaginávamos como seria ter US$ 15 milhões. Sete anos depois, eu estava no topo da lista da Forbes.”

O impacto da amizade foi tão grande que, décadas depois, Gates ainda se lembra do número de telefone de Kent e da última conversa que tiveram.

Em um trecho surpreendente da entrevista, Gates reconhece que provavelmente seria diagnosticado dentro do espectro do autismo se tivesse crescido atualmente. “Eu era obsessivo, perdia as pistas sociais, podia ser rude ou inapropriado sem perceber”, explica.

Sua mãe, descrita como uma "prototípica mãe tigre", tentava incentivá-lo a se envolver em atividades esportivas e sociais, mas o jovem Gates preferia ficar no quarto estudando ou jogando cartas. “Aprendi a pensar estrategicamente jogando com minha avó. Quando finalmente ganhei dela, foi uma sensação incrível.”

Foi apenas na adolescência, ao encontrar o primeiro computador da escola, que ele realmente se encontrou. O jovem excêntrico e desorganizado virou o melhor aluno da classe e, com Paul Allen – futuro cofundador da Microsoft –, começou a desenvolver softwares inovadores.

Microsoft, filantropia e os desafios do futuro

Gates largou Harvard para fundar a Microsoft e, aos 31 anos, já era bilionário. Desde então, sua vida se dividiu entre o mundo da tecnologia e a filantropia. Sua Fundação Bill e Melinda Gates já doou mais de US$ 59 bilhões para causas como erradicação da pólio e combate à malária.

Mas ele admite que seu maior erro foi o fim de seu casamento de 27 anos com Melinda French. “Foi a coisa mais difícil que vivi. Durante dois anos, foi miserável”, revela.

Agora, Gates foca no futuro e nas mudanças que a tecnologia pode trazer. “A IA e os robôs podem substituir os humanos”, alerta. Ainda assim, ele mantém o otimismo: “A inovação nunca parou de nos surpreender. Acho que as pessoas ainda se importam.

O legado Gates

Aos quase 70 anos, Gates não pretende se aposentar. Ele continua a investir em energia limpa, vacinas e projetos sociais. Sua fortuna, ele garante, será quase totalmente doada.

“A filantropia me dá propósito. Se posso salvar vidas e melhorar o mundo, então vale a pena", disse ele.

Mesmo com seu papel cada vez menor na Microsoft, sua influência na tecnologia e nos negócios ainda é incontestável – e suas críticas a figuras como Musk e Zuckerberg mostram que ele não pretende ficar calado.

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