Projeto na Costa Rica (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 21 de agosto de 2015 às 14h29.
Drones utilizados em missões militares no Iraque e no Afeganistão hoje fazem parte do projeto de uma organização ambiental da Costa Rica, que busca proteger tartarugas e tubarões em risco de extinção no Pacífico.
Em uma experiência piloto recente, o Programa de Restauração da Tartaruga Marinha (Pretoma) uniu um drone, um submergível de profundidade, sonares e outros recursos de alta tecnologia para estudar os padrões migratórios dos tubarões-martelo e das tartarugas marinhas que transitam pela Ilha do Coco, na Costa Rica, disse em entrevista à AFP o diretor da organização, Randall Arauz.
A esse esforço se uniram organizações não-governamentais e empresas privadas, que forneceram os recursos na esperança de proteger essas espécies, cujas populações diminuíram drasticamente.
A empresa americana Precision, que presta serviços especiais para o exército dos Estados Unidos em zonas de guerra, forneceu um drone para detectar a presença de barcos pesqueiros que operam de forma ilegal nessa área.
"O trabalho que a Pretoma faz é de grande importância. A Precision tem muita experiência em encontrar os 'bandidos' e queremos ajudar com nossas habilidades e recursos a melhorar o mundo de uma maneira diferente", disse à AFP a gerente do Projecto UAV (Unmanned Aerial Vehicle) da Precision, Charissa Moen.
A executiva disse que os drones podem voar sem serem vistos, detectar os pescadores ilegais e recolher as provas necessárias para que sejam condenados por tribunais.
A aeronave também está equipada de câmeras infravermelhas que seguem os movimentos de baleias e tubarões em águas superficiais, informação útil para os objetivos da investigação.
A organização Dalio Ocean Initiative forneceu um submarino e barcos infláveis para uma parte essencial do projeto: a localização das rotas seguidas pelas tartarugas e tubarões-martelo, dise Arauz.
"Observamos que os tubarões se movem entre a Ilha do Coco (a cerca de 500 km a sudoeste da Costa Rica) e as Ilhas Galápagos (no Equador), ao longo de uma cordilheira vulcânica submarina chamada Las Gemelas, com cerca de 600 km de comprimento", explicou o ambientalista.
Caso essa observação seja confirmada, ficaria demonstrado que entre a Ilha do Coco e Galápagos existe um corredor biológico utilizado por essas espécies, descoberta que segundo Arauz "teria grande importância para sua conservação".
O corredor da vida
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), entre 73 e 100 milhões de tubarões morrem anualmente pela sobrepesca, destinada a satisfazer a demanda de barbatanas do mercado asiático.
Essa exploração intensiva coloca em perigo de extinção várias espécies desse peixe, forma de vida com 400 anos de existência graças à sua grande capacidade de adaptação, mas que não está conseguindo acompanhar a voracidade humana.
Diversas pesquisas científicas revelam também uma diminuição da chegada de tartarugas-de-couro e outras espécies às praias de nidificação em todo o continente americano, em alguns casos de até 90%.
"Agora são feitos muitos esforços para proteger as tartarugas e o tubarão-martelo, mas é difícil protegê-los na imensidade do mar. Mas se confirmarmos que há corredores biológicos, podemos concentrar os esforços e conseguir resultados mais eficazes", explicou o ambientalista.
Recentemente, utilizando os submarinos da Dalio Ocean Initiative, a organização Pretoma instalou um receptor de ondas sonoras a 180 metros de profundidade acima da cordilheira submarina Las Gemelas, com o qual poderá seguir o rastro de uma centena e meia de tubarões e tartarugas que receberam implantes com dispositivos emissores dessas ondas.
O plano é completo com os sistemas de acompanhamento desenvolvidos por outras ONGs internacionais, como a Missão Tubarão, nas Ilhas Galápagos.
"Acreditamos que esta pesquisa nos dará argumentos para pressionar os governos da Costa Rica, Colômbia ou Equador pela proteção das espécies ameaçadas nesse corredor", disse Arauz.
Recursos: problema central
Os drones e submarinos não ficarão na Ilha do Coco de maneira permanente e também não é necessário que seja assim, disse Arauz, que considera que duas ou três visitas ao ano será suficiente.
As equipes e suas operadoras são assunto resolvido, pois tanto a Precision como a Dalio se comprometeram a trabalhar de forma gratuita, mas os custos de transportar as máquinas e o pessoal da Costa Rica até a ilha são muito elevados.
O governo "nos dá todo o apoio na gestão dos recursos necessários para a continuidade do projeto e estamos concentrados nisso", disse.
Com os recursos disponíveis poderia se transformar em um santuário natural uma das regiões mais ricas em biodiversidade marinha no mundo, onde existem não só muitas tartarugas e tubarões, mas centenas de espécies de peixes e outras formas de vida.