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Diretor da 4G Americas aborda atrasos no setor de telefonia

Em entrevista a Info, Erasmo Rojas, diretor para América Latina e Caribe da 4G Americas, fala sobre redes 4G e da qualidade do serviço prestado no país


	Erasmo Rojas, diretor da 4G Americas: Funcionários de operadoras estão treinados para vender planos de voz, diz Rojas
 (Divulgação)

Erasmo Rojas, diretor da 4G Americas: Funcionários de operadoras estão treinados para vender planos de voz, diz Rojas (Divulgação)

RK

Rafael Kato

Publicado em 13 de outubro de 2013 às 12h57.

São Paulo - O Brasil tem a tarifa de celular mais cara do mundo. O estudo divulgado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) nesta semana mostra que o preço por minuto para ligação entre celulares de uma mesma operadora é de 0,71 de dólar, o que coloca o país no topo de um ranking com 161 nações. Na Argentina, por exemplo, o minuto sai por 0,32, enquanto que no Peru o valor é de 0,18 de dólar.

A telefonia é cara, mas a qualidade não é tão boa assim. Em agosto, a Anatel afirmou em relatório que cidades como São Paulo e Rio não possuíam boa qualidade de redes de dados, pois as operadoras não cumpriam as metas estipuladas pelo governo.

Antes da divulgação desses dados, INFO conversou com Erasmo Rojas, diretor para América Latina e Caribe da 4G Americas, uma organização que defende os interesses dos operadores de telefonia móvel do continente americano, além de fabricantes de aparelhos e fornecedores de infraestrutura. A entrevista tratou das redes 4G e da qualidade do serviço prestado no país. Veja:

O Brasil correu com o desenvolvimento do 4G por conta da Copa do mundo. Foi uma pressão da FIFA para o Brasil poder sediar o evento. Se não tivéssemos a Copa do Mundo, então como estaríamos hoje? Teríamos feito o 4G?

Eu acho que o desenvolvimento é, sem dúvida, por causa da Copa do Mundo. O planejamento foi todo baseado nos jogos esportivos. O que aconteceu é que o leilão foi feito um pouco tarde, em junho de 2012. Mas o governo, de certa forma, pelas redes, pois, apesar de um leilão tardio, não mudou a data de operação em Abril de 2013. Agora, os resultados que escutamos da Copa das Confederações é que dentro dos estádios as redes de 4G funcionaram bem. Os operadores dividiram as partes do estádio, com antenas de rede distribuída. O problema era que o acesso ao estádio demorou muito tempo, como filas, revistas policiais, e as operadoras — pela falta de tempo — só se concentram no estádio, só que o estádio não foi o único ponto importante. As pessoas queriam acessar fora. O governo comenta que é isso que temos que corrigir. Quando se tem um cronograma tão apertado, então coisas desse tipo acontecem.

Mas o senhor acha que é possível reverter o problema em 2014?

Sim, acho que agora temos tempo. São Paulo agora tem uma rede LTE, então pode se fazer vários testes. Uma coisa é que não é preciso um serviço bom no estádio, mas também quando os visitantes saíram dos estádios e forem para os hotéis, restaurantes e lojas.

O preço de um plano de dados no país é um grande impeditivo para as pessoas trocarem seus aparelhos e seus pacotes, lembrando que ainda os features phones com 2G são maioria por aqui. Quem tem 3G reclama da qualidade da rede e da experiência negativa com a operadora. Esse usuário dificilmente migraria para um plano de 4G bem mais caro. Como trazer mais usuários para o 3G e 4G sem cobrar preços exorbitantes?

No México, por exemplo, as operadoras não sabiam como posicionar o 4G e falaram o seguinte para o usuário: você tem um plano de dados de 3G e quer ir para o 4G? Então você não pagará mais nada por isso, desde que você faça os mesmos usos. Você só vai precisar trocar o aparelho e ganhar uma rede dez vezes mais rápida. Agora, se você for ver vídeos de alta definição e ficar o tempo todo no Youtube, então teremos esse plano 4G para você. Foi um plano de degustação.


No Brasil o senhor não vê isso?

Aqui eles não tiveram tempo de pensar esse tipo de coisa. Eles correram com o plano para a Copa do Mundo. Agora, eles terão tempo para pensar nos planos com calma. Podem, por exemplo, criar uma degustação ou planos especiais para o Natal. No Brasil existe uma desconfiança com o 3G. O usuário fala: se o 3G, não funciona, por que vou pagar mais por 4G? Se eu fosse o operador eu responderia: Você vai provar o 4G e não vai pagar mais por isso. O que fazer com o usuário pesado de 3G que não está satisfeito? É essa pessoa que o operador deve identificar e oferecer essa migração para o 4G sem custo. Isso traria um respiro para a própria rede. Hoje você não consegue usar o 3G porque há uma pessoa do seu lado vendo um vídeo e chupando todo o espectro. Com a migração você melhora as duas redes, descongestionando o 3G.

O senhor acha que o mercado brasileiro cresceu demais e as operadoras não se preparam para receber essa grande quantidade de usuários? As lojas têm filas e os call centers vivem congestionados, por exemplo.

Os canais de distribuição não estavam preparados. O pessoal não tinha treinamento necessário. Nos Estados Unidos, o usuário primeiro encontra muita informação na internet e quando ele esta convencido de algo, então vai lá e compra. O usuário americano não vai à loja saber. Na América Latina os operadores não encontraram uma força de venda para o 4G. Eles não se preparam para vender dados, que é algo muito diferente de vender voz.

Então o que o senhor quer dizer é que o funcionário de uma operadora está treinado para vender voz e não para vender dados?

A maioria está treinada para vender voz e para vender o plano que ele conhece. Ele não está pensando na necessidade do usuário, mas sim naquilo que ele sabe vender. Se ele não está treinado para vender dados, então irá vender voz.

Uma grande questão do Brasil é o preço da telefonia. Os operadores culpam os impostos. A organização do senhor faz lobby para baixar impostos?

Nós falamos que os impostos são altos, que é preciso uma desoneração. Mas a resposta é que se eles abaixarem aqui, então eles terão que aumentar em outra ponta que não afete o sistema. O problema é que para as camadas A e B não importa, pois eles vão pagar o preço que for porque tem dinheiro. Mas o gap digital esta nas camadas baixas que é a mais afetada pelos altos impostos. É preciso, por exemplo, que para as camadas mais baixas sejam feitas planos especiais, como tirar o imposto de vendas para eliminar a barreira de entrada. Não é um plano geral para todo o Brasil, mas algo que atenda as pessoas mais pobres. Assim daremos condições para as pessoas menos favorecida para que aos poucos tenham acesso a essas tecnologias.

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