Tecnologia

Direção autônoma pode arruinar Tesla Model S

A empresa de Elon Musk queima mais de US$ 7.430 por minuto

O Model S, da Tesla Motors (Tesla/Divulgação)

O Model S, da Tesla Motors (Tesla/Divulgação)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 19 de junho de 2018 às 16h47.

Nos últimos tempos, boa parte do interminável burburinho em torno da Tesla tem se centrado em assuntos não relacionados ao que a empresa de fato vende.

O plano da Tesla de cortar 9 por cento da força de trabalho têm tido destaque, assim como a vida amorosa do fundador Elon Musk.

Há também muito a discutir no que diz respeito à saúde financeira da Tesla. Segundo dados compilados pela Bloomberg no mês passado, a empresa queima mais de US$ 7.430 por minuto e o fluxo de caixa livre -- a quantia em dinheiro que uma empresa gera após contabilizar os gastos de capital -- ficou negativo por seis trimestres consecutivos. Esse valor negativo chegou a um inchado total de US$ 1 bilhão quando a Tesla divulgou os resultados, em 2 de maio.

Por isso, eu queria escrever uma coluna sobre um campo no qual a empresa continua acertando: carros. A Tesla pode não ter pretendido que seu sedã, que transporta até sete pessoas, fosse um carro que te faria querer disputar corridas de arrancadas em cada semáforo, mas é exatamente isso que ele é. Na semana passada, testei a tecnologia mais recente do Model S P100D para verificar como anda a marca, e o carro me deu a tal sensação de poder e adrenalina. Um sedã!

Digo isso na posição de alguém que dirigiu um Porsche 911 T 2018 na véspera. Alguns dias antes, eu estava atrás do volante de um Ford Mustang GT de 460 cavalos e, antes disso, conduzi um Aston Martin DB11. Com um tempo de aceleração de 0 a 60 milhas por hora (96 km/h) em 2,5 segundos prometido no site (e de 2,28 segundos reportado por testes subsequentes), o Tesla Model S P100D destrói qualquer coisa que se atreva a se posicionar na linha de partida ao lado dele.

A justaposição de todos esses carros levantou um problema que continuei remoendo enquanto dirigia por Nova York. A estratégia de vendas da Tesla -- e sua atual estrutura de preços -- é voltada a todos, não só aos que amam dirigir: às pessoas que vão de carro para o trabalho, aos nerds da tecnologia, àqueles que dirigem pela primeira vez um Tesla, aos californianos ricos que gostam de se exibir -- a todos os que são o oposto dos fãs do câmbio manual e das pistas. Mesmo assim, o Model S P100D oferece uma experiência de direção autêntica e poderosa que certamente injetará adrenalina nas veias até mesmo do motorista mais exigente.

Mas ao adicionar camadas de faculdades autônomas aos seus produtos, a Tesla ameaça entorpecer e, futuramente, eliminar a emoção de dirigir -- exatamente aquilo que sempre considerei a surpresa que mais dá prazer nesse carro. Será que o conforto de ter a tecnologia cuidando das coisas para você vale o preço de desistir da diversão de uma experiência real?

Será que a Tesla futuramente tornará o carro totalmente autônomo? É provável. Mas quando isso acontecer, a empresa terá perdido algo. Os carros, mesmo com as frustrações do trânsito lento e dos espaços limitados para estacionar, representam uma das últimas formas tangíveis de encarnar -- e de sentir -- poder e liberdade. O Tesla Model S P100D é um dos melhores carros subestimados que existem para os motoristas de verdade. Eu votaria em manter as coisas assim.

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