Tecnologia

Demissões em big techs atingem cargos de diversidade e inclusão

A turbulência no setor põe sob ameaça as promessas das empresas de impulsionar grupos sub-representados em suas fileiras de liderança

Demissões: empresas de tecnologia realizaram cortes em massa no começo de 2023 (ljubaphoto/Getty Images)

Demissões: empresas de tecnologia realizaram cortes em massa no começo de 2023 (ljubaphoto/Getty Images)

No Twitter, a equipe de diversidade, equidade e inclusão encolheu de 30 para apenas duas pessoas, disse um ex-funcionário.

Um outro profissional desse coletivo, que foi demitido de uma conhecida empresa de aplicativo de transporte, contou que não tem avançado em sua busca por emprego, já que outras companhias de tecnologia também fazem um balanço de suas finanças.

Dois especialistas que pertencem a minorias também perderam o emprego no fim do ano passado.

Segundo eles, seus ex-empregadores, duas gigantes de tecnologia, haviam suspendido totalmente a definição de metas de longo prazo para seus departamentos pouco antes das demissões.

Os cortes que afetam o setor de tecnologia têm minado os departamentos de diversidade, equidade e inclusão (DEI, na sigla em inglês), o que ameaça as promessas das empresas de impulsionar grupos sub-representados em suas fileiras e liderança.

Ofertas de empregos DEI caíram 19% no ano passado – uma queda mais forte do que em vagas nas áreas jurídicas ou de recursos humanos, de acordo com dados da Textio, que ajuda empresas a criarem anúncios imparciais. Apenas cargos em engenharia de software e ciência de dados tiveram declínios maiores, de 24% e 27%, respectivamente.

A Bloomberg News identificou profissionais DEI que perderam empregos nas últimas semanas na Amazon.com, Meta Platforms, Twitter e Redfin. Muitos disseram que suas responsabilidades devem ser atribuídas a ex-colegas que ficaram ou aos chamados grupos de recursos, que muitas vezes não são remunerados por esse trabalho.

Um porta-voz da Amazon disse que as prioridades DEI da varejista online não mudaram e que a empresa continua comprometida com seus objetivos. Um porta-voz da Redfin afirmou que a companhia tem investido no crescimento de sua equipe DEI desde 2021 e, apesar de uma recente demissão, o grupo é maior do que no início de 2022. Um representante da Meta não quis comentar.

“Estou cautelosamente preocupado - não que esses cargos sejam zerados, mas haverá um aumento dos cargos tipo ‘canivete suíço’”, o que significa que mais profissionais DEI serão esparramados à medida que assumem funções extras de trabalho”, disse Kieran Snyder, CEO da Textio. O fenômeno não deve se limitar à tecnologia, já que as demissões atingem outros segmentos da economia.

Boom de diversidade

Nos últimos anos, houve um “boom” de contratações com foco em diversidade e inclusão. Após os protestos do movimento Black Lives Matter em 2020, empresas de todos os tipos prometeram aumentar a diversidade racial e de gênero em suas fileiras. Dezenas trouxeram seus primeiros diretores de diversidade e inclusão. Nos três meses após o assassinato de George Floyd, ofertas de emprego DEI subiram 123%, de acordo com dados do site de empregos Indeed.

Agora, justo quando companhias de tecnologia começavam a avançar nesse campo, passam a reduzir essas equipes antes de atingirem totalmente as metas ou criar forças de trabalho que se pareçam com a população americana em geral. A diretora de diversidade da Meta, Maxine Williams, havia alertado no fim do ano passado que o corte de custos atrasaria esforços de contratação com diversidade.

“Cortar a equipe orientada à DEI agora, a menos que você tenha realmente avançado e possa dizer ‘missão cumprida’, não é uma boa ideia”, disse Angie Kamath, reitora da Escola de Estudos Profissionais da Universidade de Nova York, com foco no desenvolvimento da força de trabalho. “Existem alguns riscos reais.”

Em alguns casos, as empresas podem até retroceder, disse Monne Williams, sócia da McKinsey & Company, em Atlanta.

“Diversidade, equidade e inclusão não podem ser coisas que você só aplica na fase boa”, disse Williams. “Se isso for como uma moda, as empresas perderão talentos.”

Em parte, o problema é que as companhias tendem a se apoiar na abordagem “último a entrar, primeiro a sair” quando fazem cortes, disse Brooks Scott, fundador e CEO da empresa de coaching executivo Merging Path Coaching. “As empresas se apressaram em pensar no lucro, mas sempre que tentamos otimizar a velocidade, provavelmente vamos desconsiderar a diversidade, equidade e inclusão.”

Na contramão dessa visão, empregadores deveriam considerar raça, gênero e etnia ao decidir quem demitir.

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