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De imperador a imperatriz: a pesquisa que encontrou o primeiro registro de uma pessoa 'trans'

Entenda por que um museu britânico adotou pronomes femininos para o imperador romano Heliogábalo após reinterpretação de textos históricos e consulta a especialistas em inclusão

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 17 de janeiro de 2025 às 15h53.

O Museu North Hertfordshire, localizado em um pequena cidade ao norte de Londres, decidiu reescrever a história. Mais precisamente, a do imperador romano Heliogábalo, figura controversa que supostamente governou o Império Romano no século III. A partir de agora, o museu se referirá ao imperador usando pronomes femininos, “ela” e “dela”. A mudança foi motivada por interpretações de textos clássicos que sugerem que Heliogábalo se identificava como mulher.

"Não me chame de senhor, pois sou uma senhora" , teria dito Heliogábalo, segundo registros atribuídos ao senador e historiador romano Cassius Dio, contemporâneo do imperador. Com base nesse e em outros relatos, o museu alterou a narrativa das exibições em torno de sua moeda de Heliogábalo, que agora integra a coleção LGBTQIA+ do acervo.

A decisão, no entanto, está longe de ser unânime entre historiadores. O tema é um terreno nebuloso onde se misturam história, gênero e política. Para o museu, porém, trata-se de algo simples: “ser educado e respeitoso em relação à identificação de pronomes para pessoas do passado” .

Heliogábalo, nascida em 203 d.C. e proclamada imperador aos 14 anos após uma revolta entre nobres, reinou por apenas quatro anos, mas sua breve estadia no poder foi suficiente para atravessar séculos como uma das figuras mais criticadas e debatidas do Império Romano. Suas ações — políticas e pessoais — são frequentemente descritas por cronistas como provocativas, extravagantes e fora do comum.

Cassius Dio relata, por exemplo, que Heliogábalo se casou cinco vezes — quatro com mulheres e uma com Hierocles, um ex-escravizado e cocheiro. Nesse casamento, escreve Dio, Heliogábalo teria assumido o papel de “esposa” e se referido a Hierocles como seu “marido”. “Foi concedida em casamento, foi denominada esposa, amante e rainha” , escreveu o historiador, que viveu e registrou os eventos contemporâneos ao reinado.

Os relatos sobre Heliogábalo vão além de suas relações matrimoniais. Dio menciona o uso de maquiagem, perucas e a remoção de pelos corporais, práticas que, na época, eram frequentemente associadas a tentativas de feminilização.

A história de Heliogábalo segue sendo um campo fértil para debates. Se, por um lado, há aqueles que veem as mudanças no museu como um ato de respeito e atualização histórica, por outro, alguns acadêmicos e críticos argumentam que interpretar a identidade de Heliogábalo com os conceitos modernos de gênero pode simplificar ou distorcer o contexto histórico.

Ainda assim, o caso lança luz sobre como a história pode ser reinterpretada à medida que mudam as lentes culturais e sociais. Heliogábalo, que uma vez foi descrita como uma figura caótica e incomum, agora ressurge como um símbolo de discussões contemporâneas sobre identidade e inclusão — em um museu que, ironicamente, fica muito longe das ruínas do Império Romano.

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