McAfee: em uma de suas inúmeras polêmicas, milionário ensina a desinstalar antivírus criado por ele (YouTube/Reprodução)
Thiago Lavado
Publicado em 23 de junho de 2021 às 18h14.
Há poucas pessoas na área de tecnologia que viveram como John McAfee. O americano nascido no Reino Unido, que ficou conhecido no setor pelo antivírus que leva seu nome, construiu no decorrer dos anos uma reputação que foi muito além do produto e acabou o envolvendo em crimes como evasão de divisas e até acusações de assassinato.
Ele foi candidato a presidência dos Estados Unidos e até mesmo gravou um polêmico vídeo sobre como desinstalar o programa que ajudou a criar.
McAfee foi encontrado morto nesta quarta-feira, em uma prisão em Barcelona, na Espanha. Ele aguardava uma extradição que o levaria para os Estados Unidos, sob acusações de evasão de divisas. O milionário estava preso desde outubro do ano passado no país. De acordo com o El País, McAfee teria cometido suicídio.
A descrição que McAfee dava a si mesmo em seu perfil no Twitter traz um pouco da aura que existia sobre o excêntrico milionário. "Iconoclasta. Amante das mulheres, aventura e mistério. Fundador do antivírus McAfee."
Em uma de suas últimas mensagens, ele afirmou que não tinha mais nada. "Os Estados Unidos acreditam que eu escondi criptomoedas. Eu gostaria de ter feito isso, mas elas se dissolveram nas muitas mãos do Time McAfee (não precisa acreditar), e meus únicos ativos remanescentes foram confiscados. Meus amigos evaporaram diante do medo de serem associados a mim. Não tenho mais nada. Ainda assim, não me arrependo de nada", escreveu.
The US believes I have hidden crypto. I wish I did but it has dissolved through the many hands of Team McAfee (your belief is not required), and my remaining assets are all seized. My friends evaporated through fear of association.
I have nothing.
Yet, I regret nothing.
— John McAfee (@officialmcafee) June 16, 2021
Em 2012, McAfee foi preso pela polícia de Belize, no Caribe, sob acusações de portar arma de fogo não registrada e drogas. Sua família e força de segurança pessoal também foram levados pelas autoridades. À época, o milionário acusou a polícia de prendê-lo injustamente.
Naquele mesmo ano, McAfee fugiu às pressas de Belize após um de seus vizinhos, o também expatriado americano Gregory Faull, aparecer morto a tiros. A polícia procurou McAfee para interrogatório sobre a morte, mas ele fugiu, afirmando à revista Wired que tinha medo de a polícia tentar matá-lo. O primeiro ministro do país afirmou depois que McAfee era "doido".
Ele procurou asilo político na Guatemala, mas foi preso por ter entrado no país ilegalmente e teve o pedido negado. Ele foi solto no final de 2012 e deportado para os Estados Unidos pelas autoridades.
Em 2019, ele foi condenado por um juiz na Flórida a pagar 25 milhões de dólares pela morte de Faull à família. Em resposta, no Twitter, disse que não iria pagar e afirmou que a decisão era parte "um jogo de extorsão que mira a classe mais rica da América".
Em 2013, o executivo divulgou um vídeo em que ensinava como desinstalar o antivírus que levava seu nome.
À época, McAfee já não tinha uma associação com a empresa fabricante do software havia cerca de 15 anos, mas afirma na gravação que continuava recebendo mensagens sobre remover o programa, que usuários diziam atrapalhar a navegação e reduzir velocidade de computadores.
Tudo acontece em um cenário nada convencional: McAfee aborda a questão cercado de mulheres que o despem enquanto cheira um pó branco. O vídeo acumula mais de 10 milhões de visualizações e foi chamado por um porta-voz da McAfee (a empresa) de "ridículo". À Reuters, ele afirmou que fez o vídeo para ridicularizar a cobertura negativa sobre ele.
O excêntrico magnata ao longo de sua vida fez algumas investidas na política. Em 2015, anunciou pela primeira vez que iria concorrer ao cargo de presidente dos Estados Unidos. Para viabilizar a candidatura, lançou a ideia de criar o Cyber Party, algo como Partido Cibernético.
No entanto, por falta de apoio, optou por participar das prévias do Partido Libertário em 2016, na qual perdeu para o republicano Gary Johnson. Em 2018, ele volta com a ideia, mas devido a uma acusação de evasão de divisas feita pelas autoridades dos EUA, acaba fugindo do país e passa a viver em um barco no Caribe. De lá, avisa que seu comitê para as eleições de 2020 será em águas internacionais. A campanha, obviamente, não deu certo.
No ano passado, no entanto, ele deu um pitaco sobre as eleições americanas. "Em quem vou votar? Em ninguém. Por que eu escolheria uma pessoa ou outra para me controlar? Mestres de escravos são todos os mesmos. Somos números e não pessoas, independentemente do mestre".
O milionário também era entusiasta de criptomoedas. Em 2017, McAfee previu que o Bitcoin chegaria a US$ 1 milhão em três anos. Dizia ter tanta certeza que, embora mais tarde tenha revisto sua previsão, estaria disposto a comer o próprio pênis caso isso não ocorresse.
Com o tempo, o envolvimento dele com os criptoativos cresceu. Em 2019, passou a dizer em uma série de entrevistas que conversou com o suposto criador do Bitcoin Satoshi Nakamoto, e que daria pistas da real identidade do personagem até que ele revelasse seu nome. A bravata ficou apenas em tweets e nunca foi confirmada.