Tecnologia

"Curtir" no Facebook pode revelar mais do que se pretende

Modelos matemáticos demonstraram uma precisão de 88% ao diferenciar homens de mulheres e de 95% em distinguir afro-americanos de brancos


	Estes algoritmos também conseguiram extrapolar informações como orientação sexual, se o usuário fez uso de drogas ou se seus pais se separaram
 (Getty Images)

Estes algoritmos também conseguiram extrapolar informações como orientação sexual, se o usuário fez uso de drogas ou se seus pais se separaram (Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de março de 2013 às 20h05.

A opção "curtir" no Facebook pode revelar muito mais do que se pretende. Uma pesquisa publicada esta segunda-feira mostra que analisar os padrões destas preferências pode dar estimativas supreendentemente precisas sobre informações pessoais que o usuário não expõe, como raça, idade, QI, sexualidade, etc.

Cientistas da Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha, e da Microsoft Research, divisão de pesquisas da gigante do softwate americano, desenvolveram um algoritmo que usa as opções "curtir" - publicamente disponíveis a menos que o usuário faça configurações de privacidade mais rígidas - para criar perfis de personalidade, revelando potencialmente detalhes íntimos sobre sua vida.

Estes modelos matemáticos demonstraram uma precisão de 88% ao diferenciar homens de mulheres e de 95% em distinguir afro-americanos de brancos.

Estes algoritmos também conseguiram extrapolar informações como orientação sexual, se o usuário fez uso de drogas ou se seus pais se separaram.

Estes dados podem ser usados em estratégias de propaganda e marketing, mas também poderiam fazer os usuários ficarem retraídos por causa da quantidade de dados pessoais revelados, afirmaram os cientistas.

"É muito fácil clicar no botão 'curtir', é sedutor", afirmou David Stillwell, estudioso de psicometria e co-autor da pesquisa.

"Mas você não percebe que anos depois todos aqueles "curtir" são armazenados contra você", acrescentou.

Stillwell explicou que, embora dados do Facebook tenham sido usados neste estudo, perfis similares poderiam ser produzidos usando outros dados digitais, incluindo buscas na internet, trocas de e-mails e telefonemas.


"É possível chegar às mesmas conclusões com diferentes formatos destes dados digitais", explicou à AFP.

O estudo examinou 8.000 usuários do Facebook nos Estados Unidos, que voluntariamente disponibilizaram suas opções "curtir", perfis demográficos e resultados de testes psicométricos.

Enquanto alguns padrões parecem óbvios - democratas curtiram Casa Branca, enquanto republicanos curtiram George W. Bush -, outros foram menos diretos.

Extrovertidos curtiram a atriz e cantora Jennifer Lopez, enquanto os introvertidos demostraram preferência pelo filme "Batman: o Cavaleiro das Trevas". Aqueles que se disseram "liberais e artísticos" curtiram o cantor Leonard Cohen e o escritor Oscar Wilde, enquanto os conservadores preferiram corridas de Nascar e o filme de comédia "A Sogra".

Em grande parte, as previsões se basearam em dedução, feita a partir de enormes quantidades de dados. Aqueles apontados como homossexuais foram classificados como tais não porque clicaram em sites sobre casamento gay, mas por causa de suas preferências musicais e televisivas, por exemplo.

Cristãos e muçulmanos foram corretamente classificados em 82% dos casos e uma boa precisão nas previsões foi alcançada nos status de relacionamento e uso de substâncias, entre 65% e 73%.

As pessoas com QI mais elevado costumaram curtir o talk show "The Colbert Report" e filmes como "O Poderoso Chefão" e "O Sol é para Todos". Aqueles com QI mais baixo curtiram motos Harley Davidson e Bret Michaels, integrante da banda Poison.

O estudo, publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, é divulgado em meio a um intenso debate sobre privacidade online e se os usuários sabem quanta informação é reunida sobre eles. Outra pesquisa recente demonstrou que os usuários do Facebook começaram a compartilhar mais dados pessoais depois que a rede social revisou suas políticas e interfaces.


Os cientistas de Cambridge afirmaram que os dados sobre as opções "curtir" podem ser úteis para avaliações psicológicas e de personalidade, mas também mostra como detalhes pessoais podem ser tornados públicos sem o seu conhecimento.

"Previsões semelhantes poderiam ser feitas a partir de todo tipo de dado digital, com este tipo de "inferência" secundária, feita com precisão notável - prevendo estatisticamente informação sensível que as pessoas podem não querer que seja revelada", explicou o cientista de Cambridge Michal Kosinski.

Kosinski disse ser "um grande fã e usuário ativo das surpreendentes novas tecnologias, incluindo o Facebook", mas afirmou que o estudo aponta para potenciais ameaças à privacidade.

"Posso imaginar situações em que os mesmos dados e tecnologia são usados para antecipar visões políticas ou orientação sexual, trazendo riscos para a liberdade e até mesmo para a vida das pessoas", afirmou.

Para uma versão mais curta do estudo, os cientistas criaram um aplicativo de Facebook, denominado "You Are What You Like" (Você é o que você curte), que faz uma avaliação da personalidade do usuário, disponível no site http://www.youarewhatyoulike.com/

Acompanhe tudo sobre:Internetmarketing-digitalPrivacidadeRedes sociais

Mais de Tecnologia

Musk pode comprar o canal MSNBC? Bilionário faz memes sobre possível aquisição

Influencers mirins: crianças vendem cursos em ambiente de pouca vigilância nas redes sociais

10 frases de Steve Jobs para inspirar sua carreira e negócios

Adeus, iPhone de botão? WhatsApp vai parar de funcionar em alguns smartphones; veja lista