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Você já bebeu "volume morto"? Em breve ele chegará à sua casa de SP

O reservatório atingiu os 12,4% da capacidade e salvação atende por um nome um tanto ingrato: o “volume morto”

Cantareira (Sabesp)

Cantareira (Sabesp)

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Da Redação

Publicado em 11 de abril de 2014 às 06h10.

As chuvas não vieram e parecem incertas. O calor segue intenso, diariamente na faixa dos 30ºC. Enquanto isso, o Sistema Cantareira, principal no fornecimento de água na Grande São Paulo, segue batendo recordes negativos. Nesta quinta-feira (10), o reservatório atingiu os 12,4% da capacidade. A salvação atende por um nome um tanto ingrato: o “volume morto”. É dele que virá parte da água que a população beberá a partir de maio.

Volume morto é a parcela do volume total que fica inativa, no fundo da represa, o que significa que não é utilizada para fins de captação de água. Essa faixa dos reservatórios costuma acumular sedimentos diversos ao longo de muitos anos. No caso do Cantareira, o volume morto nunca foi utilizado por não haver necessidade e, principalmente, por não existir até este ano uma obra que proporcionasse a captação dessa água. A incerteza é tanta que o superintendente de Regulação da Agência Nacional de Águas (ANA), Rodrigo Flecha, afirmou que pouco se sabe sobre a água depositada no fundo do sistema.

“Nunca ninguém investigou o volume morto do Sistema Cantareira. É algo desconhecido, porque nunca se chegou a essa situação. Não se sabe o que está depositado ali. Tem que ser avaliado porque é uma área com sedimentação, via metal pesado, que vai se depositando ao longo dos anos. Não se poderá bombear a água a partir de um determinado ponto que possa revolver o sedimento que está ali”, afirmou Flecha, em audiência pública na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informou ao Brasil Post, no mês passado, que o volume morto é uma “reserva técnica que tem capacidade de mais 300 bilhões de litros”. A captação dessa água se dará nas represas Atibainha, em Nazaré Paulista, e Jaguari/Jacareí, em Bragança Paulista. A empresa garantiu ainda que “a água é de qualidade e será tratada dentro dos padrões de qualidade exigidos pelo Ministério da Saúde e seguidos pela Sabesp”.

O volume morto passará a ser captado a partir do dia 15 de maio, conforme informou o novo secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo, Mauro Arce, à Rádio Estadão nesta quinta-feira.

A favor do governo do Estado, o superintendente da ANA comentou que, diante do cenário atual, o volume morto, em meio ao desconhecimento acerca da qualidade de sua água, deve ser utilizado. “Em várias situações é possível operar com volume morto, mas existem os aspectos ambientais, e todos têm que ser levados em consideração. O Ministério Público está nos perguntando sobre as possibilidades e os limites de explorar o volume morto e ainda não temos essa governabilidade total sobre volume morto, em particular o do Cantareira.”

Contudo, ele alertou que nem de longe isso resolve o problema. “É uma alternativa, mas até um determinado limite. Tem que ser usado com prudência e parcimônia.”

E o racionamento?

O governo paulista vem evitando utilizar o termo “racionamento” ao falar de possíveis cortes de água nos próximos meses. O governador Geraldo Alckmin adotou o termo “rodízio” para abordar a questão. Para população, o mais importante é saber se ficará sem água em breve.

Segundo o secretário Mauro Arce, a interrupção no fornecimento depende de vários fatores, “olhando de um lado a redução de consumo, de outro a oferta de água, e principalmente confiando na resposta dos consumidores”.

O próprio Alckmin – que tentará a reeleição em outubro – mantém o tom enigmático sobre racionar água. Quer dizer, realizar o rodízio de água, como ele mesmo pondera. “Não vamos começar nem antes, nem depois. Se precisar adotar o rodízio, será adotado no momento certo e será implantado da maneira que menos atrapalhe as pessoas”, comentou o governador de SP.

Ao que parece, a única otimista sobre não existir a necessidade de racionamento, quer dizer, rodízio de água em São Paulo, é a presidente da Sabesp, Dilma Pena. Ela declarou nesta quinta-feira que, levando em conta “o pior cenário de chuvas e utilização da reserva técnica”, a Grande SP terá o seu fornecimento seguindo a normalidade até pelo menos o final de 2014. Ela também espantou o temor de que o sistema vá secar em breve. “Ele continua tendo vazão afluente [água que entra nos reservatórios] e continua se recompondo. A natureza não para”, concluiu.

Enquanto isso, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual, por meio do Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema) de Piracicaba e Campinas, seguem apurando se há responsabilidade do governo estadual e demais órgãos vinculados, incluindo a ANA, na atual crise e seus efeitos para a população. Resta aguardar se a conclusão das apurações se dará antes do rodízio ou do fim da água do Sistema Cantareira.

(Por Thiago de Araújo, com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)

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