Globoplay: para a empresa, um truque na manga são as produções 100% nacionais (Exame/Getty Images)
Tamires Vitorio
Publicado em 9 de junho de 2020 às 12h31.
Última atualização em 9 de junho de 2020 às 14h10.
O entretenimento digital precisou se renovar com a crise do coronavírus. Com mais pessoas em casa, em alguns países plataformas como a Netflix reduziram a qualidade de seus vídeos para suportar a quantidade enorme de usuários online simultaneamente. Mas e no Brasil? O que nossas empresas do ramo têm feito?
No exame.talks desta terça-feira, o diretor de TV e áudio da Samsung Brasil, Erico Traldi, a diretora de conteúdo do Globoplay, Ana Carolina Lima, e o sócio-líder de mídia e esportes da KPMG no Brasil, Francisco Clemente, debateram sobre a nova fase do entretenimento digital, junto a Lucas Agrela, editor-assistente de Tecnologia e Ciência. "Não diria que vivemos uma guerra de streaming, tem essa possibilidade hoje, vamos ver como o mercado se comportará depois desse período, mas é saudável para o mercado. No caso do Globoplay, tivemos um aumento de crescimento grande, o dobro do consumo em relação à 2019, 200% de crescimento", diz Lima, da Globoplay. O número compara o período de janeiro a maio deste ano com a mesma época em 2019.
Para Traldi, tudo no mundo do entretenimento está interligado --- desde a gravação das séries em Ultra HD até o consumo dos conteúdos dentro das smart TVs da Samsung. Por isso, a procura por novos televisores com telas grandes, com 65 polegadas ou mais, resolução de imagem 4K e sistemas operacionais com aplicativos, como o Tizen, tem sido uma tendência de consumo em 2020. "O consumidor está consumindo demais TV neste momento", disse. Lima concorda e diz que as pessoas "estão usando mais as televisões de modo geral".
Clemente, da KPMG, também não enxerga uma guerra no streaming. "Fizemos uma pesquisa em que dividimos dois tipos de consumidor, os jovens adultos, até 24 anos, e os adultos, acima de 25 anos. Pelo menos 60% deles tem dois serviços de streaming sendo utilizados", explica. Segundo a KPMG, os mais velhos assistem três vezes menos produções nas plataformas pelos smartphones do que os mais jovens e seguem preferindo as televisões. A pesquisa feita pela consultoria também mostra que as pessoas estão mais interessadas em conteúdos nesse momento --- o que pode indicar uma boa hora para investir.
Apesar disso, é importante renovar os conteúdos para se manter relevante e atrair novos clientes. Para a Globoplay, um truque na manga são as produções 100% nacionais. "A gente sabe que tem produções incríveis em todas as plataformas, mas trazer esse regionalismo, coisas que só a gente pode falar, é extremamente importante para nós", garante.
Para lidar com a quarentena, o Globoplay abriu todos os conteúdos para que, segundo Lima, "quem estiver em casa possa aproveitar essas produções". Apesar do Big Brother Brasil 2020, que bateu recordes na audiência, a base de assinantes do aplicativo se manteve. Mas Lima espera que em um futuro pós-coronavírus, as coisas devem mudar. "Não estou prevendo o futuro, mas o fato é que o streaming já espera que exista uma mudança aí", diz. "O streaming é o dia a dia. Precisamos estar ali entregando um conteúdo de qualidade o tempo inteiro."
A Samsung também teve de se adaptar. Com mais gente em casa, mais televisões se tornaram necessárias --- o que aqueceu, segundo Traldi, o mercado de TVs. "O mercado de TVs no primeiro trimestre deste ano cresceu 4% em quantidade, mas, se comparando com outros mercados do mundo que passaram pela pandemia antes do Brasil, nosso mercado está muito forte. O consumidor não está conseguindo viajar, não consegue gastar dinheiro de outra maneira, e a casa se tornou o principal foco neste momento", afirmou. A migração das vendas de lojas físicas para o comércio eletrônico aconteceu de forma "natural" para Traldi. "Essa tendência vem recuando aos poucos com a reabertura das lojas", disse o executivo, que contou, também, que a Samsung prepara novos televisores para o mercado brasileiro ainda neste mês.
Clemente entende que o entretenimento é importante em momentos complicados para trazer "diversão" às pessoas. "A gente vai ver por um bom tempo o digital nesse setor. Quem está jogando esse jogo vai aumentar sua base de clientes e deve buscar ser relevante no volume", explica. Sobre uma retomada, Clemente aposta que as lives continuarão sendo feitas. A única coisa é que, em vez da solidão da quarentena, as pessoas poderão se juntar aos amigos para assistir em uma nova TV 4K os shows no YouTube.