Internet: por trás dos anúncios, há empresas tentando descobrir o momento certo de exibir um anúncio para você (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 2 de fevereiro de 2015 às 15h18.
São Paulo - Quem está na internet esbarra o tempo todo em vários tipos de propaganda. Por trás dos anúncios, estão empresas que usam a coleta de dados para tentar descobrir quando você vai precisar de um determinado produto.
Uma dessas empresas é a BigData Corp. Localizada no Rio, a companhia trabalha na área de coleta e análise dos dados que pipocam todo dia na internet. Por semana, o volume varia de 600 a 700 terabytes de informação. Para analisá-lo, são necessários 10 mil servidores (que a BigData Corp. aluga na Amazon).
"A gente captura todos os anúncios de todos os portais de classificados em tempo real. Se você anuncia que está vendendo um carro, muito provavelmente já comprou um novo. Com base nisso, alguém pode lhe oferecer uma oferta de seguro", explicou o engenheiro Thoran Rodrigues em entrevista a EXAME.com.
Ele é um dos fundadores da BigData Corp., que vende informações como essa para redes de varejo e outras empresas. Com base nessas informações, elas elaboram ofertas que são encaminhadas para os internautas. De acordo com Thoran, as formas de coletar os dados são as mais variadas possíveis.
"Durante muito tempo, os blogs de pornografia foram uma ótima fonte para conseguir nome e número de telefone de internautas. Nos comentários, muitos usuários forneciam esses dados na esperança de que as pessoas das fotos entrassem em contato", revela o engenheiro. Ele destaca, porém, que só trabalha com dados que as pessoas disponibilizem em espaços abertos da internet.
"Não é nada diferente do manual. A diferença é que fazemos isso em grande escala", explica ele. A coleta de um grande volume de dados variados e verdadeiros em alta velocidade caracteriza o que ficou conhecido como Big Data. "Nós usamos dados como indicadores de comportamento", afirma Thoran.
Melt
Outra empresa que ganha dinheiro com a coleta e análise de dados é a Melt.
Com 20 funcionários (incluindo um matemático), a Melt ajuda companhias como Ambev, Itaú e Natura a veicularem seus anúncios na internet apenas para aqueles usuários com mais chances de comprarem os produtos dessas empresas.
Para isso, a Melt conta com uma tecnologia própria que analisa mais de 30 mil variáveis toda vez que você acessa determinados sites. A partir dessas variáveis, é possível deduzir classe social, faixa etária e outras características suas que podem ser decisivas para uma compra.
Quem fornece esses dados para a Melt são plataformas conhecidas como Ad Exchanges, que monitoram o perfil de usuário que circula por diferentes ambientes da internet. A Ad Exchange do Facebook se chama FBX, por exemplo. Já Axonix, da Telefonica, é voltada para quem navega na internet com celular.
Esse vídeo explica o modelo, conhecido como Real Time Bidding:
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=QEX4Mr5dTJA%5D
Para o CEO da Melt Guilherme Mamede, o avanço da tecnologia vai permitir que, no futuro, telas que se comuniquem com smartphones exibam propagandas personalizadas para pessoas que estejam num shopping, por exemplo.
"No futuro, quem tiver dados vai reinar", garantiu ele em entrevista a EXAME.com.
Independência
Já Rodrigues alerta para uma outra tendência que vem ganhando força na área de Big Data. Trata-se do fortalecimento do direito do usuário de vender seus dados ele mesmo, sem que nenhuma empresa faça a coleta de informações.
Caso essa tendência se confirme, as pessoas poderão receber dinheiro em troca de seus dados de navegação na internet. Reunidos e analisados, esses dados serão vendidos para varejistas, que poderão traçar a melhor forma de fazer a propaganda de um determinado produto para um certo segmento social.
"Por que uma empresa pode ganhar dinheiro com meus dados e eu não?", provoca Rodrigues. Se olhada com calma, a pergunta faz todo sentido.