Songdo, na Coreia do Sul: cidade construída em torno do aeroporto (iStockphoto)
Da Redação
Publicado em 29 de julho de 2015 às 17h35.
Última atualização em 7 de julho de 2017 às 12h30.
Até o início dos anos 1990, o conceito de cidades inteligentes era mais uma discussão acadêmica do que uma prática do dia a dia. Nos últimos tempos, essa realidade mudou com o avanço da tecnologia e a necessidade de repensar o uso dos espaços urbanos respeitando a sustentabilidade.
Mas, afinal, o que determina se uma cidade é inteligente?
Segundo o pesquisador americano Boyd Cohen, Ph.D. em urbanismo e uma das referências na elaboração de metodologias que definem as chamadas smart cities, cidades inteligentes são as que conseguem se desenvolver economicamente ao mesmo tempo que aumentam a qualidade de vida dos habitantes ao gerar eficiência nas operações urbanas.
Já existem iniciativas pelo mundo que são bons exemplos de cidades inteligentes. Conheça algumas delas.
1_ Songdo, na Coreia do Sul, é referência em planejamento urbano
Songdo, na Coreia do Sul, é um exemplo de aerotrópole, expressão usada pelos urbanistas para designar as cidades planejadas que crescem em torno de um aeroporto. O projeto de criação começou em 2003 e ganhou agilidade a partir de 2009, quando um programa de estímulos a investimentos foi lançado pelo governo local.
O slogan de Songdo é “A três horas e meia de um terço da população mundial”. O jornal britânico The Guardian a classificou como a primeira cidade inteligente do mundo.
Ainda em fase de construção, Songdo deve ser concluída em 2018, segundo estimativas oficiais. Desde 2011, no entanto, o lugar já vem sendo povoado. Em 2013, a população era de 67 000 habitantes. A expectativa é que até 2020 sejam 250 000 moradores.
O planejamento levou em consideração várias opções de mobilidade e a disseminação de espaços verdes. Sensores subterrâneos detectam as condições de tráfego e reprogramam os semáforos sempre que necessário. Um lago e um canal abastecidos com água do mar mantêm a umidade sem sacrificar a água potável e também são usados como via de transporte para táxis aquáticos.
Há, ainda, 25 quilômetros de ciclovias para os adeptos do transporte sobre duas rodas. Um sistema pneumático de gestão de resíduos se espalha por toda a cidade – o que praticamente elimina a necessidade de coleta de lixo e alivia o trânsito.
2_ Copenhague, na Dinamarca, reduziu o uso de combustíveis fósseis
A capital dinamarquesa é bicampeã no ranking de cidades inteligentes da Europa, elaborado pela revista Fast Company, uma das mais respeitadas publicações sobre inovação do mundo. Não é para menos. De lá vem um dos melhores exemplos de redução das emissões de carbono de todo o planeta.
Em relação a 2005, quando o conceito de carbono zero passou a fazer parte das ações do governo local, Copenhague reduziu 21% das emissões. Atualmente, a cidade emite, em média, 2 milhões de toneladas per capita de carbono por ano.
O objetivo é diminuir ainda mais a emissão até 2025, chegando a 1,16 milhão de toneladas per capita anuais. Para atingir a meta, todos os novos edifícios precisam ser construídos segundo regras de sustentabilidade.
Também ajuda o fato de, em Copenhague, metade da população de pouco mais de meio milhão de pessoas usar bicicletas para chegar ao trabalho, segundo dados oficiais. A cidade possui um amplo sistema de aluguel de bicicletas equipadas com GPS. Recentemente, elas começaram a receber sensores que detectam a qualidade do ar e ainda permitem aos usuários receber informações em tempo real sobre congestionamentos.
3_ Santa Ana, nos Estados Unidos, mostra como é possível reaproveitar água
A maior parte da água utilizada nas casas da cidade sede do condado de Orange, na Califórnia, é tratada para se tornar potável novamente. Até mesmo a água dos sanitários de Santa Ana passa por um processo de limpeza que a torna reutilizável.
O sistema, conhecido como micropurificação, funciona assim: com a ajuda de elementos químicos e equipamentos que emitem luz ultravioleta, as partículas de sujeira são isoladas numa membrana especial até que não reste nada além de água pura. Até mesmo protozoários e bactérias são eliminados depois do processo.
Em 2014, em uma série de reportagens sobre soluções sustentáveis para o futuro, a revista online Slate e a Arizona State University apontaram o sistema de Santa Ana como um modelo para o restante dos Estados Unidos. Na avaliação dos especialistas, a solução é uma alternativa ao processo de dessalinização da água do mar, cujo custo é bastante alto.
Com essa iniciativa, todos os domicílios de Santa Ana, que possui 330 000 habitantes, recebem água tratada por micropurificação. Como a usina também serve outras cidades da região, cerca de 600 000 lares são beneficiados no total. Estima-se que cerca de 230 milhões de litros de água suja deixam de ser despejados no mar para serem reutilizados.
No Brasil, a inteligência está na energia
Embora as cidades brasileiras não sejam citadas nos principais rankings de metrópoles inteligentes, algumas iniciativas no país vão ao encontro do conceito de smart cities. Os principais exemplos vêm da área de energia.
Recentemente, algumas cidades brasileiras começaram a usar a tecnologia de smart grid, as redes de distribuição inteligentes de energia elétrica. Na prática, esse sistema permite aumentar o controle contra perda de energia no processo de distribuição.
Na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), por exemplo, a concessionária Cemig monitora mais de 12 000 unidades consumidoras com um sistema que faz a medição e o faturamento da energia de forma digitalizada.
Já o Grupo CPFL Energia usa a tecnologia de smart grid para aferir os dados de mais de 25 000 consumidores. Entre as cidades beneficiadas estão a paulista Campinas e a gaúcha Caxias do Sul. A tecnologia também já chegou a cidades do Paraná e de Minas Gerais onde a CPFL está presente.
Em maio deste ano, a empresa inaugurou um Centro de Despacho Inteligente, que permite enviar aos consultores de campo as demandas de consumidores em tempo real. “Isso aumentou a agilidade dos atendimentos e também o nível de satisfação dos clientes”, diz Paulo Bombassaro, diretor de engenharia da CPFL.
Em países da Europa, o sistema smart grid já permite que os consumidores que geram energia por meio de miniusinas eólicas ou solares possam vender o excedente às concessionárias.