Battlefield 3 marcou o auge da série nos anos 2010: agora, a EA aposta em uma estrutura global e orçamento recorde para tentar reconquistar o público com Glacier. (Divulgação)
Redator
Publicado em 3 de julho de 2025 às 15h27.
Última atualização em 3 de julho de 2025 às 15h28.
Após 23 anos do lançamento do primeiro Battlefield, o novo título da franquia está sendo desenvolvido sob uma pressão imensa na Electronic Arts (EA). O desafio de se manter competitivo frente ao Call of Duty, hoje nas mãos da Microsoft, e Fortnite, da Epic, força o projeto tanto no orçamento crescente quanto em questões culturais, o que tem gerado grandes preocupações dentro da equipe.
Com o codinome Glacier, o novo título chega com a meta de atingir 100 milhões de jogadores, algo nunca alcançado pela série. No entanto, essa ambição tem gerado um desgaste significativo, com muitos desenvolvedores enfrentando longas horas de trabalho e esgotamento, além do choque cultural entre os trabalhadores europeus e a liderança norte-americana.
Depois do grande sucesso nos anos 2010, com Battlefield 3 e Battlefield 4 conquistando uma base fiel de fãs e posicionando o game como concorrente do Call of Duty, a sequência lançada em 2018 teve recepção mista e foi incapaz de recuperar o terreno perdido com o live service, quando o jogo perdura mais como um serviço digital do que uma obra temporária. Em sua última tentativa de revitalização, em Battlefield 2042, lançado em 2021, a EA viu um fracasso comercial, o que agora leva à revisão de estratégia.
O fiasco de 2042 foi um ponto de inflexão. Dentro da EA, um post-mortem identificou falhas de execução, não de visão. Para evitar repetir erros, a empresa promoveu mudanças estruturais radicais no desenvolvimento: contratou veteranos de peso da indústria como Byron Beede, ex-gerente de Call of Duty e Destiny, e Vince Zampella, co-criador de Call of Duty e já conhecido na EA por liderar projetos como Apex Legends. Marcus Lehto, co-criador de Halo, chegou para comandar o estúdio Ridgeline, responsável pela campanha single-player.
A promessa era clara: garantir processos mais previsíveis, cronogramas mais rígidos e liderança experiente para um projeto que mirava competir não só com Call of Duty, mas também com fenômenos gratuitos como Fortnite, apostando em modos Battle Royale, campanhas, modos tradicionais e experiências live service para tentar ampliar o público.
Mas a ambição tem seu preço. Segundo o Ars Technica, Glacier já se tornou o Battlefield mais caro da história. O orçamento inicial, superior a US$ 400 milhões, cresceu ainda mais com a necessidade de trazer centenas de desenvolvedores adicionais para corrigir atrasos.
A meta de 100 milhões de jogadores soa ainda mais desafiadora se comparada com números anteriores: Battlefield 2042 somou 22 milhões; Battlefield 1, considerado o mais bem-sucedido da série, chegou a pouco mais de 30 milhões. Para competir com blockbusters gratuitos, a EA decidiu incluir modos free-to-play, monetização via passes de temporada e modos de criação de comunidade.
Ao mesmo tempo, mudanças internas criaram atritos profundos. O DICE, estúdio sueco que construiu a identidade de Battlefield, viu sua autonomia diminuir. Agora, distribuído em múltiplos estúdios em diferentes países, o desenvolvimento passou a ser ditado por lideranças nos Estados Unidos, com prioridades definidas a partir de metas financeiras ambiciosas.
Para desenvolvedores europeus, acostumados com um processo mais colaborativo e menos agressivo em metas, a nova abordagem trouxe tensão. Fontes relatam reuniões intermináveis para alinhar equipes em fusos horários diferentes e processos decisórios cada vez mais distantes da realidade cotidiana do desenvolvimento. Um desafio talvez até superior ao orçamento do que pode ser o jogo de tiro mais caro da história.