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Como o WhatsApp mobilizou assassinatos na Índia

Rumores espalhados pelo aplicativo geram onda de violência no país

Índia e WhatsApp: mais de 20 mortes foram causadas por rumores e boatos espalhados pelo aplicativo (Priyadarshini Ravichandran/The New York Times)

Índia e WhatsApp: mais de 20 mortes foram causadas por rumores e boatos espalhados pelo aplicativo (Priyadarshini Ravichandran/The New York Times)

EH

EXAME Hoje

Publicado em 27 de julho de 2018 às 12h32.

Última atualização em 27 de julho de 2018 às 13h57.

Athimoor-Kaliyam, Índia – Falsos rumores sobre sequestradores de crianças viralizaram no WhatsApp, o que fez com que multidões revoltadas matassem duas dúzias de pessoas inocentes neste país desde abril.

O fenômeno é parte de uma tendência de informações ilegítimas que inundam as mídias sociais há alguns anos, incitando a violência em várias partes do mundo, desde o Brasil até o Sri Lanka.

Aqui, as mensagens se baseiam em um medo universal: o mal causado aos pequenos. Algumas delas, no WhatsApp, descreviam gangues de sequestradores à espreita; outras incluíam vídeos mostrando pessoas passando de carro e roubando crianças.

O modelo desse aplicativo facilita a divulgação dos boatos. Muitas mensagens são compartilhadas em grupos, e quando são encaminhadas, não há nenhuma indicação de sua origem. Em geral, os avisos de sequestro parecem vir de amigos e familiares.

O WhatsApp, que é propriedade do Facebook, tem 250 milhões de usuários só na Índia. Com baixa escolaridade, muitos dos que utilizam o aplicativo pela primeira vez acreditam sem pestanejar no que veem no celular.

Uma das primeiras a ser morta foi uma mulher de 65 anos chamada Rukmani.

Ao lado de quatro membros da família, ela se dirigia a um templo no estado meridional de Tamil Nadu, em maio; uma multidão na estrada os confundiu com “traficantes de crianças” e os agrediu.

Venkatesan, cunhado de Rukmani que estava no carro com ela, foi ferido durante o ataque, que descreveu em detalhes. Quando se aproximava do templo, a família parou para pedir informações; por alguma razão, uma mulher que estava por perto começou a ficar desconfiada e chamou o filho, que deu o alarme.

A família ficou nervosa e decidiu dar meia volta. Quando chegou à próxima aldeia, uma multidão esperava por eles. Foram despidos e espancados com barras de ferro, paus, mãos e pés nus. Vídeos do ataque foram amplamente divulgados online. Quando tudo acabou, Rukmani estava morta. Os outros, feridos, foram deixados onde estavam. O carro foi destruído, e os pertences do grupo, roubados.

A principal autoridade do governo da região contou que a polícia havia passado semanas lá antes do ataque alertando as pessoas para que não acreditassem nos boatos de sequestro, mas não eram páreo para o WhatsApp. “Não dá para competir”, disse ele.

O WhatsApp disse que ficou horrorizado com os assassinatos. Recentemente, começou a rotular todas as mensagens encaminhadas. Além disso, usou anúncios de jornal para educar as pessoas sobre a desinformação e prometeu trabalhar mais de perto com a polícia e com verificadores independentes de fatos. E iniciou um teste para limitar o encaminhamento de mensagens.

Autoridades em toda a Índia tentaram conter a violência, pois além de alertar as pessoas sobre os falsos rumores, prenderam algumas que os espalharam. Em certos lugares, fecharam brevemente a internet. A Suprema Corte exigiu que o governo adotasse uma “linha dura” contra a violência das massas.

A polícia prendeu 46 pessoas pelo ataque a Rukmani e sua família e está atrás de outras 74. Venkatesan, 52 anos, que vivia na casa de Rukmani desde os 15 anos, ainda não entende por que foram agredidos. “Eles queriam nos matar”, disse. Gajendran, genro de Rukmani, foi gravemente ferido no ataque. Passou semanas em coma e permanece no hospital.

No ataque mais recente, um engenheiro de software foi morto e três companheiros seus foram feridos depois que ofereceram chocolate às crianças na frente de uma escola.

The New York Times News Service/Syndicate – Todos os direitos reservados.

 

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