Tecnologia

Como o Facebook usou internautas como ratos de laboratório

O Facebook usou quase 700 mil usuários como objetos de uma pesquisa psicológica sem que eles soubessem. Na prática, viraram ratos de laboratório


	Facebook: rede usou seus internautas como objeto de pesquisas psicológicas
 (Jonathan Leibson/Stringer)

Facebook: rede usou seus internautas como objeto de pesquisas psicológicas (Jonathan Leibson/Stringer)

Victor Caputo

Victor Caputo

Publicado em 30 de junho de 2014 às 10h59.

São Paulo – Se você já achava que o Facebook sabia demais sobre você, saiba que agora ele pode controlar suas emoções. Foi isso que uma pesquisa encontrou depois de manipular os feeds de notícias dos usuários da rede social.

O estudo levantou um debate sobre as diretrizes éticas do Facebook. De maneira deliberada e sem que os usuários soubessem, a rede passou a exibir apenas conteúdo negativo ou apenas positivo nas páginas de 689 mil usuários, em janeiro de 2012. Em resumo, o Facebook usou seus usuários como ratos de laboratório sem que eles soubessem disso.

O estudo se chama “Evidência experimental sobre contágio de emoções em grande escala através de redes sociais”. Ele tem como tese a ideia de que emoções podem ser transmitidas por redes sociais. O que se provou real com a pesquisa.

Vale lembrar que, ao entrar no Facebook, os internautas precisam aceitar os termos de serviço. Lá, uma das autorizações é que informações sejam usadas para “análise de dados, testes e pesquisas”.

Mas James Grimmelmann, professor de direito na Universidade de Maryland, acredita que os termos não bastam. “O padrão de consenso nos termos de serviço é insuficiente. Ele é muito diferente de consentimento informado, que é o padrão ético e legal para pesquisas com indivíduos humanos”, afirma Grimmelmann em seu blog.

O consentimento informado é quando um paciente (no caso, os usuários do Facebook) dá autorização para um procedimento que pode causar alguma mudança em suas condições atuais.

Não é a primeira vez que dados de usuários são usados em pesquisas. Mas é a primeira vez que se tem conhecimento de que existe uma manipulação de conteúdo para testar aspectos psicológicos dos usuários.

Susan Fiske, professora de psicologia que editou o artigo para publicação, afirmou ter consultado os autores do artigo sobre o estudo no Facebook, por achar a metodologia estranha. “Eu ainda estou pensando sobre isso e estou um pouco assustada também”, disse Fiske à The Atlantic. “Quem sabe quais outras pesquisas eles estão fazendo”, disse.

Em um post no Facebook, Adam Kramer, o funcionário da rede social que foi coautor do artigo, publicou um texto justificando seu trabalho. “A razão pela qual fizermos isso foi por nos importarmos com o impacto emocional que o Facebook causa nas pessoas que usam nosso produto”, escreveu.

A última polêmica sobre o assunto foi sobre o financiamento da pesquisa. O site da Universidade Cornell (uma das envolvidas) publicou um texto afirmando que o departamento de pesquisa do exército americano financiava o estudo.

Depois de alguns questionamentos, a universidade disse que a informação era um erro e que a pesquisa não recebeu financiamento externo às universidades.

Acompanhe tudo sobre:DireitoEmpresasEmpresas americanasEmpresas de internetempresas-de-tecnologiaÉticaFacebookInternetPsicologiaRedes sociais

Mais de Tecnologia

Canadá ordena fechamento do escritório do TikTok, mas mantém app acessível

50 vezes Musk: bilionário pensou em pagar US$ 5 bilhões para Trump não concorrer

Bancada do Bitcoin: setor cripto doa US$135 mi e elege 253 candidatos pró-cripto nos EUA

Waze enfrenta problemas para usuários nesta quarta-feira, com mudança automática de idioma