Tecnologia

Como o Android virou um monstro

A produtora de aplicativos Skyhook acusa o Google de jogar pesado para tirá-la do mercado. O caso corre na justiça americana e revela como o Google age nos bastidores

O lema do Google é "Don't be evil" (não seja mau), mas a empresa não mede esforços quando quer afastar um concorrente (Laihiu)

O lema do Google é "Don't be evil" (não seja mau), mas a empresa não mede esforços quando quer afastar um concorrente (Laihiu)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de maio de 2011 às 10h15.

São Paulo -- Não se engane com os nomes de doces que batizam cada versão do Android. O sistema operacional do Google é amargo para quem entra no caminho da empresa. Nos Estados Unidos, quem está sentindo azia é a Skyhook, uma empresa que produz software de localização.

No ano passado, a companhia conseguiu fechar um acordo com a Motorola e outro com a Samsung, que usariam seu produto, o Skyhook XPS, em smartphones com Android. Entre os modelos incluídos estavam o Droid X e o Galaxy S. Estava tudo acertado contratualmente, até que a notícia chegou aos ouvidos do pessoal do Google. O sinal de alerta acendeu em Mountain View, porque o software esbarrava no Google Maps.

O que foi que aconteceu? Depois de uma série de e-mails trocados entre funcionários do Google, da Motorola e da Samsung, a Skyhook teve seu produto eliminado dos aparelhos. No Droid X, isso ocorreu antes do lançamento. No Galaxy S, o procedimento aconteceu depois de o celular chegar às lojas (uma medida abrupta que parece ter causado os problemas no sistema de GPS do aparelho). Trechos das mensagens enviadas pelas empresas foram revelados pelo blog This Is My Next.

A justificativa oficial para a eliminação do XPS parece válida, à primeira vista: o Skyhook tornava os smartphones incompatíveis com o software do Google e isso impedia que os aparelhos fossem certificados. Com isso, não poderiam vir com Gmail, Google Maps, YouTube e Android Market – como acontece com os celulares Xing Ling que usam o Android. O sistema pode ser aberto, mas o uso desses programas só ocorre com o aval do Google.


Para a Skyhook, que decidiu processar a empresa na Justiça americana, o Google usou o seu poder para retirar um concorrente do mapa. Já o pessoal de Mountain View diz que jamais pediu que o XPS fosse eliminado. A solicitação foi de que apenas se desse um jeito para torná-lo compatível. A Skyhook acredita que isso é conversa mole.

Na troca de e-mails entre Google, Motorola e Samsung, chama a atenção o desespero com que o pessoal de Mountain View lidou com a questão. Vic Gundotra, vice-presidente de engenharia do Google, descobriu sobre o acordo Skyhook-Motorola no Business Insider e encaminhou a notícia internamente. Um dos desenvolvedores, Charles Mendis, disse que aquilo “parecia um desastre” e que era preciso fazer um “plano de batalha”. Outro desenvolvedor, Steve Lee, afirmou que o acordo era “horrível”, porque interromperia a coleta de dados de localização feita pelo Google.

Às vésperas do lançamento do Droid X, o Google mandou um comunicado à Motorola dizendo que o smartphone não poderia ser vendido da forma em que estava. Pressionada, a empresa atendeu ao pedido e deletou o XPS. Em seguida, seus executivos questionaram o Google: por que o Galaxy S pôde ser lançado com o Skyhook XPS? Foi o que bastou para que o Google escrevesse para a Samsung, questionando o fato. Não demorou muito para que o XPS também fosse eliminado do Galaxy S.

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