O Wi-Fi 6, nova geração da tecnologia, vai reduzir o congestionamento entre aparelhos (Glenn Harvey/The New York Times)
Thiago Lavado
Publicado em 9 de março de 2021 às 13h58.
Quando a pandemia chegou, fomos forçados a ficar em casa e a transferir nosso trabalho e nossos hobbies para a internet. Reuniões de escritório e salas de aula foram substituídas por chamadas de vídeo. Assistimos mais à Netflix, jogamos mais videogames e fizemos compras on-line.
O resultado: abusamos de nossa rede Wi-Fi doméstica com vários dispositivos, que estavam trabalhando mais do que nunca. A conexão de internet congestionada, que contribuiu para chamadas de vídeo irregulares e downloads lentos, tornou-se a dor de cabeça tecnológica número um.
Agora, uma nova geração de Wi-Fi, conhecida como Wi-Fi 6, chegou para resolver esse problema. Traz velocidades mais rápidas e cobertura mais ampla. E o mais importante: a tecnologia sem fio faz um trabalho melhor ao compartilhar de modo eficiente a conexão de dados entre um grande número de dispositivos domésticos, como telefones, tablets, computadores, alto-falantes inteligentes e TVs.
Com o Wi-Fi 6, quando um dispositivo consome grandes quantidades de dados – um console de videogame baixando um jogo enorme, por exemplo –, não há desaceleração do resto da rede, como acontecia com a tecnologia Wi-Fi passada.
O Wi-Fi 6 estreou em 2018, mas chegou às massas apenas este ano, quando se tornou mais acessível, com dispositivos que custam apenas US$ 70, e mais amplamente disponível em novos roteadores de internet. Muitos smartphones e computadores recentes agora também incluem chips que os ajudam a aproveitar o Wi-Fi 6.
Como ele funciona exatamente? Imagine carros andando em uma estrada. Em redes Wi-Fi mais antigas, os carros, que representam dispositivos que transmitem dados, circulam em uma única faixa. Um dispositivo que leva muito tempo para completar uma tarefa pesada de dados é como o motorista que dirige bem devagar, forçando os que estão atrás a diminuir a velocidade.
O Wi-Fi 6 reduz o congestionamento ao direcionar o tráfego. Agora há várias pistas: pistas expressas para os dispositivos mais novos e mais rápidos, e uma pista lenta para os mais antigos e lentos. Todos os veículos também estão cheios de pessoas, o que representa grandes lotes de dados sendo transportados pela rede simultaneamente.
"O Wi-Fi 6 pode ser muito eficiente para fazer com que mais carros na estrada trafeguem rapidamente", disse David Henry, vice-presidente da empresa de rede Netgear.
Recentemente, testei dois novos roteadores Wi-Fi 6 e os comparei com um roteador Wi-Fi da geração anterior, o que rendeu alguns resultados medíocres, mas também melhorias mais surpreendentes. Eis o que aprendi.
Geralmente, tenho mais de duas dúzias de dispositivos conectados à internet em execução, incluindo alto-falantes inteligentes, um termostato e uma balança de banheiro. Isso parecia fazer da minha casa um ambiente de teste ideal para o Wi-Fi 6.
Os roteadores que escolhi foram o Eero Pro 6 da Amazon, que é vendido a cerca de US$ 230, e o Orbi da Netgear, que sai a US$ 380. Comparei-os com um roteador Google Wifi, que custava cerca de US$ 130 quando foi lançado em 2016.
Um dos testes envolveu o download de um episódio da série da Netflix "The Final Table – Que Vença o Melhor" em dois smartphones e um tablete, enquanto outro vídeo passava em um segundo tablet.
Os roteadores Wi-Fi 6 se saíram melhor que o roteador mais antigo, mas apenas marginalmente:
Fiz vários testes como o mencionado acima, inclusive baixando videogames enquanto fazia uma chamada de vídeo. Os resultados foram muitas vezes desanimadores. Portanto, qual é o problema?
Nick Weaver, executivo-chefe da Eero, fabricante de roteadores de propriedade da Amazon, afirmou que o benefício da redução do congestionamento com o Wi-Fi 6 seria mais visível em um ambiente com muito mais dispositivos, como um escritório com centenas de computadores fazendo tarefas pesadas ao mesmo tempo. "É menos importante no ambiente doméstico", observou. A maioria das casas ainda não tem tantos dispositivos.
Keerti Melkote, fundador da Aruba, empresa da Hewlett Packard Enterprise que oferece produtos Wi-Fi para empresas, tem outra teoria. Segundo ele, a maioria dos dispositivos da minha casa precisaria ter chips que os tornassem compatíveis com Wi-Fi 6 antes que os benefícios fossem mais pronunciados. Apenas cerca de um quarto dos meus aparelhos conectados à internet conta com um desses.
Não foram resultados de cair o queixo. Mas a boa notícia é que, usando o Wi-Fi 6, notei mudanças sutis em toda a minha casa.
Meus alto-falantes inteligentes da Amazon agora são mais responsivos. No meu quarto, peço à Alexa que controle duas lâmpadas conectadas à internet. Com o roteador mais velho, sempre que eu dizia "Alexa, acenda as luzes", havia um atraso de cerca de dois segundos antes de as luzes se acenderem. Agora é de menos de meio segundo.
Notei algo semelhante no MyQ, que me permite usar um aplicativo de smartphone para controlar a porta da garagem. Anteriormente, depois de apertar o botão, eu tinha de esperar vários segundos até a porta se abrir. Agora isso ocorre em uma fração de segundo.
Minhas chamadas de vídeo também parecem mais claras do que costumavam ser e levam menos tempo para se conectar.
Isso sugere que o Wi-Fi 6 é um investimento de longo prazo. Quanto mais dispositivos conectados à internet entrarem na casa das pessoas nos próximos anos, mais as vantagens vão se tornar visíveis. "Vai levar tempo, mas as melhorias vão ser reais", disse Melkote.
Dos dois roteadores Wi-Fi 6 que testei, preferi o Eero Pro 6. É US$ 150 mais barato que o Netgear Orbi, e ambos foram igualmente rápidos nos meus testes. A configuração do Eero também era mais simples. Mas quem deveria comprá-los?
Minha experiência indicou que as pessoas que compraram um roteador nos últimos cinco anos provavelmente não veriam grandes melhorias imediatamente, por isso não há pressa em atualizá-lo.
Para esses consumidores, provavelmente seria melhor esperar pelo Wi-Fi 6E, tecnologia recém-revelada que supostamente oferece ainda mais melhorias para reduzir o congestionamento da rede em bairros densamente povoados. Os roteadores que trabalham com Wi-Fi 6E estão apenas começando a ser adotados – e são muito caros –, de modo que podem se passar vários anos até que seja prático considerar a atualização.
Mas, se você comprou um roteador há mais de seis anos, atualizar para o Wi-Fi 6 ofereceria um grande aumento na velocidade, e os benefícios gerais seriam mais perceptíveis. Isso porque, em 2015, a Comissão Federal de Comunicações removeu restrições que limitavam a potência de transmissão sem fio dos roteadores Wi-Fi, permitindo que os novos fossem 20 vezes mais poderosos.
Aqui está uma regra ainda mais simples: se você está feliz com sua conexão em casa, continue com a que você tem e atualize-a quando achar que deve. Nem Melkote está usando o Wi-Fi 6 ainda. Ele disse que planejava atualizar este ano, porque sua família vai trabalhar e ter aulas em casa por mais algum tempo.
Quanto a mim, mesmo que as melhorias fossem apenas marginais, não há como voltar atrás. Acabo conectando meia dúzia de novos dispositivos à rede anualmente, portanto vou precisar dessas pistas extras.