Tecnologia

Com R$ 2,5 milhões, Vitacon quer virar empresa de tecnologia

A companhia amplia sua área de inteligência de dados e avisa: apartamento é só a commodity

Ariel Frankel: para CEO Vitacon, a venda do imóvel é apenas o começo da relação com o cliente (Vitacon/Divulgação)

Ariel Frankel: para CEO Vitacon, a venda do imóvel é apenas o começo da relação com o cliente (Vitacon/Divulgação)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 29 de março de 2021 às 12h15.

Última atualização em 29 de março de 2021 às 22h14.

Em 2009, a Vitacon surgiu como uma empresa do ramo imobiliário que se diferenciava por serviços em seus condomínios, como lavanderia e bicicletas compartilhadas. Com imóveis pequenos e modernos típicos de megalópoles, a companhia cresceu atravessando todos os momentos desafiadores do setor imobiliário no país na última década. Agora, com a explosão da demanda por vendas digitais, tratamento e análise de dados, a Vitacon vai investir 10 milhões de reais para se tornar uma empresa de tecnologia imobiliária. Desse montante, 2,5 milhões são apenas para a nova área de dados.

O investimento é destinado à criação de uma área de inteligência de dados, business intelligence, no jargão americano desse mercado. A demanda por tratamento de dados de clientes e dados de mercado, muitas vezes desorganizados, é uma tendência global. O setor, que teve faturamento mundial de 5,1 bilhões de dólares em 2019, atingirá receita de 132,9 bilhões de dólares em 2026, segundo dados da consultoria Market Research Future, baseada na Índia. 

Com o novo aporte em tecnologia, a empresa levará seu time de inteligência de dados de duas para 25 pessoas, um salto de 1.150% de 2020 para 2021. Desse contingente, 20 já estão contratados e representam, hoje, 20% do quadro de funcionários da Vitacon. 

A nova central de dados unificada será responsável por agregar todas as informações sobre clientes para gerar conclusões que guiarão as decisões da empresa nos próximos anos. Será com base em dados que a Vitacon irá melhorar o relacionamento com seus clientes ou mesmo definir como serão os novos empreendimentos imobiliários, que devem atender às necessidades identificadas em cada público-alvo.

Confira, a seguir, a entrevista com Ariel Frankel, CEO da Vitacon, sobre o mercado imobiliário, as vendas digitais e a transição da companhia para uma empresa de tecnologia.

Como o mercado imobiliário se comportou em 2020 e como tem sido o ano de 2021 para a Vitacon?

O ano de 2020 foi extremamente desafiador no mundo inteiro. Apesar disso, nosso setor teve um desempenho muito bom, especialmente, se levarmos em conta que atuamos em apenas oito meses do ano. Mesmo assim, tivemos um resultado muito similar ao de 2019, quando batemos nosso recorde de desempenho. Pudemos atuar no ambiente online, como já fazíamos há quatro anos, mantendo nossas lojas físicas em vez de criar estandes de vendas para cada novo empreendimento. Temos clientes em todo o Brasil, o que não nos deixa limitados a um município só, como São Paulo. No ano passado, lançamos empreendimentos de 1,3 bilhão de reais e vendemos 930 milhões de reais. Nosso retorno sobre o patrimônio (ROE) foi de 19%.

Como tem sido a adoção das vendas digitais de imóveis?

No início de 2020, antes da pandemia, as vendas digitais eram 35%. Agora, neste começo de ano, está em 76%. Boa parte não tem contato físico algum entre comprador e vendedor. No e-commerce, a venda digital é assistida por um vendedor e a dinâmica sem papel permite uma facilidade de utilização no nosso site. Em 2020, 60% dos clientes que compraram pela internet nunca visitaram nossas lojas físicas. O tráfego orgânico de nosso site registrou um aumento de 44% na quantidade de novos usuários. Além disso, a interação para compra online via chat e WhatsApp cresceu 15% entre março e novembro de 2020, ante o mesmo período de 2019.

Qual será o objetivo da nova área de BI?

O dinheiro aplicado em novas tecnologias visa facilitar todos os processos de negócios. Devemos aumentar de cinco a dez vezes o volume de dados de clientes na empresa, muitos dos quais não estão estruturados e precisam de tratamento. Os dados poderão ser cruzados rapidamente para detectar o perfil do público de uma determinada região e poder atender os clientes da melhor forma.

Onde o time ficará baseado?

A unidade de BI ficará baseada em São Paulo. Mas nossa “turma do escritório” está em home office desde o ano passado e deve continuar de forma híbrida no longo prazo. O escritório será um lugar de encontros e não mais para abrir o computador e trabalhar. 

Qual é a meta do investimento de 2,5 milhões reais nessa nova área?

Temos dois principais objetivos para esse investimento. O primeiro é melhorar o índice de satisfação do cliente, especialmente sobre transparência e agilidade de comunicação, tornando melhor a jornada de compra. Esperamos ter crescimento de 20% ao ano nessa métrica. A outra meta, financeira e simplista, é ter um crescimento de 70% em relação ao número de conversões de vendas que temos hoje. 

Com esse investimento, vocês irão se tornar mais uma empresa de tecnologia do que uma companhia do ramo imobiliário?

Sim. Uma incorporadora tradicional compra e desenvolve empreendimentos imobiliários. A gente tem uma abordagem mais tecnológica e voltada para a melhoria da experiência do cliente, bem como do recebimento dos proventos do empreendimento. Olhamos muito para a tecnologia e os investimentos nessa área vão crescer cada vez mais e teremos serviços agregados para nos diferenciar no mercado. O produto que vendemos é uma commodity, sem desmerecer todo o processo criativo envolvido nele. A força e a visão da empresa estão voltadas para os serviços e para o cliente. A Housi, do nosso grupo, surgiu para atender os clientes também no pós-venda. Além de toda a jornada de desenvolvimento, venda e construção, temos a Housi para estar ao lado do cliente no longo prazo. Quando entregamos um prédio, ainda estamos nos primeiros 15 minutos de jogo. Só vender o apartamento é como vender um carro sem retrovisor ou sem um dos bancos.

A Vitacon planeja fazer parcerias com escolas de programação ou criar cursos próprios de treinamento de profissionais de TI, em face do aumento da escassez de trabalhadores especializados nessa área? 

Tudo que ainda não fazemos com grande competência fazemos com serviços complementares. Nos temas que não são nossa especialidade, faremos parcerias estratégicas. Com a expansão nacional que teremos, vamos fomentar parcerias. 

A pandemia vai causar uma descentralização do mercado imobiliário?

Há movimentações e oportunidades hoje. Temos recebido convites para expandir nosso modelo para outras regiões. A expansão será sob medida, sob demanda, zero especulativa, mas ainda não tem prazo para acontecer. Se fosse apenas para aumentar nosso volume de vendas, diríamos não. 

Qual é a expectativa de crescimento para 2021?

Tanto para vendas e lançamentos, esperamos de 30% a 35%. Nos últimos dois anos, o mercado imobiliário teve a melhor fase dos últimos sete anos. Houve um represamento forte de vendas nesse passado e a taxa de juro baixa ajuda nas vendas. 2019 foi um ano de recuperação, enquanto 2020 deixou gosto de quero mais. Temos muitos clientes que estão comprando o primeiro imóvel e há também pais que compram imóveis para os filhos. Os preços dos imóveis também ainda não sofreram uma grande alteração, o que favorece as vendas. O crescimento que planejamos não é só uma meta atingível, ele é um crescimento natural. 

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