Tecnologia

Com música gospel e sertaneja, Deezer quer se manter como força no Brasil

Serviço de música aposta em artistas locais para crescer e encarar a concorrência reforçada

Streaming: Deezer quer estar preparada para chegadas e reforços de concorrentes no Brasil (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

Streaming: Deezer quer estar preparada para chegadas e reforços de concorrentes no Brasil (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

GG

Gustavo Gusmão

Publicado em 21 de outubro de 2018 às 05h55.

Última atualização em 22 de outubro de 2018 às 10h43.

São Paulo — Com reformulações nos apps e estreias no mercado brasileiro, Spotify e YouTube Music são dois dos serviços de transmissão de música mais em evidência no Brasil nas últimas semanas. Mas engana-se quem pensa que uma outra grande player do setor, a Deezer, está parada, só observando a concorrência chegar ou mudar para ganhar clientes.

Hoje dona da segunda plataforma musical mais usada no país, a empresa francesa ganhou mercado por aqui investindo em parcerias e artistas locais — e está aos poucos expandindo suas operações na região, com direito a escritório maior e estúdio próprio. Mas com a concorrência e o mercado crescendo, onde a empresa pretende chegar no Brasil? E como, exatamente? EXAME conversou com Oscar Castellano, CEO da Deezer para as Américas, e com Bruno Vieira, diretor geral da Deezer no Brasil, para saber mais.

Conteúdo local é a chave

A base da estratégia da Deezer não é muito diferente do que faz o Spotify, por exemplo — e até mesmo o próprio YouTube, que começou antes mesmo de lançar o Music no Brasil. "É algo que chamamos de 'local hero'", ou "herói local", explicou Castellano. "Estamos falando de, sim, oferecer música pop na plataforma. Mas, além disso, focar no que o público brasileiro gosta."

Ou seja, artistas locais. É uma tendência do mundo todo que se aplica muito bem por aqui. Dados do YouTube comprovam isso: em 2018, o tempo de visualização do canal Kondzilla foi 17 vezes maior do que o do canal do rapper e fenômeno mundial Drake no Brasil. A sertaneja Marília Mendonça, por sua vez, tem 9 vezes mais visualizações na plataforma do Google neste ano do que a cantora pop e ex-Fifth Harmony Camila Cabello no país. O mesmo parece se aplicar na Deezer, considerando a estratégia adotada.

Por aqui, a empresa investiu primeiro no gospel, impulsionando artistas e gravando conteúdos exclusivos para o serviço. O gênero é hoje o segundo mais ouvido na plataforma, atrás apenas do sertanejo, que é para onde as atenções estão voltadas atualmente, segundo Castellano.

Fora a história de "heróis locais", a companhia também mantém o programa Deezer Next, que foca em descobrir novos fenômenos em potencial, e também parcerias. A mais recente foi na TV aberta, que rende um bom número de novos usuários, que eventualmente viram assinantes. Mas há uma bem mais longeva, com a operadora TIM.

Parceria com a TIM vai se manter

O acordo com a empresa de telecomunicações, que garante assinaturas gratuitas da Deezer a clientes de alguns planos, sofreu uma baixa nas últimas semanas. O benefício foi removido de um plano pré-pago, e assinantes não receberam muito bem a notícia, por mais que a operadora já a tivesse a antecipado. Mas a parceria entre as duas empresas está longe do fim, conforme garantiram Castellano e Vieira.

Segundo Vieira, a oferta gratuita foi "educacional", com o objetivo de "mostrar o streaming para o público". O próximo passo, iniciado agora, é convencer as pessoas a pagar pelo serviço, conforme afirmou a EXAME o diretor da Deezer no Brasil.

Para isso, a TIM pode inclusive aproveitar o fato de ser uma operadora e ter uma forma de pagamento fácil em mãos: os créditos do pré-pago. Usuários podem usar o saldo do celular para pagar a assinatura da Deezer — o que é um dos grandes motivadores para uma parceria entre uma empresa de streaming e outra de telecomunicações.

"Pagamento ainda é um desafio aqui no Brasil", contou Vieira. "Por isso, mais do que o subsídio da música, nós temos que construir um mercado e conseguir novos clientes que paguem, que é algo que as operadoras têm na mão." É uma tática que a empresa segue também na Europa, com a Orange, e que outras companhias de streaming também tentam seguir aqui no Brasil, mesmo que de formas diferentes. Basta lembrar do Napster e, mais recentemente, do Tidal com a Vivo e da Claro com o Claro Música.

"Ainda não estamos na fase de tirar clientes do outro"

Concorrentes, inclusive, são bem-vindos, como deixou claro Castellano. A chegada do YouTube Music e as mudanças feitas pelo Spotify são tidos pelo CEO da Deezer para as Américas como "fundamentais para me incentivar a evoluir ainda mais". "Quanto mais deles, melhor para esse momento de explosão [que vive a indústria]", disse.

Vieira reforçou o ponto de vista: "A penetração do streaming no mercado ainda é baixa, então concorrentes vão ajudar o setor a crescer", explicou. "Ainda há muito espaço para explorar, ainda não estamos na fase de ficar tirando clientes uns dos outros."

Isso é um fato, na verdade: apesar de já haver uma briga pelo topo, uma pesquisa da Midia Research referente ao primeiro semestre de 2018 mostra que o número global de assinantes de plataformas do tipo está crescendo a passos largos. No entanto, ainda não é exatamente enorme: dos 198,6 milhões registrados em janeiro, o total bate os 229,5 milhões em junho. Esse crescimento expressivo deve se manter até pelo menos o meio de 2019.

Brasil é mercado prioritário

O plano da Deezer, portanto, é não deixar de crescer. E o Brasil, reforçaram Castellano e Vieira, é um mercado prioritário para a empresa — o segundo mais importante ao redor do mundo, para ser mais preciso. "O que esperamos para o ano que vem é dar continuidade a esses projetos que estão dando certo", explicou Vieira, referindo-se especialmente ao incentivo aos gêneros e artistas locais, o plano dos tais heróis locais.

Nas Américas, a estratégia já é seguida também na Colômbia, mas deverá ser adotada no ano que vem no México, um mercado em que a empresa ainda é fraca. Por aqui, ela deve continuar centrada no sertanejo por mais algum tempo. Mas um terceiro gênero está nos planos, embora nenhum dos dois executivos tenha dito qual será. Rap, talvez?

Acompanhe tudo sobre:DeezerMúsicaSpotifyYouTube

Mais de Tecnologia

Canadá ordena fechamento do escritório do TikTok, mas mantém app acessível

50 vezes Musk: bilionário pensou em pagar US$ 5 bilhões para Trump não concorrer

Bancada do Bitcoin: setor cripto doa US$135 mi e elege 253 candidatos pró-cripto nos EUA

Waze enfrenta problemas para usuários nesta quarta-feira, com mudança automática de idioma