Agência
Publicado em 5 de maio de 2025 às 15h35.
Última atualização em 5 de maio de 2025 às 16h26.
A interface cérebro-computador é uma tecnologia de ponta que permite a comunicação direta entre o cérebro humano e dispositivos externos, convertendo sinais neurais em comandos específicos. Com potencial para transformar a reabilitação de pacientes com deficiências motoras e sensoriais, essa inovação tem sido uma prioridade estratégica da China nos últimos anos.
Em abril, a Universidade de Tianjin, em parceria com o Hospital Huanhu, iniciou a construção do primeiro centro clínico integrado do país voltado para a aplicação prática dessa tecnologia. Localizado na unidade Tianta do hospital, o centro atenderá pacientes com AVC, paralisia cerebral, Parkinson e deficiências auditivas e visuais, oferecendo serviços que vão da triagem à reabilitação inteligente.
No Laboratório Haihe de Interface Cérebro-Computador da Universidade de Tianjin, pesquisadores vêm testando aplicações inovadoras, como o controle de um “sexto dedo” por meio do pensamento e o uso de dispositivos vestíveis nos membros inferiores para reabilitar vítimas de AVC. “Esperamos que essas pesquisas saiam dos laboratórios e cheguem à vida real o quanto antes”, afirmou Wang Zhuang, membro da equipe científica.
Segundo Ming Dong, vice-reitor da Universidade de Tianjin e diretor-executivo do laboratório, o objetivo é transformar os avanços científicos em soluções clínicas aplicáveis. Ele destacou que a instituição, junto com o Hospital Huanhu, trabalha na criação de um centro de referência internacional em interface cérebro-computador. Também estão em curso pesquisas sobre uma nova geração de interação cérebro-máquina e inteligência inspirada no funcionamento cerebral humano.
“É extremamente gratificante ver pacientes com AVC recuperarem parte de suas funções motoras após o tratamento com a interface”, destacou Wang Zhuang.
Desde o lançamento do “Plano do Cérebro da China”, em 2016, a tecnologia de interface cérebro-computador passou a ocupar posição central nas políticas de inovação do país. Documentos como o Plano de Implementação do Projeto de Padrões para Novas Indústrias (2023–2035) e as Diretrizes para o Desenvolvimento Inovador de Indústrias do Futuro apontam essa tecnologia como uma das prioridades nacionais. Graças ao forte apoio governamental e a avanços científicos contínuos, a China já lidera mundialmente em diversos aspectos do setor.
O mercado global também representa uma oportunidade estratégica. Estimativas da consultoria McKinsey indicam que, entre 2030 e 2040, o mercado potencial de interfaces cérebro-computador poderá movimentar de US$ 15 bilhões a US$ 85 bilhões na área médica especializada e de US$ 25 bilhões a US$ 60 bilhões no setor de saúde voltado ao consumidor. A maturidade tecnológica e o ambiente regulatório favorável oferecem à China uma base sólida para competir nesse segmento.
As interfaces cérebro-computador se dividem em invasivas e não invasivas, dependendo da necessidade ou não de penetração no crânio. De acordo com Meng Lin, assistente de direção do laboratório e cientista-chefe de um projeto nacional de P&D, a Universidade de Tianjin mantém liderança nas aplicações não invasivas, com foco em interação homem-máquina de nova geração, voltada para áreas como missões espaciais tripuladas, ensino médico e reabilitação.
No campo dos componentes fundamentais, a universidade desenvolveu, em colaboração com a China Electronics Corporation, o "BrainTalker" — primeiro chip do mundo totalmente dedicado à codificação e decodificação de sinais de interface cérebro-computador, com propriedade intelectual 100% chinesa. Na área médica, a série de dispositivos “Shengong” já está em operação.
A regulação do setor também avança. Em fevereiro de 2024, a Comissão Nacional de Ética em Ciência e Tecnologia publicou o Guia Ético para Pesquisas em Interface Cérebro-Computador. Já em março de 2025, o Instituto Chinês de Tecnologia da Informação liderou a elaboração do Roteiro de Padronização da Interface Cérebro-Computador (2025), estabelecendo diretrizes técnicas para o setor.