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China cria moeda virtual para enfrentar a libra, do Facebook

O presidente do Banco Central, Yi Gang, declarou que a futura moeda estará associada a meios de pagamento eletrônicos já usados pelos chineses

Libra: projeto é rejeitado por vários governos, como o dos Estados Unidos e alguns na Europa, preocupados com a má reputação do Facebook (Dado Ruvic/Ilustração/Foto de arquivo/Reuters)

Libra: projeto é rejeitado por vários governos, como o dos Estados Unidos e alguns na Europa, preocupados com a má reputação do Facebook (Dado Ruvic/Ilustração/Foto de arquivo/Reuters)

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AFP

Publicado em 15 de outubro de 2019 às 14h33.

Última atualização em 15 de outubro de 2019 às 14h42.

A China acelera os preparativos para criar sua própria moeda virtual, no momento em que o Facebook promete revolucionar o sistema mundial de pagamentos com sua "libra".

Trata-se de uma mudança para Pequim, que, em 2017, acusou as criptomoedas de serem "o instrumento da atividade criminosa" a serviço do tráfico de drogas e da fraude financeira.

No final de setembro, o presidente do Banco Central, Yi Gang, declarou que a futura moeda virtual estará associada a meios de pagamento eletrônicos (WeChat, AliPay, ...) já usados pelos chineses em seus celulares para a maioria de suas compras.

Yi não deu datas, nem detalhes, sobre o funcionamento da moeda, mas a imprensa chinesa fala do lançamento em 11 de novembro, dia da "festa dos solteiros", quando há um frenesi de compras on-line.

"Podemos considerar uma tecnologia do tipo 'blockchain' (como a do bitcoin), ou outra que evolui com base nos pagamentos eletrônicos existentes", disse Yi.

Será administrada de forma centralizada, porém, ao contrário do que acontece com o bitcoin.

"O Banco Central estará no primeiro nível como coordenador, e as demais instituições bancárias do país, abaixo", explicou Stanislas Pogorzelski, editor-chefe do site especializado Cryptonaute.fr, acrescentando que o objetivo é "substituir o dinheiro em espécie".

Comoção monetária

Há até dois anos, as três principais plataformas de transações em bitcoins da China (BTC China, Okcoin e Huobi) representavam mais de 98% do comércio mundial, segundo o site de referência bitcoinity.org.

O setor não estava regulado, e as transações passavam por baixo do radar das autoridades. Por isso, em 2017, o governo fechou as plataformas de intercâmbio de criptomoedas.

O regime comunista teme, porém, ser superado pela futura moeda do Facebook, rede social bloqueada no país.

Com lançamento previsto para 2020, a libra permitirá comprar bens e pagar com a mesma facilidade que se envia uma mensagem instantânea.

A libra, assim como o bitcoin, "representa um perigo para o iuane", em um momento em que Pequim se preocupa com estabilizar sua moeda, afirmou Song Houze, do grupo MacroPolo, especializado na economia chinesa.

O anúncio do nascimento da libra é um "alerta" para Pequim, segundo um ex-funcionário de alto escalão do Banco Central citado na imprensa chinesa. Segundo ele, pode abalar o sistema monetário internacional.

O projeto da libra é rejeitado por vários governos, como o dos Estados Unidos e alguns na Europa, preocupados com a má reputação do Facebook em termos de privacidade e de proteção de dados pessoais, além de temerosos de que seja usada para burlar o Fisco.

Várias empresas, como os emissores de cartões bancários Visa e Mastercard e a plataforma de comércio on-line eBay, retiraram-se do projeto.

"Último baluarte da privacidade"

Song adverte que o Banco Central chinês não deve ficar à margem do fato de que "o uso de dinheiro em papel declina".

Com uma criptomoeda nacional, as autoridades terão "uma melhor percepção das transações no país", afirmam analistas da firma Trivium China, com sede em Pequim.

A moeda virtual pode ajudar a "melhorar a gestão dos riscos e reduzir as malversações financeiras", acrescentam, em uma nota.

O Banco Central poderá "obter informação nova que não possa conseguir com uma transação em espécie", comentou Song.

Menos rastreável, a moeda em espécie "representa o último baluarte em matéria de privacidade", aponta Pogorzelski.

Em um país onde os sistemas de "crédito social" e as câmeras de vigilância de reconhecimento facial se generalizam, a criptomoeda pode permitir "vigiar mais os fatos e gestos da população", adverte.

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