Lionel Messi durante treino da Argentina no Itaquerão, em São Paulo (Dylan Martinez/Reuters)
EFE
Publicado em 19 de dezembro de 2016 às 10h53.
Última atualização em 19 de dezembro de 2016 às 10h56.
Pequim - Já disse uma vez o espanhol José Antonio Camacho quando era técnico da seleção chinesa: um país com mais de um bilhão de habitantes tem que gerar um dia uma grande estrela do futebol mundial e, tendo em vista que o dinheiro das contratações não está alcançando este objetivo, agora os clubes chineses querem buscar isso com cálculos estatísticos.
Representantes dos principais clubes da China e empresas tecnológicas de análise de dados se reuniram recentemente em Pequim para descobrir se a matemática e a informática podem ajudar a melhorar o rendimento dos jogadores do país, que pretende em meados deste século se tornar uma grande potência do futebol.
Na Europa e na América já existem muitos clubes de elite que medem cuidadosamente centenas de variáveis de cada jogador (desde os quilômetros que percorrem, suas pulsações ou seu poder de aceleração, citando os mais simples), e na China, onde ter grandes jogadores é uma obsessão nacional, também já está se considerando trabalhar desta forma.
"Da mesma forma que um treinador, os dados, números, também são partes do esporte e podem mostrar se você está jogando bem ou não", disse à Agência Efe Xian Feng, diretor da empresa Sodasoccer, uma das primeiras a assessorar as equipes chinesas nesta nova tendência.
O uso matemático de dados para construir grandes equipes teve início no beisebol, com o caso de Billy Beane e sua equipe, Oakland Athletics (transformado no filme "O Homem que Mudou o Jogo"), e, embora o futebol seja mais complicado para resumir em estatísticas, também está sendo introduzido este conceito.
Algumas equipes chinesas já elaboram algoritmos com as variáveis físicas de seus jogadores, assim como fez a seleção alemã, que conquistou a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, que de acordo com diversos analistas, contribuiu para sua vitória.
Os jogadores alemães foram monitorados pela gigante alemã do software SAP, cujo vice-presidente, Jan Schneider, mostrou em Pequim as possibilidades de sua empresa, que começará a atuar na China em 2017.
"Seus resultados são especialmente bons em ligas ainda não tão desenvolvidas, ou de divisões inferiores", afirmou Schneider.
Uma das perguntas que surgiu nas conferências, e que deu título a um dos debates, é se a análise de dados, ligada ao desenvolvimento do futebol de base que está tendo início na China, pode servir efetivamente para que nasça neste país um jogador com a genialidade de Lionel Messi.
Para o especialista em informática, Qiang Bai, presidente da companhia Sport 8, organizadora da conferência, o "Messi chinês" é possível, mas dependerá também de um valor que não pode ser medido: a sorte.
"Talvez em 20 ou 30 anos... Jorge Mendes, empresário de Cristiano Ronaldo, me incentivava recentemente, dizendo que em um país tão grande tem que existir talentos que ainda não conhecemos", disse Qiang em entrevista coletiva.
A busca de soluções matemática e estatísticas para a falta de qualidade do futebol chinês, um dos que mais tem investido neste esporte, pode se adaptar bem em um país onde o governo fixou como uma de suas metas para o ano de 2050 ser uma grande potência do futebol, o esporte favorito do presidente da China, Xi Jinping.
Durante duas décadas, pensava-se que a solução era colocar enorme quantia de dinheiro nos clubes, o que se traduziu na chegada de estrelas europeias em decadência e uma liga repleta de partidas manipuladas e casos de corrupção, mas agora estão buscando outros métodos, como o desenvolvimento do futebol de base ou a análise de dados.
Uma decisão do governo estabeleceu que, antes do final desta década, o país deve ter 20 mil escolas de futebol, e que 30 milhões de estudantes dos ensinos fundamental e médio devem praticar o esporte.
Será com essas boas bases, se forem alcançadas, que os analistas sacarão suas calculadoras para medir milhões de dados, na busca pela primeira grande estrela chinesa do futebol mundial.
Para os que temem que a entrada da informática e os dados no futebol tornarão o jogo mais previsível e chato, os próprios analistas asseguram que o fator humano sempre deixará espaço para surpresas.
"Os dados podem ajudar, mas não bastam para ganhar uma partida. Ninguém poderia prever o gol de Mario Gotze contra a Argentina", destacou Qiang, lembrando o gol que deu à Alemanha o título da última Copa do Mundo.