Tecnologia

Caso Henry: Como a polícia teve acesso às conversas de WhatsApp apagadas

Foi empregada uma tecnologia que permite o desbloqueio de celulares e recuperação de dados excluídos a partir de brechas de segurança

 (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

(Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Decisiva para a prisão do casal Dr. Jairinho (recém-expulso do Solidariedade) e Monique Medeiros, mãe de Henry, a revelação das conversas de WhatsApp apagadas dos celulares dos dois acusados foi um trunfo obtido por meio de um sofisticado software israelense.

Chamado Cellebrite Premium, tem seu uso restrito para autoridades e já é um conhecido da polícia, usado em investigações importantes como as da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada em 2018; da Vaza Jato, com vazamentos de conversas privadas da equipe da Operação Lava Jato; e da prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro. 

Na aplicação mais recente, o software permitiu recuperar prints de conversas feitas no WhatsApp entre Monique e a babá da criança, que haviam sido apagadas anteriormente do celular de Monique. Em uma das trocas de mensagens, foi descrito o processo de torturas físicas por qual a criança passava.  

O acesso aos conteúdos dos celulares foi autorizado após quebra de sigilo telefônico decretado pela Justiça do Rio de Janeiro durante as investigações. Com o resultado, Dr. Jairinho e Monique Medeiros foram presos temporariamente pela Polícia Civil no Rio de Janeiro na quinta-feira (08/04). As evidências mostram que eles tentaram interferir nas investigações.

Como o corpo do menino foi encontrado com diversas lesões graves, e os depoimentos foram conflitantes em relação o laudo do IML (Instituto Médico Legal), não demorou para que a polícia tentasse a linha de investigação onde o casal seria o responsável pela morte de Henry. A suspeita ficou mais forte depois das revelações fornecidas pelo Cellebrite. 

Como foi o processo de recuperação?

É importante saber que, quando arquivos são apagados de um smartphone, uma parte dos dados ainda ficam guardados no aparelho. Eles são reduzidos e movidos para uma pequena região da memória que, com o passar do tempo, será sobreposta por arquivos novos. Assim, é possível dizer que função deletar funciona quase como uma máquina de picotar papel. Ela reduz o tamanho do arquivo, mas se alguém se esforçar é possível remontar a folha e ler o conteúdo. É o caso do Cellebrite, que é capaz de acessar e desbloquear smartphones iOS e Android, além de revelar o conteúdo que aplicativos de empresas como Facebook, WhatsApp e Telegram ocultam ao deletá-los.  

A função é tão poderosa que invalida uma parte do argumento de privacidade que fabricantes e desenvolvedores de aplicativos costumam propagandear. "Acessando aplicativos de terceiros, senhas salvas e tolkens, conversas de bate papo, dados sobre localização, anexos de e-mails, registros de sistemas, bem como conteúdo apagado, o serviço aumenta as suas chances de encontrar provas incriminatórias", diz a Cellebrite.  

Contudo, ele não age sobre a criptografia empregada na transmissão das mensagens. Nesse caso, a polícia não seria capaz de interceptar uma conversa de WhatsApp, por exemplo. O Cellebrite vai permitir ler somente o que já foi gravado na memória física do aparelho, aí são incluídos SMS e outros aplicativos de mensagem. São imunes ao Cellebrite as mensagens autodestrutivas de apps como Telegram e Signal. Neles, os dados não chegam a existir fisicamente.

Acompanhe tudo sobre:CrimeCriptografiaPolícia CivilWhatsApp

Mais de Tecnologia

Satélites da SpaceX estão causando interferência nos equipamentos de pesquisadores, diz instituto

Desempenho do iPhone 16 chama atenção e consumidores preferem modelo básico em comparação ao Pro

iPhone 16 chega às lojas – mas os recursos de inteligência artificial da Apple, não

Intel descarta venda de participação na Mobileye e ações da empresa disparam