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CashU estrutura fundo próprio de R$ 100 mi e promete destravar R$ 1 bi em crédito para PMEs

Com um novo fundo com investidores como Itaú BBA e Crédit Saison, fintech aposta análise feita por IA para financiar pequenas e médias empresas

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 11 de fevereiro de 2025 às 08h18.

Última atualização em 11 de fevereiro de 2025 às 08h20.

Em um mercado onde crédito para pequenas e médias empresas (PMEs) ainda depende de bancos tradicionais e garantias difíceis de oferecer, a CashU decidiu ir na contramão. A fintech, que começou oferecendo inteligência para avaliação de risco, percebeu que o verdadeiro diferencial não estava apenas em prever inadimplência — mas a capacidade que teria de assumir o risco e bancar as transações entre indústrias, distribuidores e pequenos varejistas. A startup agora dá mais um passo para consolidar essa aposta com o lançamento de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de R$ 100 milhões, estruturado com o Itaú BBA e o grupo japonês Crédit Saison.

O objetivo da fintech é agressivo: viabilizar R$ 1 bilhão em crédito para PMEs até o fim de 2025. “Nosso modelo de crédito proprietário é dez vezes mais preciso do que os métodos convencionais usados pelo mercado”, afirma Thiago Saldanha, CEO e cofundador da CashU. “Agora, além de estruturar a análise, conseguimos financiar diretamente o crescimento dessas empresas, sem depender exclusivamente de parceiros financeiros.”

A fintech se posiciona em um nicho ainda pouco explorado no Brasil. Enquanto o crédito digital B2C já representa 15% do mercado, no B2B, essa penetração ainda está em apenas 2,5%. “Estamos falando de uma oportunidade gigantesca e de um segmento que ainda opera de forma analógica. O crédito para PMEs funciona quase como há 20 anos: ou você tem garantias para oferecer, ou não consegue financiamento”, diz Saldanha.

A experiência dos sócios

O modelo da CashU não nasceu do acaso. A ideia começou a ser gestada em 2019, quando Saldanha e Yuri Fonseca, cofundador e Chief AI Officer da empresa, estudavam em Columbia, nos Estados Unidos. “A gente tem esse privilégio de muitas vezes conseguir ler o jornal de amanhã quando estamos em um ecossistema desenvolvido como o americano”, lembra Saldanha. “Ficou claro que a próxima grande revolução no crédito B2B passaria pelo uso intensivo de inteligência artificial.”

Na volta ao Brasil, o desafio foi testar se essa tese funcionaria na prática. Os fundadores começaram com projetos-piloto para entender os gargalos do crédito para PMEs. Desenvolveram soluções para um banco de fomento e para um dos maiores multisellers do país — e perceberam que não bastava apenas refinar a análise de risco. O real diferencial seria oferecer o crédito diretamente ao varejista, eliminando as barreiras do sistema financeiro tradicional.

A fintech iniciou sua operação com um modelo mais conservador, sem assumir risco diretamente. Mas, à medida que testava suas soluções, ficou evidente que só haveria escala real se a empresa também financiasse os clientes. Em 2021, captou R$ 6,1 milhões em sua rodada seed. Desde então, cresceu exponencialmente e conquistou clientes como os três maiores marketplaces B2B do país, além de distribuidores e indústrias nos setores de alimentos, bebidas e higiene.

O crescimento médio da originação de crédito tem sido de 32% ao mês. “Conseguimos provar nossa capacidade de originar crédito dentro da cadeia de fornecimento. Agora, com o FIDC, temos um motor de crescimento próprio”, afirma Saldanha.

Crédito para quem precisa, quando precisa

O diferencial da CashU está em transformar dados que os bancos tradicionais ignoram em variáveis preditivas para crédito. Conectada a indústrias e distribuidores, a fintech analisa mais de 1.500 variáveis comportamentais para determinar qual varejista tem capacidade de pagamento — e quanto crédito ele precisa para crescer sem risco excessivo.

“Eu conheço o problema do crédito do lado de quem já tomou crédito. A gente sabe que, para um pequeno varejista, a única opção acessível é a antecipação de recebíveis do cartão. Mas se ele não tem uma maquininha, ou um ativo para dar como garantia, ele simplesmente não consegue financiamento”, diz Saldanha. “O que fazemos calibrar a concessão para que ele consiga crescer de forma sustentável, sem se endividar demais.”

A tecnologia da fintech permite que a concessão seja feita em tempo real, diretamente no checkout das compras feitas por PMEs nos marketplaces e distribuidores parceiros. O varejista não precisa ir até um banco, negociar taxas ou preencher burocracias: o crédito é concedido no momento da compra, de forma integrada ao fluxo de pagamentos da indústria.

O futuro do crédito B2B no Brasil

Com o novo FIDC, a CashU quer expandir rapidamente suas operações. A meta é chegar a R$ 100 milhões em concessões mensais até o fim do ano, mantendo parcerias com outras instituições financeiras, mas também com capital próprio para impulsionar esse crescimento.

A fintech também avalia novas captações no futuro, conforme seu modelo ganha tração. Diferente de outras startups que cresceram a qualquer custo e depois enfrentaram dificuldades, a CashU apostou desde o início em um modelo sustentável. “A entrada de players como Itaú e Crédit Saison elevou o nível de governança da empresa. No processo de captação, realizamos testes com os maiores bancos do mercado e atestamos a superioridade dos nossos modelos", conta. Tal aprovação, foi um reconhecimento essencial para a CashU.

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