Carro de madeira da UPM: o carro é construído com celulose e madeira compensada, além de rodar com combustível de cascas de árvore, troncos e galhos (Patrik Lindstroem/ UPM-Kymmene Oyj via Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2014 às 13h50.
Helsinque - Os surfistas estão contentes. Carros de madeira como o Ford do hit Surf City, dos anos 1960, podem estar voltando, mas de uma forma diferente.
Em uma aposta para ressuscitar os carros de madeira, a fabricante finlandesa de papel UPM-Kymmene Oyj mostrará um protótipo apto para as ruas no salão de automóveis de Genebra, em março.
O carro amigo do meio ambiente é construído sobre uma base que usa polpa de celulose e madeira compensada e até roda com combustível feito a partir de cascas de árvore, troncos e galhos.
É mais do que simplesmente um golpe de marketing. A empresa com sede em Helsinque desenvolveu uma tecnologia que transforma a madeira em uma possível opção para a indústria automobilística.
O carro conceito Biofore, da UPM, que usa produtos disponíveis no mercado, é desenhado para atender os padrões europeus para batidas e segurança contra incêndio e oferece todos os confortos de um carro convencional.
“O mundo do desenvolvimento sustentável não é algo que é escolhido; ele vem”, disse Juuso Konttinen, vice-presidente da UPM para Novos Negócios, em entrevista em um armazém em Helsinque, onde o carro é mantido em segredo por enquanto.
Todo grande salão automobilístico apresenta carros conceitos supermodernos que nunca chegam a ser produzidos. Esse veículo, contudo, é o símbolo de um esforço global de grande escala para substituir componentes de aço pesado e tornar os automóveis um fardo a menos para o ambiente.
As reguladoras estão exigindo veículos mais eficientes e isso faz com que a redução do peso seja uma prioridade para as fabricantes de carros.
Caminhão da Ford
Com o modelo 2015, a picape F-150 da Ford Motor Co., o carro americano mais vendido durante 32 anos, se tornará o primeiro veículo de alta produção com carroceria de alumínio. Ela será 700 libras (317 quilos) mais leve, o que melhora a economia de combustível.
A Volkswagen AG também está usando mais alumínio e aço de alta durabilidade, enquanto a Bayerische Motoren Werke AG está optando por fibra de carbono para reduzir o peso.
Ambas as abordagens demandam muita energia e são mais caras que o aço.
E a madeira não está descartada: a Ford usará um composto plástico baseado em madeira para partes internas do utilitário esportivo Lincoln MKX 2014. Os componentes são criados em colaboração com a empresa florestal Weyerhauser Co. e a fabricante de autopeças Johnson Controls Inc.
De certa forma, este é um momento "De volta para o futuro" para as fabricantes de carros. Os primeiros automóveis do mundo, incluindo o Reitwagen, da Gottlieb Daimler, de 1885, que tinha duas rodas, foram em grande parte feitos de madeira.
Eram carruagens sem cavalos, no fim das contas, e algumas das primeiras empresas inovadoras do setor foram as fabricantes de carrocerias, como a Lohner-Werke, de Viena, que proporcionou a Ferdinand Porsche, uma lenda da fabricação de carros, seu início na indústria.
Tradição de madeira
“Era um verdadeiro ofício e a tradição artesanal de uso da madeira remonta ao período colonial”, disse John Heitmann, presidente da Sociedade dos Historiadores Automotivos e professor da Universidade de Dayton, em Ohio. “A indústria automobilística está no limiar de uma nova revolução completa. Então, por que não ter painéis feitos de madeira?”.
A UPM está em negociações com as fabricantes de carros para implementação de sua tecnologia para uso da madeira, que a designer de carros diz que pode reduzir o peso de um veículo em mais de 15 por cento.
A UPM diz que seus materiais, como a madeira compensada moldada com o calor e as fibras de celulose para reforçar o plástico, são competitivos com outros compostos como fibra de vidro. Os assentos serão estofados.
A Audi, a segunda maior marca de carros de luxo do mundo, não vê o potencial da madeira para uso em componentes estruturais porque “não oferece a segurança e a estabilidade necessárias”, disse Josef Schlossmacher, porta-voz da unidade da Volkswagen.
A UPM e seus parceiros, incluindo a Universidade Metropolia de Ciências Aplicadas, da Finlândia, estão apostando que seu protótipo pode mudar essa percepção.
O primeiro test drive do veículo com base de madeira foi conduzido sob a chuva, em agosto, para dissipar preocupações sobre a capacidade do carro de lidar com a água. Cerca de 50 técnicos trabalharam um total de 30.000 horas no carro.
O atrativo ambiental está “escondido”, disse Konttinen, da UPM. “O carro é ecologicamente eficiente e ainda assim é pelo menos tão bom quanto os que não são”.