Akon: a criptomoeda mais conhecida é o bitcoin, mas existem milhares de outras em circulação (Kevin Mazur/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 22 de junho de 2020 às 07h25.
Última atualização em 22 de junho de 2020 às 12h40.
Colecionador de prêmios no cenário musical, o cantor Akon tem planos ambiciosos para o Senegal, onde passou a infância e considera sua casa, apesar de ter nascido nos EUA. O principal é a construção de uma cidade, batizada como Akon City e que promete ser a “Wakanda da vida real”. Outro é o lançamento de uma criptomoeda, a Akoin, que deve acontecer já no mês que vem.
Em entrevista à Bloomberg, Jon Karas, presidente e cofundador da Akoin, explicou que ela será a moeda local em Akon City, mas a expectativa é que a criptomoeda seja adotada por todo o continente africano.
Inicialmente, informou Karas, 10% do estoque de moedas será ofertado publicamente, mas a quantidade pode variar dependendo da demanda. Outros 10% ficarão em posse de executivos, conselheiros e diretores da companhia.
Os três fundadores da Akoin — Akon, Karas e Lynn Liss, diretor operacional da companhia por trás da criptomoeda — serão proibidos de comercializar suas moedas por um período de seis meses e, passado esse prazo, poderão liberá-las de pouco em pouco.
— Nós estamos construindo um grande ecossistema — afirmou Karas. — Estamos nisso para o longo prazo.
A criptomoeda mais conhecida é o bitcoin, mas existem milhares de outras em circulação, seja para fins específicos ou para especulação. Por serem de fácil circulação, elas são indicadas como uma das soluções para a inclusão financeira de bilhões de pessoas que não têm acesso ao sistema bancário tradicional.
Entretanto, existem discussões sobre a forma de adotá-las: com a participação de bancos centrais, como as moedas nacionais, ou emitidas por companhias, como a Akoin. No ano passado, o
Facebook lançou o projeto libra, que pretendia se tornar uma criptomoeda global, mas a pressão de órgãos reguladores provocou a desistência de parceiros.
Na outra ponta, o governo chinês está testando uma versão digital oficial do yuan. O piloto está sendo rodado em quatro cidades, mirando a Olimpíada de Inverno de 2022, programada para Pequim, como o teste de fogo.
Atualmente, a maioria das transações financeiras já são eletrônicas, com transferências de créditos e débitos entre diferentes contas. A criptomoeda chinesa seria uma versão digital do dinheiro de papel, existindo apenas em carteiras digitais nos smartphones, mas com valor lastreado pelo governo.
A ideia por trás da Akoin surgiu de um episódio vivido por Akon numa viagem de Dacar a Paris. Chegando na capital francesa, o cantor tentou trocar francos CFA — moeda usada em Senegal e em outras ex-colônias francesas na África — por euros, mas teve o pedido recusado pelo operador.
— Eu pensei: como assim? — contou Akon, explicando que não teve tempo para converter francos CFA por euros antes de sair do Senegal e acabou ficando com os bolsos cheios do dinheiro sem ter onde gastar. — Isso realmente abriu os meus olhos. Catapultou minhas energias para dizer: nós precisamos ter nossa própria moeda. Não importa o que for necessário, vamos mudar isso.
A mudança pode estar prestes a começar, junto com o sonho de uma Wakanda senegalesa. O projeto da Akon City foi apresentado ano passado e, no início deste ano, o cantor recebeu do governo um terreno de 8 milhões de metros quadrados, a menos de uma hora do aeroporto internacional de Dacar, para dar início à cidade.
Na semana passada, o cantor anunciou já ter levantado US$ 6 bilhões em investimentos para a construção da cidade, algo em torno de R$ 32 bilhões. A primeira fase do projeto está prevista para ser concluída no fim de 2023, com ruas e estradas, hospital, shopping, residências, hotéis, delegacia, escola, tratamento de lixo e usina solar.