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Cachorros que farejam câncer oferecem novas opções de testes

Um labrador retriever costuma ter 90% de sucesso ao identificar o cheiro do câncer de ovário sobre amostras de tecido


	Labrador Retriever: 220 milhões células olfativas estão num focinho canino
 (Eduardo Millo/Flickr/CreativeCommons)

Labrador Retriever: 220 milhões células olfativas estão num focinho canino (Eduardo Millo/Flickr/CreativeCommons)

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Da Redação

Publicado em 19 de maio de 2014 às 15h07.

Boston - O que é melhor para detectar o câncer, um laboratório ou um Labrador retriever?

Observe os talentos de Tsunami, um animal de aspecto régio, olhos atentos e um abano entusiasta do rabo para seus treinadores amigos.

Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia dizem que ela costuma ter 90 por cento de sucesso ao identificar o cheiro do câncer de ovário sobre amostras de tecido, doença que não possui testes efetivos para a detecção precoce e que mata 14.000 americanas por ano.

Se for detectado no início, a taxa de sobrevivência em cinco anos é de mais de 90 por cento.

Graças às 220 milhões células olfativas presentes num focinho canino, frente a 50 milhões nos humanos, há tempos os cachorros ajudam em tarefas de busca e resgate.

Agora, uma crescente quantidade de evidências apoia a possibilidade de usar cachorros na clínica.

O maior estudo sobre câncer de próstata já feito descobriu que os cães podem detectar a doença com uma precisão de 98 por cento sobre amostras de urina, e há pelo menos um pedido sendo processado nos EUA para obter a aprovação de um kit que usa amostras de hálitos para que cachorros cheirem no canil para detectar câncer de mama.

“O nosso estudo demonstra que o uso de cachorros poderia representar uma oportunidade clínica real a futuro se for usado junto com as ferramentas comuns de diagnóstico”, disse Gian Luigi Taverna, autor da pesquisa sobre câncer de próstata, ontem na Associação Americana de Urologia em Boston.

“O nosso método padronizado é reproduzível, de baixo custo e não invasivo para os pacientes e para os cachorros”, disse por e-mail Taverna, diretor de patologias urológicas do Istituto Clinico Humanitas em Rozzano, Itália.

Compostos voláteis

Quando um cachorro fareja em busca de câncer, ele detecta químicos emitidos pelo tumor conhecidos como compostos orgânicos voláteis (VOCs).

Os VOCs foram encontrados no hálito de pacientes de câncer de pulmão e de cólon e na urina de pacientes de câncer de próstata.

Essas descobertas recentes aumentaram o interesse pela pesquisa sobre detecção de câncer por cachorros, incluindo esforços para desenvolver dispositivos que possam imitar o primoroso sistema olfativo do animal.

Dina Zaphiris, treinadora de cachorros reconhecida nacionalmente que trabalha com cães em estudos com financiamento federal para a detecção precoce de câncer em humanos, está liderando o pedido para que a Administração de Alimentos e Drogas dos EUA (FDA) habilite um sistema que utilizaria os talentos olfativos únicos de cachorros na assistência médica.

Em 2009, Zaphiris, treinadora de cachorros com 25 anos de carreira e uma longa lista de clientes celebridades e formação em Biologia, fundou a Situ Foundation, organização sem fins lucrativos que treina cães farejadores de câncer e realiza pesquisas na área.

Sua organização está no processo de apresentação de um pedido à FDA para a aprovação de um kit de detecção médica de odores para cachorros.

No seu sistema, os pacientes exalam por um tubo a um pano, que captura moléculas, ou VOCs, de uma virulência. Depois, cães treinados farejam os panos para detectar sua presença.

Câncer de ovário

Zaphiris não é a única que busca envolver cachorros na assistência médica. Na Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, pesquisadores estão estudando se cachorros podem identificar o câncer de ovário.

Caso positivo, seria um avanço para uma doença difícil, disse Cindy Otto, diretora do Penn Vet Working Dog Center.

O objetivo da pesquisa é algum dia produzir um novo sistema de varredura ou sensor eletrônico para detectar o odor distintivo do câncer de ovário, disse Otto.

A pesquisa é um esforço colaborativo entre químicos, médicos e físicos da universidade, com foco primário no desenvolvimento de um “nariz eletrônico” que replique a capacidade que um cachorro tem de farejar doenças.

Otto disse que não acha que o uso de cachorros em um cenário clínico possa ser prático.

Zaphiris disse que o sistema médico não deve esperar pelo desenvolvimento de uma tecnologia que possa detectar o câncer com a mesma exatidão que os cachorros.

O objetivo dela é abrir centros de detecção de odores com cachorros para que seus animais não estejam disponíveis apenas para a pesquisa.

“Se houver uma máquina tão precisa quanto um cachorro, eu digo que vá adiante”, disse Zaphiris. “É muito pouco prático esperar até as máquinas serem capazes de alcançar os cachorros”.

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