"Buraco de gravidade" no Oceano Índico: depressão geoidal intriga cientistas e revela impactos das dinâmicas internas da Terra no nível do mar
Repórter
Publicado em 26 de novembro de 2024 às 14h11.
No Oceano Índico, existe um fenômeno conhecido como "buraco de gravidade", onde a atração gravitacional da Terra é significativamente mais fraca, causando uma depressão no nível do mar que pode ultrapassar 106 metros.
Pesquisadores vinham buscando explicações para a origem desta anomalia por décadas, mas um estudo recente aponta uma possível resposta: plumas de magma ascendendo das profundezas do manto terrestre, um processo similar ao que forma vulcões.
Utilizando supercomputadores, cientistas recriaram a evolução da região ao longo de 140 milhões de anos, identificando conexões com a subducção do antigo Oceano Tétis.
A pesquisa, publicada na revista Geophysical Research Letters, oferece uma nova perspectiva sobre como estruturas internas da Terra moldam características da superfície.
Entenda abaixo a explicação para o fenômeno:
O desaparecimento do antigo Oceano Tétis, há aproximadamente 50 milhões de anos, está intimamente relacionado à formação da IOGL. Quando a placa tectônica indiana começou a migrar para o norte, parte do assoalho oceânico submergiu no manto terrestre.
Este processo criou áreas de baixa densidade no manto superior e médio, afetando a gravidade local.
Simulações realizadas por cientistas do Instituto Indiano de Ciência apontam que plumas de rochas quentes, originadas na Província Africana de Baixa Velocidade de Cisalhamento (LLSVP), desempenharam um papel crucial.
Essas plumas emergiram após o afundamento do antigo fundo oceânico, alterando a estrutura interna e a gravidade na região.
O destino da Anomalia Geoidal do Oceano Índico (IOGL), que se formou há cerca de 20 milhões de anos, permanece incerto.
Segundo cientistas, a continuidade ou eventual desaparecimento do fenômeno depende de mudanças nas anomalias de massa do interior da Terra, ligadas à dinâmica do manto terrestre.
O professor Huw Davies, da Universidade de Cardiff, classificou o estudo recente como “fascinante” e prevê que ele deve inspirar novas pesquisas. Já o geólogo Dr. Alessandro Forte, da Universidade da Flórida, expressou preocupações sobre as discrepâncias entre os geoides simulados e observados, além de questionar a abordagem dos modelos utilizados.
A pesquisadora Attreyee Ghosh, que liderou o estudo, reconhece limitações nos métodos de simulação, mas defende a consistência da explicação proposta para o fenômeno. Ela ressalta que a pesquisa oferece um modelo coerente para compreender as interações entre processos profundos do manto e a superfície terrestre.