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Brasileiros levam aplicativo de saúde a concurso da ONU

Sistema on-line de gestão de dados na área da saúde, desenvolvido por startup fundada por estudantes da USP, auxilia tomada de decisões de gestores hospitalares


	Saúde: software reúne e correlaciona indicadores – como o número de leitos disponíveis e o de internações agendadas em uma determinada instituição hospitalar
 (Michele Tantussi/Bloomberg)

Saúde: software reúne e correlaciona indicadores – como o número de leitos disponíveis e o de internações agendadas em uma determinada instituição hospitalar (Michele Tantussi/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 23 de setembro de 2013 às 10h20.

São Paulo – A Kidopi – uma empresa iniciante fundada por estudantes do curso de graduação em informática biomédica da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto – participou, em agosto, em Tallinn, na Estônia, da fase internacional do World Summit Award (WSA) 2013. Promovida anualmente pela Organização das Nações Unidas (ONU), a competição global visa selecionar e promover os melhores e mais inovadores conteúdos digitais existentes no mundo a partir de concursos nacionais, realizados em mais de 100 países.

A empresa, apoiada pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP, foi selecionada para participar da competição na categoria e-Health & Environment com o projeto “HealthBI”.

Sistema on-line de gestão inteligente de dados na área da saúde, o software reúne e correlaciona indicadores – como o número de leitos disponíveis e o de internações agendadas em uma determinada instituição hospitalar. A partir dessas correlações, fornece informações capazes de ajudar gestores a tomar decisões sobre atendimento, por exemplo.

“Por meio de modelagem matemática, aprendizado de máquina e outras técnicas computacionais, o sistema torna interoperáveis os dados gerados no dia a dia de uma instituição hospitalar e extrai conclusões que facilitam a tomada de decisão de gestores hospitalares”, disse Mário Sérgio Adolfi Júnior, diretor executivo da empresa e coordenador do projeto, à Agência FAPESP.

De acordo com o pesquisador, o sistema funciona como uma “caixa de ferramentas”, com diversos algoritmos computacionais (sequências de operações) direcionáveis para funções específicas, de acordo com as necessidades de uma unidade hospitalar. Entre elas, prever cirurgias com alta probabilidade de serem canceladas, por exemplo.

Como reúne as informações dos prontuários médicos de todos pacientes atendidos em um determinado hospital, o software pode comparar os últimos casos de cirurgias realizadas com sucesso com as que tiveram intercorrências. Ao fazer essa comparação, identifica padrões como, hipoteticamente, o fato de que a maioria dos pacientes cuja cirurgia foi cancelada estava com diabetes ou pressão arterial descontrolados.


Uma vez identificados pacientes de cirurgias agendadas com as mesmas características de risco de cancelamento, o sistema notifica o gestor para que os problemas sejam sanados antes de encaminhá-los ao centro cirúrgico.

“Esse tipo de informação é algo que, talvez, o gestor hospitalar sozinho não conseguiria ver ou levaria muito tempo para obter e que o sistema, por meio de ferramentas estatísticas, identifica rapidamente”, afirmou Adolfi.

“Isso possibilita aos hospitais economizar recursos humanos e financeiros – uma vez que não precisarão reservar um centro cirúrgico e direcionar uma equipe médica a um procedimento com grande risco de ser cancelado – e oferecer melhor atendimento aos pacientes, diminuindo o risco de apresentarem problemas durante a cirurgia”, avaliou.

Outras funções

Segundo o pesquisador, o sistema está sendo implantado em três hospitais privados, situados em Belo Horizonte (MG), São Paulo e em Ribeirão Preto, no nordeste paulista.

Além do controle do fluxo de cirurgias, de acordo com ele, o software pode ser aplicado para outras diversas situações hospitalares, como simulações de alocações de recursos financeiros.

O aplicativo consegue simular qual seria o impacto de um eventual investimento planejado por uma unidade hospitalar na área ambulatorial em comparação com a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por exemplo, em termos de melhoria de atendimento aos pacientes.

“Podemos programar o sistema para simular qual seria o impacto dessas decisões de investimento ou encontrar a melhor combinação para potencializar a alocação de recursos financeiros”, afirmou Adolfi.

Outra aplicação possível do sistema é o controle médico de urgências e emergências de municípios – aplicação para a qual o software foi desenvolvido inicialmente.


Implantado em fase-piloto na rede pública de saúde de Ribeirão Preto, o sistema permite aos municípios organizarem o fluxo de pacientes entre as instituições.

Os profissionais de saúde entram com login e senha específicos em um ponto de acesso nos hospitais ou unidades básicas de atendimento onde trabalham e fazem a solicitação de uma vaga em uma UTI, por exemplo.

Uma plataforma de gestão central organiza o fluxo de solicitações e encaminha uma notificação por celular, computador ou tablet para a instituição de saúde no município onde há leitos disponíveis, informando que receberá o paciente nas próximas horas.

O software – batizado de Sistema de Regulação Médica de Urgências e Emergências (Srue) – ganhou, em 2010, o Prêmio Ideia Saudável, instituído pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo para reconhecer e apoiar projetos inovadores que tragam benefícios aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). E estimulou os pesquisadores a desenvolver o HealthBI.

“Vimos que a coleta de dados de gestão e estruturação de acesso feitas pelo Srue apresentavam a oportunidade de colocarmos um pouco mais de inteligência nesses dados e começar a usar ferramentas computacionais para extrair informações deles, permitindo ter mais previsibilidade das ações”, disse Adolfi.

“A partir dessa constatação, fizemos um esforço pesado em pesquisa e desenvolvimento para criar essas ferramentas do HealthBI, que são bem mais complexas do que o Srue”, afirmou.

Diferenciais

De acordo com o pesquisador, já existem em outros países, como os Estados Unidos, sistemas de gestão inteligente na área de saúde, desenvolvidos também por empresas iniciantes – startups.


No Brasil, contudo, o sistema que criaram é, segundo ele, um dos únicos que conseguiu vencer as etapas de pesquisa e desenvolvimento e chegar ao mercado.

Um diferencial do HelthBI em relação aos outros softwares é que ele não é um sistema “prateleira” – como são designados sistemas computacionais fechados, que usam uma única solução para todos os problemas.

“Para serem efetivos, sistemas de data Science [campo interdisciplinar e emergente da computação, que reúne Estatística, Ciência da Computação, visualização de dados e Ciências Sociais] como o que criamos precisam realizar uma imersão no problema que pretendem atacar e utilizar ferramentas específicas para solucioná-lo”, disse Adolfi.

“Por isso, analisamos os principais problemas de um hospital in loco e encaixamos as ferramentas do sistema de acordo com as necessidades específicas da instituição”, afirmou.

Por meio de protocolos de comunicação, o software pode ser ligado diretamente ao sistema de coletas de dados já utilizado pela instituição hospitalar. E, a partir disso, extrair correlações que, muitas vezes, permaneciam ocultas para os gestores hospitalares.


“O grande problema da maioria dos sistemas hospitalares existentes hoje é que estão mais voltados para coletar informações – funcionando como um repositório de dados – do que para tratá-las e transformá-las em ferramentas de suporte para a tomada de decisão dos gestores”, disse.

Entrada no mercado

A Kidopi está instalada atualmente na incubadora de empresas de base tecnológica Supera, em Ribeirão Preto.

Além do PIPE, da FAPESP, também foi apoiada pelo Programa de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (RHAE), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). E foi selecionada para participar de programas de aceleração de negócios criados por empresas gestoras de investimentos em soluções com aplicações sociais.

“O apoio do Programa PIPE, da FAPESP, nos possibilitou desenvolver conhecimento técnico e científico em sistemas de gestão inteligente em saúde”, disse Adolfi.

“Já os programas de aceleração em negócios nos auxiliaram a avançar um pouco mais da linha da pesquisa e caminharmos em direção ao mercado”, avaliou.

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