Os pesquisadores de Mato Grosso do Sul estudam uma nova tecnologia de circuitos digitais (Clix)
Da Redação
Publicado em 3 de março de 2011 às 10h39.
São Paulo — Pesquisadores do Departamento de Engenharia Elétrica da Faculdade de Computação da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) começaram a ingressar em uma área até então dominada no Brasil por cientistas situados nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. No início de janeiro eles concluíram o desenvolvimento do primeiro circuito integrado projetado e implementado no Mato Grosso do Sul.
O chip criado pelos mato-grossenses pode ser utilizado em aparelhos eletrônicos variados, como computadores, celulares e tocadores de música digitais. O dispositivo usa uma tecnologia inédita para converter sinais analógicos em digitais e processá-los. Enquanto os chips atuais possuem dois níveis lógicos de tensão elétrica, usados para codificar, processar e armazenar sinais analógicos, o novo dispositivo é um conversor analógico digital que trabalha com múltiplos níveis lógicos. Em função disso, é bem menor e pode agregar mais funcionalidades do que um chip convencional.
“Essa tecnologia pode ser uma alternativa para a redução do tamanho e para a agregação de mais funções aos chips, que são duas das principais tendências na indústria de microeletrônica hoje”, disse Ricardo Ribeiro dos Santos, professor da Faculdade de Computação da UFMS.
Treinamento
Para desenvolver o novo dispositivo, pesquisadores da UFMS começaram a vir, nos últimos anos, a universidades e instituições de pesquisa em São Paulo, como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), para cursar doutorado e realizar treinamento em microeletrônica e em projetos de chips.
Após ganhar experiência na área, os pesquisadores iniciaram o projeto do desenvolvimento do dispositivo no Centro de Tecnologia em Informática (CTI) do Mato Grosso do Sul. O Brasil ainda não possui uma fábrica de chips que domine a tecnologia de produção de transistores de 350 nanômetros (bilionésima parte do metro). Por isso, ao terminar de projetar o dispositivo, os pesquisadores decidiram encaminhar o projeto à França para ser fabricado pela empresa Circuits Multi-Projets (CMP), que realiza a prototipagem e produz processadores em pequena quantidade.
Protótipos
No início de janeiro, a empresa francesa enviou aos pesquisadores um lote com oito unidades do dispositivo. Elas estão sendo testadas nos laboratórios da UFMS numa placa eletrônica de circuito impresso. “A proposta, com esse primeiro processador, está mais focada em demonstrar a viabilidade de se desenvolver um conversor analógico digital que atue em múltiplos níveis. Mas temos uma leva de outros chips que pretendemos prototipar baseados na tecnologia de lógica de múltiplos níveis”, disse Santos.
De acordo com o pesquisador, essa tecnologia, originada na década de 1960, ainda não é muito pesquisada no Brasil e até hoje não conseguiu emplacar no mercado de eletroeletrônicos. Os circuitos eletrônicos baseados na lógica binária, adotados pelos fabricantes de equipamentos, funcionaram muito bem até recentemente. Mas, nos últimos dez anos, começou-se a verificar que a lógica binária apresenta limitações para miniaturizar os processadores, que têm a demanda de se tornar cada vez mais ínfimos e imperceptíveis nos aparelhos eletrônicos.
“Os pesquisadores que atuam nessa área passaram a investigar várias alternativas para atingir esse objetivo, como outros tipos de materiais em vez do silício. Também passaram a olhar para outras áreas de estudo, como a física quântica. A lógica multiníveis seria outra via para projetar chips cada vez menores e com diversas funções”, afirmou Santos.