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Brasileiro vai pagar mais que europeu e japonês por TV digital

Indústria estima que conversor para a tecnologia digital custará cerca de R$ 800 e negocia incentivos fiscais com o governo

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h33.

Os brasileiros terão de desembolsar um valor bem mais alto que europeus e japoneses para terem acesso à TV digital. O conversor (set top box) que será responsável por permitir que os televisores analógicos possam captar o sinal digital transmitido pelas emissoras deverá custar algo em torno de 800 reais, segundo representantes da Philips e da Semp Toshiba, duas das empresas que deverão colocar no mercado o equipamento no final do ano. Durante reunião do fórum de TV digital, realizada na última segunda-feira em Brasília, chegou-se a aventar a que o aparelho custaria até 1.700 reais, possibilidade descartada por boa parte dos participantes. Na Europa, paga-se hoje pelo conversor entre 60 e 90 euros (153 a 230 reais), dependendo do país. Já os japoneses desenbolsam cerca de 75 dólares (143 reais).

O preço brasileiro também está bem acima do previsto pelo ministro Hélio Costa (Comunicações), de 100 dólares (191 reais). Uma das explicações dos fabricantes nacionais é tecnológica. "Teremos no país o melhor conversor do mundo", afirma Walter Duran, diretor de Tecnologia da Philips. "Obviamente que é impossível que seja o mais barato." De acordo com as normas definidas pelo governo federal, o set top box será equipado com um chip de última geração, o H264, capaz de receber sinais em alta definição. A norma favorece as emissoras de TV, que poderão, daqui a alguns anos, produzir programas com a qualidade necessária para exportá-los para qualquer país do mundo. "Poderemos ser produtores, e não consumidores, de conteúdo audivisual", afirma o professor Marcelo Zuffo, especialista em TV digital da Poli-USP.

Outras explicações da indústria para os preços altos são a falta de escala nos primeiros meses de produção do conversor e a necessidade de amortizar os investimentos realizados no desenvolvimento do equipamento. Com o passar do tempo, entretanto, a tendência é de que os chips fiquem mais baratos. "Acredito que o preço do conversor poderá cair 10% ao ano e até mais do que isso nos primeiros 12 meses de comercialização", diz Roberto Barbieri, diretor técnico da Semp Toshiba.

Cientes de que o preço de 800 reais ainda deve ser proibitivo para boa parte dos brasileiros, os fabricantes de conversores negociam com o governo incentivos fiscais para baratear a produção e também linhas de crédito para facilitar a aquisição dos aparelhos pelos consumidores. A lei 11.484/07, que estabeleceu incentivos para os investimentos em TV digital, não incluiu os conversores. Os benefícios se restringiram à construção de uma fábrica de chips no Brasil - o que não aconteceu até o momento - e ao desenvolvimento de equipamentos transmissores de sinais. Por esse motivo, é provável que todas as empresas que decidirem produzir o conversor no Brasil - em sua maioria fabricantes de televisores ou de componentes - deverão criar linhas em suas plantas na Zona Franca de Manaus, onde terão incentivos para importar peças e pagarão menos Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Sem interatividade

Para não atrasar o início das transmissões da TV digital, esperadas para dezembro, o mais provável é que os primeiros conversores colocados no mercado não estejam equipados com o Ginga, software que será a base para as funções de interatividade do equipamento. O Ginga está sendo desenvolvido por centros de pesquisa brasileiros, mas, segundo fabricantes, só terá sido testado e poderá ser acoplado ao conversor com a confiabilidade necessária para a comercialização em meados do próximo ano. O custo para a inclusão do Ginga no conversor ainda não está claro porque as normas técnicas de sua estrutura ainda não foram definidas. Para Takashi Tomi, pesquisador da diretoria de TV digital do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), a inclusão do Ginga elevaria o preço do conversor para cerca de 1.000 reais. Já Zuffo, da USP, acha que o custo de inclusão seria de apenas um ou dois dólares.

Sem o Ginga, a TV digital brasileira perderá um de seus atrativos: a interatividade. Em um primeiro momento, a interatividade permitiria ao telespectador, por exemplo, escolher o ângulo em que gostaria de assistir uma partida de futebol ou a cor da roupa de um ator da novela. No futuro, a interatividade evoluiria e incluiria também um canal de retorno. Dessa forma, além de escolher o que quer receber o telespectador também poderia enviar informações para a emissora de TV por meio de seu próprio aparelho. Isso seria útil, por exemplo, em um programa em que um dos participantes possa ser eliminado a partir de votação do público.

Sem a interatividade, a principal atração da TV digital será a melhor qualidade de imagem e som. Para aproveitar esse avanço, além do conversor, o consumidor brasileiro deverá possuir também um televisor capaz de exibir imagem e som de alta definição, como alguns modelos de plasma e LCD. Outra vantagem será a possibilidade de gravar programas dentro do conversor e assisti-los em horários diferentes. Todo o potencial da TV digital, entretanto, só poderá ser mensurado quando o governo oficializar as normas técnicas que vão caracterizar aparelhos receptores e transmissores. Por enquanto, o principal ponto de consenso entre fabricantes e pesquisadores é que será necessário reduzir os preços para popularizar a TV digital no Brasil. "Se os preços não caírem, em breve estaremos importando conversores da Ásia", alerta Zuffo, da USP.

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