antártida (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 1 de outubro de 2013 às 05h59.
Rio de Janeiro - O envio de 200 cientistas à Antártida em novembro representará o reinício da pesquisa biológica e meteorológica brasileira no continente, quase dois anos depois do incêndio que destruiu a base que o Brasil operava ali desde 1984.
A Marinha brasileira ainda não construiu a base definitiva que substituirá a Estação Antártica Comandante Ferraz, e, por isso, os pesquisadores trabalharão em contêineres provisórios que funcionarão como laboratórios e dormitórios.
"Conseguimos voltar a desenvolver 100% de nossas atividades em um tempo relativamente curto. As pesquisas não chegaram a paralisar totalmente e agora poderemos normalizá-las", disse à Agência Efe o geólogo Jefferson Simões, representante do Brasil no Comitê Científico de Pesquisa Antártica.
Um primeiro navio polar da Marinha zarpará no dia 6 de outubro rumo à Antártida com os contêineres e todo o material científico e logístico necessário para a manutenção da base provisória durante o próximo verão austral (de novembro de 2013 a março de 2014), quando as temperaturas mais amenas permitem as atividades.
A maioria dos cientistas viajará de avião a partir de novembro e permanecerá na base provisória dependendo das exigências de seus estudos, e outros irão em um segundo navio polar da Marinha.
Nos contêineres, dotados com laboratórios para química, meteorologia e aquários, poderão se alojar cerca de 80 pesquisadores, sem contar os militares e as pessoas que trabalharão na construção da nova estação. Os demais cientistas trabalharão nos navios polares.
"As cotas são limitadas porque teremos que dividir o espaço com o pessoal de manutenção, mas os módulos têm as acomodações necessárias para todos. Em termos de comodidade não é o melhor, mas será apenas este ano", assegura Simões, que é diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Apesar de os pesquisadores responsáveis pelos estudos na Antártida terem mantido suas atividades desde o incêndio de fevereiro de 2012, que deixou o Brasil sem base no continente branco, os cientistas não tinham voltado a pisar no gelo.
Alguns estudos foram realizados a partir de navios brasileiros e outros em universidades com os dados meteorológicos coletados pelos instrumentos que ainda funcionam na Antártida.
"Nenhum dos projetos parou totalmente e agora poderemos normalizar até os estudos que tinham mais dificuldades, que representam 16% do total. O uso dos contêineres nos permitirá recuperar o tempo perdido", explicou Simões.
"Retomaremos inicialmente os projetos essenciais, como os de medição de geleiras, controle do ambiente antártico e coleta de dados meteorológicos e climáticos", acrescentou o pesquisador.
Trata-se da 32ª edição da chamada Operação Antártica (Operantar), que a Marinha organiza anualmente para garantir a presença do Brasil na região.
Os participantes vão preparar o terreno onde será construída a nova estação na ilha do Rei George, a região da península antártica que abriga as bases de países como Chile, Argentina, Rússia e China.
"Para limpar a área da base incendiada e montar os módulos provisórios tivemos que deixar os pesquisadores afastados da Antártida por um verão. Agora normalizaremos as atividades", disse o capitão de guerra e mar da Marinha, Marcello Melo da Gama, responsável pelo Programa Antártico Brasileiro.
O oficial acrescentou que no verão passado a Marinha enviou cinco navios à Antártida, três a mais que o usual, para limpar o terreno e manter alguns cientistas embarcados trabalhando.
Agora o principal objetivo, segundo Gama, é a instalação das fundações para a nova base, que terá um custo de R$ 120 milhões e que a Marinha espera inaugurar no verão de 2015.
A instalação, projetada pela empresa Estúdio 41, terá 4.500 metros quadrados, 17 laboratórios, biblioteca, centro cirúrgico e uma área de alojamento com capacidade para 64 pessoas.