rafaelfernandezmacgregor (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 29 de junho de 2014 às 07h05.
Considerada a maior do mundo no campo de registro de domínios na web, a norte-americana Go Daddy estava até pouco tempo atrás sem uma atuação convincente no Brasil. A história começou a mudar apenas do final do ano passado para cá, quando a companhia iniciou oficialmente suas atividades no país, com site e serviço localizados em português brasileiro e ambição de crescer bastante aqui dentro, focando especialmente nos pequenos negócios.
Um dos responsáveis por gerenciar a atuação da empresa em território nacional e latino-americano é o mexicano Rafael Fernández MacGregor. Ex-funcionário da Microsoft e vice-presidente para a região latina na Go Daddy, o executivo conversou com INFO para falar um pouco dos planos e das impressões da companhia norte-americana no Brasil. E a conversa, que ainda envolveu Marco Civil e domínios personalizados, você confere a seguir.
A chegada da Go Daddy no Brasil é relativamente recente, não? Quais são as expectativas da empresa agora que entrou de vez no mercado nacional?
Nós começamos no final do ano passado, mas as atividades na mídia só foram iniciadas em março. Focamos em atender pequenas e médias empresas, embora tenhamos uma definição que tende a ser menor do que as mais tradicionais, usadas por outras empresas de tecnologia. Elas costumam dizer que pequenos negócios são aqueles com 20 ou 30 funcionários. Mas a maioria das pequenas empresas que atendemos tem entre 1 e 6 empregados o que é a real definição delas para nós. Mas voltando: a missão da Go Daddy é fazer esses negócios menores serem mais eficientes do que são, ajudando-os a usar o poder da internet. Vemos o Brasil como maior e mais importante mercado da América Latina, com adoção de tecnologia mais acentuada do que no resto da região. Então temos expectativas altas para os países latinos e particularmente para cá. Há pequenos negócios por aqui que têm basicamente as mesmas características: os donos entendem o que a internet pode trazer de benéfico, mas tendem a pensar que essas tecnologias estão além do alcance e queremos mostrar que não é bem assim.
Mas antes mesmo de começar a atuar de vez por aqui, vocês já tinham clientes brasileiros, não? Quantos, exatamente?
Sim, mas não liberamos os números das operações regionais. O que posso dizer é que nós temos clientes por aqui mais por virtual spillover [efeitos de uma atividade que acabam afetando mesmo os que não estão diretamente envolvidos]. Somos os maiores registrantes de domínios no mundo, e também um dos maiores serviços de hospedagem. Por causa disso, conseguimos repercussão nos Estados Unidos, e há clientes que chegaram até nós talvez por isso. O que fizemos em dezembro, então, foi localizar nossos produtos para o português brasileiro, além de disponibilizar um care center nacional e telefones para suporte ao cliente.
E por que iniciar as operações no Brasil só agora?
Acho que, no caso da Go Daddy, é basicamente por causa da mudança, com Blake Irving como CEO. Ele começou no cargo no início do ano passado, e sempre foi muito focado em tecnologia e produtos, que precisam ser espalhados globalmente. Ele viu na empresa, que está em um nicho onde poucos estão, essa capacidade de expansão. Há, provavelmente, pontos que muitas outras empresas veem na América Latina, que as incentivam a entrar com suas tecnologias na região. Então certas coisas parecem estar convergindo, tornando aqui o lugar certo para a adoção dessas novidades, que foram primeiramente adotadas por grandes empresas, depois pelas médias. E para ver a adoção delas por companhias menores, normalmente é preciso guiar os usuários cuidadosamente, entender o que eles estão tentando fazer e depois explicar as opções que eles têm e é nisso que nós focamos e achamos que somos bons.
Você disse que já veio ao Brasil pelo menos umas vinte vezes. Nessas passagens, que diferentes você viu em relação a outros países nos quais a Go Daddy atua?
Acho que todo país é diferente e têm suas políticas específicas, cultura, um jeito pelo qual as pessoas preferem fazer as coisas. E o Brasil sempre foi bem seguro na forma como quer fazer tudo na web vide o Marco Civil da Internet, que é uma forma de expressar isso e mostrar que o país não quer necessariamente seguir uma tendência internacional. Quando a Go Daddy planeja entrar em um mercado, nós passamos bastante tempo tentando entender as peculiaridades do local, como a própria infraestrutura para as tecnologias. Então planejamos de acordo com essas funcionalidades específicas. Em relação ao Marco, na minha interpretação, o Brasil basicamente reconheceu o acesso à internet como uma parte fundamental da estrutura, quase um direito e acho que muitos países ainda vão começar a fazer isso. Então sim, por essas e outras, vemos diferentes cruciais na forma como o Brasil adota as tecnologias.
Já que mencionou essa análise das regiões em que vocês atuam, o que viu de interessante nos concorrentes da empresa por aqui?
Há várias companhias que fazem parte do que fazemos, mas queremos pensar que nosso foco nos pequenos negócios é único. Para exemplificar: a maior parte de outras empresas vê o customer care como um custo, algo a ser minimizado. Já nós enxergamos ali uma oportunidade de entender o cliente, o que ele está tentando fazer. Então em vez de cortar gastos, nós os aumentamos, já que na internet e nos computadores, tudo pode ser difícil da primeira vez. Digamos que eu queira formatar um documento no Word pela primeira vez. É bem provável que eu precise de ajuda, e talvez mais de uma vez. Mas pergunte várias que isso logo vai se tornar fácil. Escolher um nome para um domínio, criar um e-mail com esse nome, fazer um site que tenha a identidade da pequena empresa são todas ações que exigem ajuda na primeira vez. Mas uma vez que você consegue essa ajuda, isso acaba ficando descomplicado.
Então qual deve ser o principal obstáculo para vocês por aqui?
Acho que o competidor chave que encaramos por aqui é o não uso, as pequenas empresas que acham a internet desnecessária para os negócios ou que pensam nela como algo além do alcance, em termos de complexidade ou custo. Mesmo chefes de empresas sofisticadas, tecnologicamente avançadas, com que falei chegaram a me dizer que não souberam responder a quem recorrer na hora de criar um website para a marca. Constituir um site na América Latina normalmente envolve chegar ao amigo de um amigo de um amigo. Você não sabe quanto tempo vai levar, quanto vai custar ou se você vai gostar ou não. É quase uma ciência obscura. E quando você coloca a página no ar, não sabe quanto vai custar para manter. O que acontece se for preciso mudar essa foto, esse telefone? Terei que ligar para um rapaz que cobra caro e pedir para ele vir até e fazer a mágica dele? Pode ser intimidador para pequenas empresas e é essa complexidade que queremos pegar. Por isso que a competição maior é mesmo o não uso na América Latina.
Por fim, saindo um pouco dessa parte inicial das operações da empresa, tivemos uma conversa recente com o ICANN para falar de novos gTLDs, os domínios personalizados, já que o Brasil teve seu primeiro registrado no começo de maio. Como a Go Daddy está lidando com esse considerável aumento na oferta de domínios?
Vemos como algo muito bom para a internet no geral. A primeira coisa que um cliente quer, seja ele um indivíduo ou uma pequena empresa pensando em estabelecer uma identidade na web, é um nome memorável. Ou seja, um nome que seja fácil de lembrar, que identificará melhor o que você faz. E como só tínhamos alguns poucos gTLDs, as grandes ideias para nomes já estavam tomadas. Com esses novos, a possibilidade e capacidade de se criar um nome memorável aumentam. Você pode não ter um cristiano.com, mas pode ter um cristiano.guru, por exemplo. Estamos por dentro dessa expansão, e nós, como registrantes e serviço de hospedagem, vemos como algo benéfico para todos.